A TRAJETÓRIA DO CÔNEGO FRANCISCO DE PAULA VICTOR 2
Para falarmos sobre o cônego Francisco de Paula Victor, vamos fazer uma viagem no tempo e no espaço. Revendo Campanha ainda em seus primórdios de construção, onde tudo era precário, à luz de lampião, aceso com o braseiro da Rua do Fogo, deixado pelos tropeiros. As ruas sem calçamento; época em que o movimento de escravos era grande, na pequena cidade sul mineira e cujo preconceito prevalecia naquela comunidade e porque não dizer por várias partes do mundo; pois a raça negra por seu porte forte era vista apenas como seres ao trabalho braçal e a escravatura prevalecia no Brasil.
Foi em um período assim há 184anos, quando residia no Brasil o seu primeiro Imperador D.Pedro Primeiro Iº, em que as leis, do trono Português, bem rígidas, ajudavam e obrigavam os nossos desumanos senhores de escravos a maltratarem e, às vezes, matarem mesmo pela tortura, àqueles pobres escravos. O negro não tinha direito a coisa alguma; nem de se alimentar (comer os restos que sobravam nas mesas dos senhores o surgimento da crendice do leite com manga faz mal) e vestir-se (roupas de saco). Ler nem pensar, em pleno cativeiro atroz!
É neste clima que nascia na madrugada de 12 de abril de 1827, na fazenda da senhora Mariana de Santa Bárbara Ferreira (abolicionista) município da Campanha, àquele espírito missionário que iria marcar uma época pela sua humildade e caridade, filho da escrava Lourença Justiniana de Jesus, o nosso conhecido Francisco de Paula Victor.
Seu nome veio coroado de santos: Francisco de Paula dado como promessa e Victor santo do dia. Já nasceu fora e acima das coisas da Terra. Em seu nome não levou partícula nem de pai e nem de mãe. Nasceu livre, viveu humilde e tudo venceu.
Batizou-se no dia 20 de abril de 1827 tendo como madrinha Mariana de Santa Bárbara que foi muito importante em sua vida.
Pouco se sabe de sua infância, viveu na antiga Rua Direita, onde foi criado.
Menino troncudo e forte. Robusto de corpo e mais robusto de espírito. De semblante puro, olhar sereno e firme, lábios volumosos, rosto largo e nariz chato, cútis preta, dentes claros e bonitos, sorriso jovial e casto, de andar equilibrado e gestos moderados, dócil e prestativo, não sabendo negar nada; sob os maternais cuidados de sua nobre madrinha, aprendendo o ofício de alfaiate e a ler, estudou latim e música.
DA TESOURA AO SEMINÁRIO:
Dotado de uma vigorosa inteligência e fiel memória, assíduo, atencioso e de bom comportamento; apesar de sua modéstia e de sua notável capacidade e vontade decidida, não lhe foi possível ocultar o seu grande e reconhecido valor. Observado pelos mestres tornou-se alvo de admiração de todos.
Quando trabalhava na alfaiataria com Sr.Inácio Barbudo, que por sinal competente alfaiate, resolveu manifestar, ao mestre, o seu desejo de ser padre. Nestas alturas, o mestre Barbudo soltou uma gostosa gargalhada e disse:
-Ah! Rapaz, que pretensão é sua de ser padre? Só essa que faltava! Por ventura você ignora sua situação de negro? Francisco, o dia que você for padre, as minhas galinhas estarão todas com dentes!
É bom lembrar que naquela época ter um filho padre, era a maior honra e glória de uma família. Um jovem seminarista, pelo simples fato de ser seminarista, já era tratado por todos, com certa distinção, que não era dispensada aos demais estudantes.
