A burrice está na escola.
Célio H. Guimarães
Rubem Alves é um educador que tem raiva das escolas e dos professores. Sabem por quê? Porque tem a convicção de que as escolas não gostam das crianças. Explica: “Parece que as escolas são máquinas de moer carne: numa extremidade entram as crianças com suas fantasias e seus brinquedos. Na outra saem rolos de carne moída, prontos para o consumo, formados em adultos, produtivos”.
E une-se a Fernando Pessoa para proclamar que tudo leva a crer que “a transição da infância para a condição adulta é a transição da inteligência para a burrice”.
Rubem sabe o que diz. Passou a vida ensinando e observando o comportamento humano. Hoje, aos 70 anos, ex-pastor evangélico, psicanalista, professor inativo da Unicamp, poeta, cronista e escritor, está convencido de que deveríamos prestar mais atenção nas crianças.
E vale-se da “loucura poética” de Adélia Prado para dar expressão à sua raiva: “Escola é uma coisa sarnenta; fosse terrorista, raptava era diretor de escola e dentro de três dias amarrava no formigueiro, se não aceitasse minhas condições. Quando acabarem as escolas quero nascer outra vez”.
Dia desses, Rubem Alves esteve em Curitiba. Deu entrevista no “Aqui entre Nós”, da TV Educativa, e brilhou como sempre. Com a simplicidade e simpatia dos sábios. Lamentou que não se ensine às crianças o que elas querem saber, mas o que nós, os adultos, queremos que elas saibam.
De sua experiência pessoal, ele já havia falado em bonita crônica, presente em Cenas da Vida, da Papirus Editora, já na 9.ª edição: “De todos os professores que tive, só me lembro com alegria de um professor de literatura que não dava provas e passava todo mundo. Mas ele falava sobre literatura com tal paixão que era impossível não ficar contagiado”.
E acrescentou: “Não sei quantas horas gastei estudando análise sintática. Mas não tenho a menor idéia da sua utilidade. Se me disserem que é para falar e escrever português melhor eu contesto. Eu aprendi a escrever lendo e escrevendo”.
Somos dois, Rubem, sem a pretensão de comparar-me a você. Tanto que, por desprezar as regras, costumo dizer que escrevo de ouvido.
Igualmente não tenho a menor idéia do por-quê aprender-se, com dificuldade extrema, sem que se pretenda vir a ser matemático, engenheiro, arquiteto, economista ou assemelhado, álgebra, logaritmo, regra de três, máximo divisor comum, equação de segundo grau e coisas como tais.
Como diz o Rubem, ensinam-nos a manipular a ferramenta, mas não nos dizem para que ela serve.
Com absoluta razão, ele também acha que o problema da educação no Brasil não é só falta de recursos. Os recursos, por certo, inexistem, mas mesmo que existissem não tornariam as escolas inteligentes, porque “computadores, satélites, parabólicas e televisões não substituem o cérebro”.
E arremata: “Panelas novas não transformam um cozinheiro ruim num cozinheiro bom. Cozinheiro não se faz com panelas, muito embora as panelas sejam indispensáveis”.
Pense nisso, leitor.
Por fim, digo eu: é preciso salvar as nossas crianças antes que elas sejam destruídas pelas escolas – que hoje nem escolas são mais. Hoje, como se sabe, são indústrias do ensino.
segunda-feira, 8 de outubro de 2012
A BURRICE ESTÁ NA ESCOLA.
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Ola,
ResponderExcluirTemos sim que refletir sobre o quanto nós, educadores, somos responsáveis pela 'burrice' (falsa consciência).
Sempre acreditei e lutei por uma transformação (e não reprodução) por considerar difícil e possivel.
Mas, confesso (um desabafo) estou desesperançada.
A inconsciência, a fraqueza de certos docentes está presente até no ensino superior.
Ai me pergunto (e me angustio), como formar educadores (transformadores) se aqueles que os formam estão fracos, humilhados ?
Gostaria que vocês me ajudassem a ter esperança na deseperança
abraços
Maria Regina
“Ninguém educa ninguém; ninguém se educa sozinho os homens se educam em comunhão”. Paulo Freire
É realmente desesperançoso perceber que estamos cercados de pessoas que não querem mudar ou fazer algo pela mudança, mas, na realidade, o maior problema é que as coisas boas não são noticiadas, não repercutem tanto quanto as mazelas.
ResponderExcluirPor que será que o exemplo da Escola da Ponte ainda não foi seguido em toda a Europa???
É em exemplos como o do Prof José Pacheco que temos que nos agarrar. (http://www.youtube.com/watch?v=reOEnY8jkjo)
E por aqui vamos nos fortalecendo uns aos outros, compartilhando as boas ideias, movimento as novas ações.
O homem que dividiu a história só precisou de 12 apóstolos para auxiliá-lo.
Luís Augusto
Convém notar que o texto foi escrito pelo colunista Célio Heitor Guimarães, há uns 10 anos.
ResponderExcluirFico a observar como somos críticos e como nos sentimos incomodados com pensamentos que vêm de fora, quando os identificamos. Mas e os que estão dentro de nós sem que consigamos identificá-los ?
A polêmica pode ter este objetivo: fazer-nos pensarmos, observarmos. Antes o nosso mundo interno !!!
Luís
Olá Luis:
ResponderExcluirPenso que a reflexão que nos traz esse texto é exatamente essa que você aponta. E devolvo a pergunta a todos, inclusive ao Rubem Alves: Por acaso não somos nós (professores, diretores, coordenadores) essa escola burra de hoje? E se temos consciência disso, o que nos impede de mudá-la para que seja inteligente?????
Abraços
Regina