sexta-feira, 15 de março de 2019

PROFESSOR JÚLIO BUENO


BIOGRAFIA DO PROFESSOR JÚLIO BUENO
                                          Pelas filhas Isolda Brandão Bueno e Alda Brandão Bueno

            Nasceu o conhecido educador na Cidade de Campanha, aos 25 de agosto de 1864, descendente da tradicional família Bueno da Costa. Sua avó Dª Policena, como dizia o professor, era prima de Bárbara Eliodora a famosa heroína da INCONFIDÊNCIA MINEIRA.
            Naquela tradicional cidade, que, no século passado, já era um centro irradiador de civilização e cultura, pelo que conquistou o cognome de ATENAS SUL MINEIRA, Júlio Bueno fez os seus estudos primários com sua tia Maria Inácia e de humanidades na antiga Escola Normal. Essa Escola foi a segunda criada em Minas (em 1873), logo depois da de Ouro Preto. Estudou agronomia, fazendo exames na Escola de Viçosa. Depois, conse­guiu os títulos de professor e o de engenheiro agrônomo, galardões conquistados brilhantemente em tenra idade. Abraçando a causa da Abolição da Escravatura e do Advento da República, lutou bravamente ao lado de Lúcio de Mendonça, Manoel de Oliveira Andrade, Aristides Lobo, Américo Werneck, Barroin, Francisco Bressane, Martiniano da Fonseca Reis Brandão e outros cidadãos ilustres.
            Nos jornais Gazeta dos Estudantes, Independente e Idéia Júlio Bueno publicou ardorosos artigos, batendo-se pelos seus ideais, até que em 1889, de parceria com Oliveira Andrade, fundou o A Revolução. Só pelo título sugestivo do jornal pode-se fazer uma idéia do papel que representou a mocidade campanhense em face da propaganda republicana.
            Proclamada a República e organizando um ministério do qual faziam parte Aristides Lobo e Quintino Bocaiúva, seus companheiros de luta, foi Júlio Bueno convidado para ingressar na diplomacia como Secretário de Le­gação do Brasil no Chile. O grande amor que votava a sua cidade e a sua progenitora, sobretudo a sua modéstia, impediram-no de aceder ao convite tão honroso. Assim também agiu quando José do Patrocínio o convidou para secretariar o Cidade do Rio. O que causou este convite foi a vinda de José do Patrocínio, que se movia incessantemente, em prol da causa abolicionista, à Campanha. Ali, em um banquete que lhe ofereceram, depois de vários oradores se fazerem ouvir, Júlio Bueno alteou a voz, proferindo uma oração flamejante e rica de conceitos. O genial negro, comovido até às lágrimas, abraçando fortemente o moço normalista, disse-lhe: “Você, menino, tem que ir comigo para o Rio, a fim de secretariar e depois dirigir o meu jornal: Cidade do Rio.”
            Em 1892, Júlio Bueno participou da Revolução Separatista do Sul de Minas, que tinha a Campanha como Capital do Novo Estado. Chegou mesmo a ser nomeado pela Junta Governativa Provisória, Diretor da Imprensa Oficial e do respectivo órgão Oficial Minas do Sul, de duração efêmera como a do frustrado movimento.      
            Dedicou-se o professor ao magistério indo para São João Nepomuceno, depois Passa Quatro e finalmente para São Gonçalo do Sapucaí onde permaneceu por dois anos consecutivos. Aí teve a oportunidade de travar amizade com o ilustre sertanista Euclides da Cunha e o grande poeta Raimundo Correia, então Juiz de Direito daquela cidade. Relacionou-se, também, com um estudante português da Universidade de Coimbra. Este, regressou, logo após, para Portugal, a fim de terminar seus estudos. Passado algum tempo, Júlio Bueno recebeu uma carta desse moço, contando a desgraça que lhe havia acontecido numa festa estudantil. Relatou tudo pormenorizadamente. Disse que estava preso numa masmorra, inocentemente.
            Júlio Bueno emocionado e condoído com a desdita desse rapaz fez uma petição ao rei de Portugal, fazendo admirável defesa do estudante.
            Ao ler essa magistral defesa do moço por Júlio Bueno, o rei mandou publicar uma alvará de soltura ao rapaz. Este, saindo da masmorra, pediu auxílio aos amigos e conhecidos a fim de poder vir para o Brasil. Aqui chegando, foi logo procurar o seu benemérito defensor, o professor Júlio Bueno, para agradecer-lhe seu rico depoimento. Alguns meses depois, doente pela umidade, falta de luz, de ar puro e parca alimentação no cárcere, veio a falecer vitimado pela tuberculose.
            Ao findar o século XIX, após concurso, tornou-se professor da tradicional Escola Normal, quando veio a publicar o seu conhecido Compêndio de Música, editado em Portugal, na Cidade do Porto. Era o mesmo adotado nas escolas normais e que mereceu grandes elogios de pessoas competentes como o maestro João da Mata e outros.