Dona Mariana de fé inabalável, piedade esclarecida e realmente caridosa, não poupou esforços em colocar o seu querido afilhado no seminário. Em visita a Campanha, Dom Antônio Ferreira Viçoso, 9º Bispo de Mariana foi apresentado pelo Vigário da Campanha – Cônego Antônio Felipe de Araújo, D.Mariana e seu afilhado Francisco de Paula Victor, futuro candidato ao sacerdócio. Dom Viçoso, psicólogo e inteligente, recebeu de braços abertos, o estudante negro para o seminário, no qual tomou todas as providências no sentido de acolher e colher aquela boa planta para o seu jardim.
Sua madrinha, que jamais faltava, na sua generosidade, fez doação de seu patrimônio, para estudar, aquele seu afilhado tão querido, no seminário de Mariana “Caraça”-“Ninho dos sábios” mediante a concessão de terras de cultura, em sua fazenda da “Conquista” em Campanha.
SEMINÁRIO, HUMILHAÇÕES E A VITÓRIA:
Foi aí que Francisco recebeu inúmeras humilhações.
Ao saberem os colegas seminaristas que o negro era como eles, um estudante e candidato ao sacerdócio, ficaram atônitos, causando desagrado aos estudantes orgulhosos, que se sentiram deprimidos por terem que conviver ao lado de um negro e comentavam uns com os outros; - como é possível ser um padre, um ministro de Deus, um negro tão feio, um tipo tão hediondo? - Lugar de negro é na senzala e no garimpo e não no nosso dormitório.
Foi necessária a intervenção do Bispo Dom Viçoso para acalmar os ânimos dos exaltados seminaristas, dizendo que aquele negro possuía alma alvíssima.
Indignados queriam que ele fosse trabalhar na cozinha ou na cocheira. Começaram a menosprezá-lo a reduzi-lo a mero criado como: Negro, escove as minhas botas. –Beiçudo, limpe a minha roupa. – Macaco, arranje essa cama.
Sem nenhuma relutância, humildemente dava execução às recomendações recebidas. Essa docilidade lhe valeu, logo mais, o afeto e o carinho de todos os seminaristas, que passaram a considerá-lo, dedicando-lhe respeito e atenção. Ninguém mais se envergonhava da sua companhia.
Assim chega o grande dia 14 de junho de 1851, aos 24 anos, Francisco de Paula Victor ordena-se padre. Realizava seu grande sonho, vencendo os preconceitos dos orgulhosos, ignorantes e cegos de espírito; o seu próprio orgulho, com a humildade que lhe foi peculiar. Através de lágrimas e choro convulsivo.
PADRE VICTOR EM CAMPANHA:
Após esse dia de festa merecedora, Padre Victor vem a Campanha, onde é recebido com todas as honras, banda de música, autoridades, escolas, pessoas da cidade e lugares vizinhos. Fogos e potentes bombas estrugiram-se no ar, palmas, vivas, cantos de vitória ouviram-se nesse momento de alegria intensa. Pela Rua Direita um grande número de cavaleiros acompanhava o robusto sacerdote, cavalgando um belo cavalo, na frente de todos os demais cavaleiros até a matriz. Ali se ouviram entusiastas discursos, preces e Benção do Santíssimo.
No dia seguinte, alvorada com banda de música, fogos e repiques de sinos. Chega a hora da primeira e solene missa cantada pelo jovem negro sacerdote campanhense, com olhos marulhados, pela grande emoção que se apoderava do coração.
Com sua voz forte, sonora e suave provocou emoção nos corações daqueles que ali participavam de tão importante momento.
Terminando a missa, veio o almoço com todos os requintes e quando as pessoas foram descansar Padre Victor tomou o seu chapéu e foi rever seu antigo mestre de alfaiate, que não se cabia em si de felicidade. Padre Victor abraçou-o, deu-lhe a bênção e depois pediu licença ao seu mestre para ir até o quintal, para verificar os dentes das suas galinhas!!! O Sr.Inácio Barbudo disparou em choro convulsivo, pedindo perdão.
Padre Vitor acrescentou: A minha intenção era fazer-lhe uma demonstração do grande e infinito poder de Deus. Para que juntos víssimos que para Deus não existe o impossível.
