Tecnologia na Educação I: Sistema de Ensino ou Coletânea de apostilas
Por Ely
Paschoalick*
A educadora Ely Paschoalick escreve uma série de
artigos criticando a prática educacional brasileira e os rumos que está tomando.
Tudo de interessante para iniciar 2011 é analisar
o uso da tecnologia da educação que vem se praticando em nossa pátria.
Sistemas de ensino (lê-se: coletânea de
apostilas) cada vez se alastra mais e nesta década é invadido por gráficas
estrangeiras como nos conta a matéria publicada no estadão: “A Pearson é
dona do Financial Times e passará a deter o controle dos sistemas de ensino COC,
Pueri Domus, Dom Bosco, Name e a gráfica GEB, a Logística e Distribuição, e a
Klick Net.”
Também percebemos claramente que os chamados
“Sistemas de Ensino” tomam conta do Ensino Fundamental municipalizado como se
pode constatar na matéria “Município
renova convênio com Editora Positivo” sobre isto creio que
é muito mais fácil convencer uma secretária da educação de um
município (cargo político) do que uma equipe de profissionais do MEC (cargos
técnicos).
Escrevendo esta coluna para o Portal
Uipi! me sinto um Davi enfrentando o Golias, mas minhas boas intenções,
convicções e experiências educacionais me encorajam a seguir avante.
Em pleno século XXI, século da comunicação, as
crianças e adolescentes brasileiros são condenados a se referenciarem por
apenas UM ÚNICO livro e na sua maioria em forma de apostila.
São bem ilustrados? Sim.
São bem pesquisados? Sim.
São bem revisados? Sim.
Mas os conjuntos destas apostilas enganosamente denominados
no mercado como Sistema de Ensino cometem erros que colaboram para o
desinteresse e exclusão dos alunos:
* ERRO 1: São de uso coletivo ou seja: todos os
alunos precisam aprender no mesmo ritmo, na mesma hora, da mesma maneira.
* ERRO 2: São calcados em lições de casa e
trabalhos extras classe ou seja: alunos que possuem acompanhamento extra classe
(seja familiar ou professor particular) para efetivar suas lições as realizam
com competência uma vez que nosso ensino jurássico ainda é de apenas meio
período. (Grande oportunidade política de usar três alunos em uma só
carteira).
As duas características acima são atribuídas por
mim como erros e instrumentos de exclusão do ambiente escolar dos alunos.
Sistema tem a ver com doutrina e o uso de tais
apostilas, na maioria das vezes com alunos enfileirados e proibidos de
conversarem, pertence a uma doutrina que tem colhido ao longo de sua existência
resultados negativos tais como: dos 100% dos alunos que ingressam no Ensino
Fundamental 40% são excluídos e não terminam a nona série. No ensino Médio o
gargalo aperta mais e completa o funil que desenha nosso real Sistema de Ensino
aonde poucos chegam à universidade.
Aos pobres uma escola pobre
Como afirma Sérgio Haddad, economista e doutor em
educação: “Criamos
um ensino público que dá aos pobres uma escola pobre”.
Então incautos políticos da educação motivados
pela mídia sustentada por empresários da educação pensam:
“O que o ensino dos ricos tem?
_ Apostilas.
_ Então, vamos fornecer tais apostilas aos pobres
e com isto enriquecer seu ensino!”
Eu os chamo de incautos, inocentes, ingênuos numa
tentativa de perdoá-los em nome da ignorância educacional. Eles se esquecem de
levar em conta que os elevados índices de aprovação em vestibular por alunos da
rede particular, apenas é resultado do último passo exclusivo do afunilamento do
Sistema Brasileiro de Educação que leva o pobre à exclusão educacional.
O uso de tais apostilas erroneamente denominadas
sistema de ensino, em nada modificará a pobreza da educação oferecida a uma
população que cada vez mais necessita de autonomia, discernimento e capacidade
de pensar.
Com certeza a simples utilização de livros ou apostilas dos
ricos para os pobres não será o caminho de oferecer uma educação em situação de
igualdade de direitos (ex aequo).
A única certeza que tal caminho nos oferece é o
enriquecimento das gráficas que produzem tais apostilas.
O que necessitamos na realidade é uma real
mudança no Sistema de Ensino Brasileiro e não apenas mudança de livro ou
apostila didática.
Urge uma mudança filosófica, psicológica e
didática.
Não é uma mudança de tecnologia ou de materiais
que necessitamos, mas é urgente que se faça, dentro das escolas, mudanças
estruturais nas relações humanas, sociais, tempo de aula, seriação, sistema de
avaliação e principalmente graduação de professores que saibam utilizar
didáticas diferenciadas para as diferentes funções da inteligência dos seres
humanos ao adquirir um conhecimento (pluricognição).
Não é esta ou aquela apostila que fará a
diferença, mas este ou aquele professor neste ou naquele ambiente escolar.
*Ely Paschoalick é educadora e consultora em comportamento humano, nascida
em Batatais – SP. É a terceira filha dos educadores sociais Guilherme
Paschoalick e Maria Alzira Corrêa Paschoalick. Ely é avó de cinco netos Eduardo,
Fernando, Roberto, Nikolas e Guilherme. É mãe de Tatiana Cristina, Vanessa
Cristina e Moisés Guilherme. Paschoalick realiza palestras por todo o Brasil;
atende consultas de orientação às crianças, jovens, pais, professores,
supervisores e demais envolvidos no processo educacional; presta consultoria
educacional aplicada em escolas e consultoria organizacional a empresas de
prestação de serviço, comércio e indústria. É mediadora do programa
“Concentração Training” cujos exercícios ampliam o poder de: Observar! Analisar!
Perceber! Comparar! Sintetizar! Concluir! E auxiliam o aluno a desenvolver uma
autoestima positiva. Ely é colunista de vários sites e constantemente está na
mídia regional do Triângulo Mineiro -onde reside- que carinhosamente a chama de
“Super Nany do Cerrado”. Ely Paschoalick possui formação em Administração
Escolar, com especialização em consultoria Organizacional e Educacional. Atua
profissionalmente desde 1968 tendo ministrado palestras, cursos e consultas para
mais de 30 mil pessoas atendendo consultas a alunos de todas as idades, pais e
educadores.
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