Matéria cedida pela colaboradora Angélica Andrés.
CENTRO DE ESTUDOS CAMPANHENSE
MONSENHOR LEFORT
Criado pela Lei 1.879 - de 28 junho de 1996
HISTÓRICO
SOBRADO LOCALIZADO NA PRAÇA DR. JEFFERSON DE OLIVEIRA
Em estilo colonial, com paredes externas e internas do pavimento superior de pau-a-pique e as inferiores de alvenaria em pedra, formado por 34 janelas e 78 vãos, o sobrado da Praça Dr. Jefferson de Oliveira, 13, localizava-se bem no centro da cidade e constituía verdadeira relíquia arquitetônica e histórica do município. Orgulho dos campanhenses.
O prédio foi solidamente construído no início do século XIX pelo rico minerador Comendador Francisco de Paula Ferreira Lopes. Político militante com expressiva atuação na Campanha. Admirado e respeitado por todos, prestou relevantes serviços a sua terra natal e sua gente. Dedicado à causa pública, foi vereador, presidente da Câmara Municipal, deputado à Assembléia Constituinte Provincial na 1ª Legislatura (1835/1837), Comandante Superior da Guarda Nacional, além de outros importantes postos de eleição e nomeação do Governo.
No sobrado sempre residiu o Comendador e muitos de seus descendentes. Primeiro as filhas Bárbara Alexandrina Ferreira Lopes, casada a 14/03/1838 com o Coronel Martiniano da Silva Reis Brandão e Francisca de Paula Ferreira Lopes, casada com o comerciante Valério Ribeiro de Rezende. Ambas e seus descendentes fizeram do sobrado um ponto importante da história campanhense.
O coronel Martiniano, nascido em 29/11/1816, advogado provisionado, foi político ativista e influiu positivamente nos nossos destinos durante 50 anos. Sua prole foi muito importante. O filho mais velho, Francisco Honório Ferreira Brandão, médico de renome foi um dos fundadores do partido Republicano na Campanha, deputado em várias legislaturas e participou do movimento abolicionista. Engenheiro afamado sempre residiu no Rio de Janeiro onde ocupou cargos importantes, tendo cumprido várias missões no Brasil. Amigo do Dr. Fernando Lobo Leite Pereira e do presidente Floriano Peixoto, supõe-se que por inspiração deles, chefiou a Revolução Separatista de 1892. Por isso, instalou o Governo Provisório no sobrado onde residiam seus pais, já que o Comendador falecera um ano antes, em 28 de setembro de 1981, aos 94 anos.
O segundo genro, Valério Ribeiro de Rezende, recém-casado, residiu no sobrado e ali nasceu seu filho, mais tarde Ministro Francisco de Paula Ferreira de Rezende. O filho ilustre foi Juiz Municipal em 1856 em Queluz, hoje Conselheiro Lafaiete e Deputado Provincial de 1864 a 1867, eleito por Cataguases. Realizou também proveitosos estudos históricos, publicando suas observações em periódicos e em folhetos. É de sua autoria o livro “Minhas Recordações”, obra póstuma publicada em 1ª edição em 1944, que contém interessantes subsídios para a história da Campanha. Em 1888 participou da comissão incumbida de redigir a Constituição política do futuro Estado de Minas. Faleceu em 26/10/1892.
Também residiu no prédio os Leonel de Rezende, família de notáveis juristas, parlamentares e políticos que muito honraram o nome da Campanha.
Sem conservação e com o passar dos anos, o imóvel entrou em decadência indo a leilão por volta de 1926, sendo arrematado pelo médico Dr. Jefferson de Oliveira e Olímpio Ferreira de Souza e Silva. Dr. Jefferson ficou com 91% e uma subscrição pública adquiriu a parte minoritária. Ali se instalou a segunda Escola Normal Oficial, solenemente inaugurada em 20/04/1929.
Para atender as necessidades da implantação da escola, o prédio passou então, em 1928, por um processo amplo de restauração e adaptação, sofrendo suas primeiras modificações.