            No limiar do século XX, fundou e dirigiu o semanário O Despertador, e por ocasião do centenário da Campanha, que coincidiu com o 4º centenário de descoberta do Brasil, fez comemorar essa data, publicando o seu curiosíssimo Almanack da Campanha.
            Em 1902, em Campanha, a Escola Normal fora suprimida pelo Governo de Minas e postos em disponibilidade os seus lentes.
            Assim, nesse ínterim, Júlio Bueno dedicou-se ao aperfeiçoamento de línguas, como francês, o espanhol e o italiano. Estudou música, vindo a tocar clarineta. Era amante da música erudita, sendo fã ardoroso do famoso compositor alemão, Richard Wagner.
            Em 1903, Júlio Bueno, atendendo a um convite da Câmara Municipal de Muzambinho, transferiu-se com sua mãe para aquela cidade, onde foi um dos fundadores do Liceu Municipal sob a direção do saudoso educador Professor Dr. Salatiel de Almeida.
            Ali se casou em 1905, com Almerinda da Silva Brandão, de cujo consórcio nasceram os seguintes filhos: Wagner Brandão Bueno, Desembargador aposentado, Alda e Walkyria, professoras aposentadas; Oswaldo, contador, funcionário federal aposentado; Isolda e Maria Isabel, normalistas; Elza e Lavínia, falecidas. (VERIFICAR OS FALECIMENTOS NA ÉPOCA DA EDIÇÃO).
            Foi redator dos semanários locais: Muzambinho, A Cidade de Muzambinho e o Muzambinhense, em épocas sucessivas.
            Em Muzambinho, Júlio Bueno lecionou por mais de 20 anos naquele notável estabelecimento de ensino, bem como na Escola Normal anexa e no Grupo Escolar Cesário Coimbra.
            Encontrou ele em Muzambinho o grande pensador e líder Católico Jackson de Figueredo, que impressionado com o extraordinário talento e humildade do estimado professor, dedicou-lhe uma das páginas do seu livro Humilhados e Luminosos.
            Era conhecido como o filósofo da terra e na verdade, como dizia Santo Agostinho, se ser filósofo é ser amigo dos homens, ninguém mais que Júlio Bueno merecia este nome, caráter de uma integridade absoluta, talvez excedendo na humildade, o gesto, a violência de que fora na mocidade lutador ardoroso. A sua vida foi um exemplo de todas as virtudes que fazem um homem de espírito.
            Júlio Bueno tinha alguma coisa daquele singular Montaigne pela bondade e de seu cientificismo intelectual, lembrando assim Xavier Marques que é das mais puras glórias da nossa intelectualidade contemporânea. E ainda, como o nosso grande romancista, encarna Júlio Bueno o que de característico pode existir num brasileiro de nossos dias, isto é, o seu amor à nossa tradição e à nossa história de que era conhecedor profundo, como provou nos seus artigos sobre a questão de limites entre Minas e São Paulo, artigos esses que mereceram os maiores elogios do grande Historiador Diogo de Vasconcelos.
            Como disse o escritor Moacir Bretas, Júlio Bueno era senhor de uma exuberante mentalidade. A sua história é singela, modesta, como a personalidade que a motivou em vida, que se fosse um profiteur de situações, belos cargos teria conquistado. No entanto a sua humildade o inibiu de aceitá-los ainda que merecesse religiosamente.
            Em 1913 paraninfou, em Muzambinho, uma turma de normalistas e nesse ano perdeu sua mãe, em Lambari, tão longe, sem ao menos poder beijar-lhe as mãos. Feliz por ter sido escolhido dentre muitos outros, triste pela perda irreparável de sua genitora.
            Júlio Bueno fez numerosos discursos e grandes conferências em Muzambinho e cidades circunvizinhas, das quais a que mais o emocionou foi a que fez em São José do Rio Pardo, no Estado de São Paulo, onde falou sobre Dante Alighieri, declamando no final, um poema da Divina Comédia em Italiano, do genial escritor florentino. Estava presente entre grandes personalidades, o Cônsul da Itália, que entusiasmado, foi ao encontro de Júlio Bueno, abraçando-o e o erguendo disse-lhe: "Você é magistral, admirável!..."
            Além do Compêndio de Música e do Almanaque da Campanha, Júlio Bueno publicou as seguintes obras: Questão de Limites entre Minas e São Paulo, trabalho editado pela Imprensa Oficial e que lhe valeu o ingresso no Instituto Histórico e Geográfico do Estado de Minas Gerais; Notas e Fábulas, As Aves e Discursos e Conferências.
            Em 1914, com o início da primeira Grande Guerra Mundial, Júlio Bueno escrevia batalhando contra, nos jornais de Muzambinho e em vários outros como na Gazeta de São Paulo.