MARIANA:
Permaneceu quase um ano em Mariana sendo nomeado Coadjutor de Mariana, por ser condutor de almas, daí recebeu a Carta Imperial apontando-o para vigário de Três Pontas e confirmada pelo Sr.Bispo Diocesano em 18 de junho de 1852.
A CAMINHO DE TRES PONTAS
Parte o Padre Victor de Mariana a Três Pontas, enfrentando uma viagem de várias léguas e de penosa jornada a cavalo. No caminho encontraram com uma boiada e mais uma vez Padre Victor é humilhado pelo boiadeiro, que fez vários insultos ao mesmo, achando-o que ele havia assustado a boiada que se enveredou mato a fora. Padre Victor apenas orou e a boiada retornou ao caminho. Aí que o boiadeiro percebeu que ele era um padre e veio pedir desculpas. Ninguém viu, porém de seus olhos rolaram duas torrentes de lágrimas...
Ao chegar a Paróquia de Nossa Senhora da Ajuda de Três Pontas, onde ele viveu 53 anos de ininterrupta atividade, houve, no momento, algumas decepções, pelo fato dele ser negro, o que o Padre Victor, com galhardia soube suplantar, pelo seu coração bom e generoso.
Assumindo a direção espiritual dos trespontanos, sentiu logo que não lhe bastava a prática religiosa, era necessário dar instrução ao povo. E, sem auxílio algum dos poderes públicos fundou o Colégio Sagrada Família, que em pouco tempo, adquiriu conceito igual ao colégio de Caraça, fundado na época do Império pelos padres portugueses da Congregação da Missão de São Vicente de Paulo. Aí muitos comiam e estudavam de graça.
No período de 30 anos, Padre Victor foi Diretor e professor deste Colégio e teve como aluno o Bispo Diocesano da Campanha Dom João de Almeida Ferrão e muitos outros que se tornaram ilustres do saber.
ACONTECIMENTOS DA VIDA DO CÔNEGO VICTOR:
1)Sua residência era um verdadeiro hotel, principalmente dos pobres, que ali dormiam e se refaziam, restabelecendo suas condições físicas e espirituais. Muitos leprosos foram por ali hospedados e tratados com dignidade.
2)Vivia de esmolas e dando esmolas. Tornou-se um grande endividado, sem esperança de poder pagar. Nessa parte, sofreu calúnia de mau pagador, financista, relaxado e até mesmo de esbanjador. Foi chamado pelo Bispo para dar as explicações e ao chegar à residência episcopal, ao entrar pendurou o chapéu numa parede, onde não havia cabide, deixando o bispo impressionado.
3) Concluindo o jeito que tinha era mudar-se, daí teve uma inesperada surpresa.
4)Promovia bailes da juventude em sua residência, para impedir os bailes solitários da época. Quando era meia-noite, saia na porta de seu quarto e todo mundo já pedia a bênção e ia embora.
5)Ana Rosa que trabalhava na casa do Padre Victor disse-lhe: - Vigário, hoje não há nada para o jantar. Ele replicou:- Não se preocupe, Deus dará. Estende a toalha, faça como de costume e, pelo menos nós sentaremos para rezar.
Uma senhora chamou a neta e mandou que ela levasse uma sopeira com quiabo, angu e galinha para seu compadre. A menina se atrapalhou e levou para o Cônego Victor. Quando ele recebeu, chamou Ana Rosa e disse-lhe: Vê como Deus é bom, não disse que Ele daria?
6)Troca do nome da Fazenda Morro Grande para Fazenda Cônego Victor.
Monte Tabor, onde C.Victor caiu da charrete e não se machucou, aí foi plantada uma cruz pelo C.Victor, em 1904, que ficou ao relento 64 anos, sem se apodrecer, tomando sol e chuva. O novo proprietário Dário Botrel de Figueiredo mandou construir uma capela, em 1967, em 22 dias e lá colocou a cruz.
