Vai ser sempre assim?
Leio notícia de que vem aí o remake da novela Gabriela, sucesso com Sônia Braga exibido em 1975, quando eu estava na flor dos meus 20 anos.
Bateu uma saudade melancólica, logo alimentada pela notícia seguinte, sobre as cascatas de dinheiro do senhor Cachoeira.Engraçada essa relação freudiana dos políticos brasileiros com cachoeiras que deságuam aos borbotões no mar da corrupção na nossa história recente. Lembram da cascata da casa da Dinda paga com dinheiro que jorrava no caixa 2 do Collor? Pois é...
Vejo, hoje, o Fernando imponentemente sentado na primeira fila, um dos destaques do Conselho de Ética (?) do Senado. Isso deve dar ao Demóstenes a tranquilidade de pensar entre uma insônia e outra: deixa a água rolar. Afinal, ela corre mesmo é pro mar.
E como corre.
O Brasil nunca viu tanta notícia de tanto dinheiro circulando em malas, cuecas, pacotes, verbas, salários extras, horas e eleitores bestas... O Primeiro Mundo atolado na crise e, por aqui, milhões, bilhões voando pra todo lado.
Antigamente havia negócios da China. Continua havendo, mas o buraco, lá, é mais
Por aqui, são outras histórias. À época da ditadura tivemos nesta terra em que se licitando tudo dá as obras do Brasil grande dos generais. Por isso, o país que ninguém segurava inventou o DNER, hoje Dnit, que se especializou em transas amazônicas, pontes sobre o mar, estradas de asfalto à base de borra de café, ferrovias que perderam o Norte e nunca chegaram ao Sul.
Ladrão do erário adora obra. Espertalhões (pra não dizer outra coisa) adoram DNERs e Dnits. É só conferir quem os dirigiu nas últimas décadas...
Mas, naqueles tempos da mordaça, a turma estava ainda aprendendo. Hoje, enfim, parece que chegamos ao Primeiro Mundão da corrupção consignada...
De uma só tacada garantimos dois dos maiores eventos obrais da década: A Copa do Mundo e a Olimpíada. Haja pé na bunda para entrarmos, todos, no mesmo ritmo.
Enquanto isso, no mundo real em que vivemos nós, os comuns mortais, a Saúde é o que se sofre, o Transporte é o que se vê, a Segurança é o que se teme, a Educação é o que (não) se sabe. Mas, em compensação, teremos estádios de Primeiro Mundo, construídos a toque de caixa 2 em Cuiabá e Natal, além de outras praças onde se pratica o melhor futebol do planeta, depois dos seis ou sete países que estão à nossa frente no ranking da FIFA.
Fiquei pensando em tudo isso enquanto assistia à partida entre Brasil e México, no último domingo. Eu havia visto o jogo anterior, contra os EUA, e caí no conto do Galvão Bueno.
Aliás, se um dia eu montar uma empresa para vender ilusões, o Galvão vai ser meu gerente geral. Galvão é fenômeno maior que três Ronaldos somados: Nazário, Gaúcho e Cristiano. Ele consegue narrar, por duas horas, uma emoção que ninguém vê, seja num jogo de futebol, numa corrida de Fórmula I e, agora, até em luta de UFC.
Nada acontecendo e ele lá, se esgoelando: Brrrrrrraasil, zil, zil, Felipe Maaaassa, Bruno Seeeeeena, Anderson Siiiiiiilva!!!
Galvão é um fenômeno religioso. Ele narra, a gente não vê, e acredita. Pura fé. Nele se realiza a síntese de um progresso, esse sim, real e concreto: o da Publicidade. Na arte de vender ilusões estamos, com certeza, entre os melhores do mundo. Hoje, graças ao talento dos nossos publicitários, ilusões e fantasias cresceram muito além de qualquer realidade. Pode-se vender qualquer coisa, até (ou principalmente) políticos, a qualquer um.
Contrate um bom marqueteiro e os Malufs estarão eleitos, ad infinitum. Ponha o peso da mídia em campo e qualquer Michel Teló vira fenômeno global.
E assim caminha a des-humanidade...
Mas junho chegou, enfim. Começo a trabalhar pra mim. Até maio, segundo o impostômetro da Avenida Paulista, toda a minha renda foi pra abastecer o dinheiroduto dos Cachoeiras. Agora é nóis, mano! Uai!!!
Acorda, Eduardo, que esse pessoal não dorme em serviço. Já estão preparando outra eleição pra você votar. Vai lá, cidadão, exercer sua cidadania. Escolhe um, entre aqueles que eles escolheram pra você ter a sensação de que faz parte do jogo.
Bate em mim o cansaço do tempo. Meus cabelos grisalhos lembram-me que Sônia Braga é, hoje, uma respeitável senhora...
Ligo a TV e constato: Gabrielas, como ilusões, não envelhecem. Vem aí a Juliana Paes, assim como o Brasil, a nos adormecer cantando:
“Eu nasci assim, eu cresci assim, eu sou mesmo assim, vou ser sempre assim...”.
Eduard
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