Foram abertas portas, instalados 7 sanitários e 8 lavatórios. Revisto o telhado e encanamentos. Consertados assoalhos, forro, rodapés e abas, inclusive a escada e três colunas. Restauradas janelas, portas e caxilhos. Vidros quebrados substituídos e os que faltavam repostos. A pintura executada. Cuidou da reforma o construtor Virgílio Pereira Guimarães; dos serviços de carpintaria Ambrósio e Baccaro; da pintura e colocação de vidros João Rufino. Todo o material empregado foi de primeira qualidade e o orçamento (46 contos e 977 réis) pagos pelo proponente Dr. Jefferson de Oliveira.
As dependências de serviço da casa, no pavimento superior também foram alteradas para a instalação de um auditório.
No livro “Minhas Recordações” de Ferreira de Rezende pode-se observar a fachada original do sobrado, onde 4 portas e 2 janelas que davam para a rua Saturnino de Oliveira (Rua Direita), foram substituídas por seis pequenos vidros. Não conseguimos apurar se estas modificações aconteceram nesta mesma época.
Após o falecimento do Dr. Jefferson de Oliveira em 14/01/1943, cumprindo sua vontade e com o intuito de reverenciar a memória deste conceituado médico campanhense, a viúva Anna Cândida Leite de Oliveira, doou o imóvel a Municipalidade em 28/02/1944. O recebimento da doação foi autorizado pelo Decreto-Lei n° 78, de 20/01 do mesmo ano. Era prefeito o ilustre médico campanhense Dr. Manoel Alves Valladão.
Em 1937, com o fechamento da Escola Normal, ali se instalou novamente o Governo Municipal até meados de 1964.
Em 1965, o sobrado foi cedido à Escola Estadual Vital Brasil, criada neste mesmo ano. Exerceu a primeira direção da escola, a inspetora Maria das Dores Lamounier de Vilhena, professora formada em 1937, na última turma da antiga Escola Normal Oficial. No sobrado a Escola permaneceu até 1966.
Com a saída da escola para ocupar o prédio do antigo Colégio de Sion, voltou o sobrado a ser a sede da Prefeitura.
Em 1971, serviu como sede do Lions Clube até 1983.
Entre 1974 e 1976, foi sede também do LEO CLUBE.
Em 1973, mediante termo de doação da Prefeitura, o prédio foi cedido como patrimônio, à Fundação Cultural Campanha da Princesa, órgão mantenedor da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Nossa Senhora de Sion. Com a extinção do Colégio de Sion, as instalações da Faculdade foram transferidas para o referido colégio, sendo firmado com a Prefeitura, em 02 de outubro de 1976, um contrato de comodato para a utilização do prédio como sede administrativa.
Neste período, funcionou também no andar superior do prédio a Câmara Municipal e a Biblioteca Pública Municipal Cônego Vítor, criada em 1973 pela Lei Municipal n° 623 e oficialmente aberta ao público em janeiro de 1988, após meticuloso processo de organização, iniciado em 1977. O término das obras de restauração do antigo Ginásio São João permitiu, em 19 de dezembro de 1990, a transferência de todo seu acervo para o novo local, mais amplo e confortável.
No ano seguinte, o Poder Legislativo também deixa o imóvel para funcionar no prédio localizado na rua Padre Natuzzi, 79.
Três anos depois, se deu a transferência do Poder Executivo, ocasionada pela cessão de dois prédios pertencentes à antiga Diretoria Regional da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, extinta na Campanha em abril de 1990 e cedidos à Municipalidade pelo Governo Itamar Franco.
O sobrado permaneceu fechado por pouco tempo. Encontrava-se novamente em péssimas condições de conservação, já que a última restauração mais abrangente se deu em 1928. O forro do antigo salão nobre da Câmara ameaçava desabar e precisou ser escorado. Inúmeras goteiras castigavam o interior do prédio.
De 1994 em diante lá se instalaram a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (EMATER), reaberta pelo convênio de 03 de maio de 1994. Provisoriamente a Firma Romero’s Informática, depois Digital Informática e a Firma Dance Star, especializada na fabricação de sapatilhas. Esta, veio suprir, em parte, a carência do mercado de trabalho no Município. Para instalação desta fábrica, foi feita uma redistribuição da carga elétrica com a colocação de um padrão independente sem, entretanto, rever antigas fiações (muitas ainda com o isolamento de pano).
Em 1995, para lá se transferiu a Fundação Comunitária do Bem-Estar do Menor (CONBEM), órgão subordinado à Prefeitura, criado em 1989, com a finalidade de propiciar atividades profissionalizantes às crianças carentes. No primeiro andar, instalou-se uma exposição permanente de trabalhos manuais produzidos pelos alunos do CONBEM e da comunidade.