7)Satanás na Fazenda Pitangueira; D.Cândida Gouveia
A) Por cima do telhado ruídos e gargalhadas. Nervosismo entre os familiares, briga dos animais, chiqueiro arrombado, gado fugindo para invadir lavoura, pulo de burro e cavalo, cavaleiros se machucando. Os negócios mal.
B) Vá ao pasto ver o seu gado morto.
C) Costurando, jogam-lha uma pedra que veio atingir a cabeça.
D) Fazendo almoço ouviu um rumor no quintal e foi lá ver. Lá ouviu a voz estridente: Vai ver teu almoço como está? As panelas com estrume de vaca, porco e galinha.
Chamaram o padre para benzer e qual não foi sua surpresa, quando o olhou seus paramentos: caixinha de hóstias, vidro com vinho, água benta e ritual, todos vazios.
Com esta resolveram chamar o Padre Victor. Ouviu-se por cima da casa: Não, não, não!
Não tragam aquele negro beiçudo aqui, aquele vai me tocar!
Padre Victor fez o exorcismo e nunca mais o satanás voltou.
8) Moça possuída –(Antes, foi chamado um padre tinha sido desmascarado). Depois como Padre Victor encontrava-se doente não pode ir e fez orações e benzeu uma vara aspergiu-a com água benta e mandou que descessem à vara no possesso e disse:
Cuidado! Não vacilem!Tenham confiança absoluta no poder de Deus. Eu também não sou nada. Deus é tudo! O resultado foi como não podia deixar de ser. O obsessor saiu vomitando palavrões e não mais voltou.
Em ambos os casos nos mostram a Autoridade Moral deste Espírito de Escol.
9) Princesa Isabel vindo em visita a Campanha tomou ciência do trabalho do Padre Victor acelerou a Lei do Ventre Livre.
ENFERMIDADE E DESENCARNAÇÃO:
1903 - Saúde já precária vai a Poços de Caldas fazer tratamento nas águas térmicas.
23/setembro/1905 – desencarna com 78 anos. Após 3 dias de sua morte, em procissão, no esquife do Senhor, andou pela cidade até a Igreja, onde está enterrado e de seu corpo saia perfume.
CASOS PÓS MORTE:
1) Padre Victor aparece para fazer a encomenda de um rapaz da roça.
2) Quadro para moldurar foto do Padre Victor. Casal Benedito Moreira e Benedita de Melo Moreira residentes a Rua Des. João Bráulio, 208
3) Troca de um revolver por um saco de arroz.
CANONIZAÇÃO:
Para sua beatificação estão paltando nas suas virtudes, humildade, modéstia, pureza de sentimentos.
NA ERRATICIDADE:
Espírito de Escol que é, continua nas atividades do bem, amparando e abençoando com sua providencial assistência àqueles que necessitam. Através do médium Raul Teixeira tem psicografado livros e mensagens esclarecendo e compreendendo as fragilidades humanas, exortando ao trabalho pessoal em doces ensinamentos.
Percebendo a vida como contínuo convite, as reflexões constantes, no livro “Vida e Mensagem” visa despertar através do entendimento das situações, desafortunadas ou esplendidas o desabrochar do Espírito Imortal.
E no livro “Quem é o Cristo?” Também psicografado por Raul Teixeira, Padre Victor partindo das próprias palavras do Cristo, desenvolveu comentário riquíssimo sobre vários dos seus ditos como: Eu sou o Caminho... Eu sou a porta estreita, Eu sou a luz do mundo... etc.
NO GEFROMP:
Padre Victor como um dos mentores do grupo, na sua humildade que lhe é peculiar, vem sempre que necessário nos alertar para os cuidados que devemos ter com a vaidade, orgulho e chamar a atenção quando as coisas não vão a contento, para que a harmonia se fortaleça num trabalho de amor, solidariedade e caridade.
Preocupa-se com a energia pesada da cidade, uma das causas da fundação do GEFROMP, em Campanha.
Encaminha irmãos sofredores que necessitam de amparo e dá assistência ao trabalho de desobsessão.
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