            No término dessa guerra, Júlio Bueno foi homenageado pelos alunos e professores pela luta e coragem que tivera escrevendo em momentos tão difíceis e de grandes tensões.
            Ainda em Muzambinho, nos domingos, feriados e nos dias santos dedicava-os ao serviço de medição de terras para as quais era sempre solicitado.
            Como possuía grande conhecimento de leis, facilidade de comunicação e talento em transmitir suas idéias, era sempre convidado para defender causas encrencadas, das quais sempre se saía muito bem.
            No Liceu ou na Escola Normal, quando faltava algum professor às aulas, o Diretor Dr. Salatiel não vacilava em convidar o professor Júlio Bueno para substituir em qualquer matéria, pois possuía um conhecimento profundo em todos os ramos do ensino.
            Em 1924, nomeado diretor do Grupo Escolar de Aiuruoca, Júlio Bueno transferiu-se para aquela cidade com a família, onde permaneceu apenas um ano, pois em fins desse mesmo ano foi transferido para o Grupo Escolar da Campanha, retornando assim à sua querida terra.
            Lutador incansável como educador e jornalista, na sua velha Campanha, além de dirigir o Grupo Escolar Zoroastro de Oliveira, lecionou no Ginásio Diocesano São João, no Seminário Nossa Senhora das Dores e mais tarde, na Escola Normal, para a qual foi nomeado. Foi designado Fiscal Escolar do Município da Campanha sendo incluído o Colégio Nossa Senhora de Sion.
            Colaborou em semanários locais, como A Cidade, O Campanhense e Sul de Minas. Escreveu, também para diversos jornais, como O Monitor Campista da cidade de Campos no Estado do Rio, O Hidrópolis de Lambari e vários outros.
            Além dos livros publicados já mencionados, ele escreveu A Catedral, Um Caso de Consciência, drama e tradução; Novos e Velhos, literatura e política; As Aves do Brasil, todos inéditos.
            Em 1936, Júlio Bueno se inscreveu para a Academia Mineira de Letras, cuja cadeira pertencia ao falecido Marquês de Sapucaí. Eram muitos os candidatos, mas os mais cotados eram Júlio Bueno, Heli Menegali e Mário Matos. Por ocasião, Júlio Bueno, já se achava bastante doente, vindo a falecer no dia 04 de junho daquele ano, no mesmo dia da votação final que deveria ser escolhido para ocupar a referida cadeira.
            Em 25 de agosto de 1964, completou o centenário de seu nascimento. Seus filhos, embora residindo todos fora da Campanha, compareceram à Missa de Réquiem, que mandaram celebrar na Catedral com o comparecimento de toda a família.
            O sacerdote em alusiva oração falou sobre a personalidade de Júlio Bueno, das suas qualidades morais e espirituais e o que fez pela terra com sabedoria exaltando os pobres e humildes.
            Estavam presentes nessa solenidade representações civis e eclesiásticas e grande número de conhecidos e amigos.
            A família presente ficou emocionada com esta prova de amizade que Júlio Bueno desfrutava na sua terra natal.
            Aqui fica a homenagem póstuma a esse grande batalhador e incansável educador campanhense, professor Júlio Bueno.
            Em Campanha, sua terra natal, o prefeito Dr. Manuel Alves Valladão inaugurou a Praça Professor Júlio Bueno em sua homenagem, no mesmo ano de seu falecimento, em 1936.
            Em 1966, a família teve a grata satisfação de receber do Prefeito da Capital de São Paulo a comunicação de que havia dedicado a um dos logradouros da Capital o nome de Professor Júlio Bueno.
            Em 1974, o Prefeito de Belo Horizonte, Dr. Oswaldo Pierucetti comunicou à família a inauguração de uma das ruas da Capital no Bairro São Bento, com o nome de Professor Júlio Bueno.


¨      Isolda foi freira da Congregação das Filhas de Caridade de São Vicente de Paulo. Após deixar a Congregação em 1955, trabalhou na Fundação Imaculada Contra a Tuberculose e na Cia. de Seguros Sul-América Terrestres Marítimos e Acidentes. Reside atualmente em Belo Horizonte.

¨      Alda, já falecida, foi professora do Grupo Escolar Zoroastro de Oliveira e funcionária da Secretaria da Educação.






2 comentários:

  1. Bom dia! Trabalho a árvore genealógica dos Bueno de Campanha. No artigo não são mencionados os pais de Julio Bueno, vocês teriam esta informação? Muito grata!

    ResponderExcluir
  2. Boa tarde! Trabalhao na árvore genealógica dos Bueno de Campanha. No artigo não são mencionados os pais de Julio Bueno, vocês teriam esta informação? Muito Grata!

    ResponderExcluir

VENDO ECOSPORT 2.0 CÔR PRETA

 VENDE-SE Veículo ECOSPORT 2.0 ANO 2007 FORD   -  CÔR PRETA KM: 160.000 R$35.000,00 Contato: 9.8848.1380

Popular Posts