Em 30 de maio de 1996, às 15 horas, possivelmente ocasionado por um curto-circuito na parte superior esquerda do prédio, todo o sobrado pegou fogo. Pouco se pode fazer para evitar a tragédia. Consternada e perplexa a população assistiu extasiada o fogo consumir mais de século e meio de História: um prédio que era, sem sombra de dúvida, patrimônio histórico e cultural de toda região mineira.
Fontes Bibliográficas (Acervo: CEC ML)
4Dados orais fornecidos pelo campanhense Roberto Jefferson de Oliveira (1926 - 1996) e pela funcionária municipal Altina Nogueira.
4Dados fornecidos pela Diretora de Proteção e Memória do Patrimônio Histórico do IEPHA, Ruth Villamarim.
4Dados Genealógicos dos Antecedentes e Descendentes de Francisco Sanches Brandão e Manuel da Rocha Bandão; Theobaldo Brandão; 1966, pág. 56.
4Jornal Voz Diocesana - Ano 23, n° 757.
4Jornal Três - Edição 1.419, de 24/05/1994.
4Folheto Campanhenses Ilustres - n° 02 e 05 (Ed. do Centro de Estudos Campanhense Mons. Lefort).
4Artigo “Há um Século” - publicado no Estado de São Paulo - S/D.
4Almanaque do Município da Campanha; Júlio Bueno; Ed. 1900 - pág. 107.
4Relação de personalidades Ilustres do Município da Campanha - 1889/1930; Jair de Paiva Lemes.
4Revista Alvorada - nº 5 e 6 de abril de 1929; Editada por José Borges Netto.
4Jornal “A Folha da Campanha” - Ed. Dez /94 - nº 0 - Folha 08.
4Orçamento do emboço e reboco das paredes internas e externas e do telhado do prédio a ser adaptado para a Escola Normal da Campanha (Cópia).
4Traslado da Escritura Pública de doação - Livro 102 - Fls. 139 v. a 141.
4Ofício do prefeito Dr. Manoel Alves Valladão de 06/03/44.
4Jornal “O Campanhense” - nº 0 - abril/90.
4Orçamento dos serviços de carpitaria necessários para adaptação do prédio destinado a escola 4Normal e orçamento para pintura a óleo e colocação de vidros.
4Release - Histórico da FAFI/Sion.
4Obra “Minhas Recordações”; Ferreira de Rezende; Ed. 87; pág. 233.
Pesquisa histórica organizada pelo Centro de Estudos
Campanhense Monsenhor Lefort situado na Rua João Luiz Alves, 26 - Campanha //MG em 24/06/96.
O prédio, no início do século XX.
O Solar dos Ferreira de tantas histórias, agora é só saudade. As novas gerações, nem mesmo as histórias sabem pois, nossas autoridades e escolas não tem a preocupação de ensinar a nossa rica história. O que é lamentável, pois Campanha sempre teve uma grande importância na história do Brasil.
Será que nossos representantes eleitos, não ficam sensibilizados, incomodados, de verem situações como esta. Nós sempre pensamos que com a gente isto não acontece. Mas, já aconteceu e ninguém aprendeu a lição. Não seria possível um pedido, para que a COPASA colocasse hidrantes nas proximidades dos prédios antigos, especialmente nas proximidades da Catedral, Museu Regional, Santa Casa, Igreja da Dores...
O papel do eleitor, não é só colocar no poder os seus padrinhos mas, cobrar deles ações em favor da nossa cidade.
As ruínas só serviram para festas de Halloween durante uns dois ou três anos.
e para fotografias. Mas, TODOS vão ficar sempre omissos?
Alguém deve ter responsabilidade sobre o acontecido. Afinal, a Prefeitura doou o prédio para a Faculdade que, precisava ter um imóvel para ser criada mas, o emprestaria para a Prefeitura por tempo indeterminado. A Faculdade Nossa Senhora de Sion acabou sendo lesada pois, emprestou um prédio e ficou com as ruínas.
De quem é a responsabilidade?
Por que será, o Ministério Público nunca se interessou por isto?
Até quando vai ficar assim?
Estas respostas, todos os campanhenses esperam por elas.
Mas, até quando?