Em 1917, quando
recebeu a patente do soro antiofídico, decidiu imediatamente doá-la ao
governo brasileiro.
Preocupava-se principalmente com a Saúde Pública. Dentre
os numerosos e determinantes legados deixados por ele, destacam-se a criação
do Instituto Butantan (fundado oficialmente em 1901, em São Paulo) e do Instituto Vital Brazil
(fundado em 1919,
em Niterói). Ambas instituições tornaram-se referenciais de excelência na
formação de
pesquisadores,na produção de medicamentos e na divulgação e
popularização das ciências no país.
O cientista Vital Brazil Mineiro da Campanha é o primeiro filho de José Manuel dos Santos Pereira Junior (1837-1931)
e de Mariana Carolina Pereira de Magalhães (1845-1913). Depois
dele, vieram mais seis irmãs e um irmão. Vital Brazil
viveu num período
revolucionário: entre 1865 e 1950, a humanidade por profundas mudanças:
invenções, virada do
Século XX, Brasil republicano, era Getúlio Vargas,
desenvolvimento da ciência, II Guerra Mundial, etc.
O interior mineiro foi pano de fundo da infância de Vital Brazil. O processo
de crescimento num lugar distante da Corte e
de centros urbanos contribuiu para
que Vital Brazil focasse, futuramente, na realidade rural. A formação escolar
se deu
em um período que ocorreram mudanças significativas nos métodos de
ensino vigentes, sobretudo, pela influência do
rânsito regular, pelo país,
de educadores e missionários protestantes. Estudou na cidade de Caldas sob a
orientação
de um mestre presbiteriano. Em épocas ainda imperiais e
escravistas, os genes e valores mineiros de liberdade
certamente colaboraram
para moldar no menino Vital muitas de suas características, como uma das mais
referenciadas: a autonomia tanto no pensar, quanto no agir.
Em 1880, aos 15 anos de idade, mudou-se com sua família para São Paulo,
cidade em que conseguiu alcançar
muitos de seus anseios. Após completar os
estudos preparatórios, Vital Brazil foi ao Rio de Janeiro, Corte do Império
Brasileiro, onde cursou a Faculdade de Medicina, de 1886 a 1891. Logo após
sua formatura, em que defendeu a tese
“Funções do Baço”, em janeiro de 1892, retornou para São Paulo, onde se casou com sua
prima em segundo grau,
Maria da Conceição Philipina
de Magalhães. Maria da Conceição morreu em março de 1913 e deixou ao viúvo Vital
Brazil nove filhos.
Vital Brazil contraiu febre amarela em dois momentos. Na segunda vez, em
1893, estava em missão sanitária no
interior de São Paulo, na cidade de Belém
do Descalvado. Sua esposa e sua mãe, apreensivas com os constantes
riscos que
Vital enfrentava nos combates às epidemias, convenceram-no a aceitar o
convite para clinicar em Botucatu.
Na época, aquela era a mais próspera
localidade da região do centro-oeste paulista. Em 1º de julho de 1897, Vital
Brazil ingressa no Instituto Bacteriológico, instituição que viu ser fundada
em 1892, quando já trabalhava para o
Serviço Sanitário de São Paulo. Por
pouco mais de dois anos, a partir desta data, integrou a pequena equipe de
médicos que atuava sob a orientação de Adolfo
Lutz (1855-1940). Após diagnosticar, combater e contrair a peste
bubônica
na cidade de Santos, entre outubro e novembro de 1899, Vital Brazil retorna
ao trabalho no Instituto
Bacteriológico. Em dezembro deste mesmo ano, inicia
a adaptação de um velho rancho na então distante Fazenda
Butantan, situada a
9 km da capital paulista, com a responsabilidade de montar e organizar ali um
laboratório que
servisse à produção de soro antipestoso. Nesta época, Vital
Brazil já possuía estudos avançados sobre o problema
do ofidismo e tratamento
soroterápico.
Vital Brazil fundou e dirigiu o Instituto Butantan por 20 anos, de 1899 a
1919, e foi convidado pelo Governo do Estado
de São Paulo a retornar à
direção desta instituição, por mais 4 anos, em 1924. Criou, cofundou e
colaborou com
diversas revistas científicas, como a Revista Médica de São Paulo, e escreveu dois livros: A Defesa contra o
Ophidismo, em 1911, reeditado e ampliado em
1914, somente em francês, e Memória Histórica do
Instituto Butantan,
em 1941. Publicou dezenas de artigos científicos, em diferentes
línguas e periódicos. Por meio de alguns testemunhos e citações de cientistas
e eminentes personalidades mundiais pode-se chegar a uma avaliação, mesmo que
breve,
sobre a contribuição de Vital Brazil para a Ciência e para a Medicina,
assim como sobre o papel que desempenhou
na História.
Aos 54 anos de idade, em 1919, viúvo há seis anos, Vital Brazil já havia
alcançado reconhecimento mundial pelo
conjunto da obra acerca da soroterapia
específica aplicada aos envenenamentos por animais peçonhentos. Além
disso,
havia contribuído enormemente a diversos campos ligados à saúde pública do
país. Casou-se novamente,
em 1920, com Dinah
Carneiro Vianna(1895-1975), e desta união nasceram mais nove filhos. Simultaneamente,
Vital
Brazil já ganhava netos dos filhos do primeiro casamento. Desta forma,
constituiu uma grande família. O cientista
faleceu de uremia (concentração
abusiva de ureia no sangue) no início da manhã do dia 8 de maio de 1950, em
sua
residência, no Rio de Janeiro.
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