quinta-feira, 20 de agosto de 2020

CENTENÁRIO DE MONSENHOR DOMINGOS PRADO FONSECA


Centenário de Mons. Domingos Prado Fonseca 

16/08/1920 – 16/08/2020

Quando, em 1932, em meio às celebrações do advento, o garoto Domingos revelou o desejo de ser padre, seu pároco logo o apresentou a D. Inocêncio Engelke. Escreveu ao Sr. Bispo, mostrou-lhe a boa origem do menino, as virtudes pessoais, o zelo pelas coisas de Deus, pois era coroinha da Matriz do Divino Espírito Santo e da Capela do Hospital Regional, ambas em Varginha. Informou-lhe também que a família honrada e modesta – o pai, alfaiate; a mãe, doméstica e quituteira— não tinha condições de pagar a pensão exigida pelo seminário. Dom Inocêncio respondeu-lhe, entre outras coisas: “Se o menino é bom, mande-o, vamos ver o que fazemos”.

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Aluno bolsista do Colégio Coração de Jesus – Marista (Mons. Domingos ao centro, na primeira fila).

O menino era bom. Matriculou-se no Seminário Nossa Senhora das Dores, em 4 de fevereiro de 1933. Depois cursou Filosofia e Teologia no Seminário S. José, de Mariana, encerrando seus estudos em 1944.


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Nossa Senhora das Dores, padroeira do Seminário Diocesano da Campanha (Procedência: Barcelona, Espanha, em 1912).

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Turma do ano de 1933, ao centro o reitor, Pe. Ignácio.

 C:\Users\Marcos Valerio\Downloads\20200807_151059.jpgRecreio – Seminário de Mariana (Monsenhor Domingos; à direita da foto Mons. Chico Pinto).

Fez-se homem de bem e foi ordenado por Dom Inocêncio Engelke em 3 de dezembro de 1944, na Matriz do Divino Espírito Santo, em Varginha, sua terra natal.

Logo no começo de 1945, iniciou seus trabalhos em Campanha. Na catedral de Santo Antônio, na igreja de são Sebastião, no Seminário, no Colégio S. João. Aqui, lecionou religião; ali, História, Liturgia, Italiano, Literatura Brasileira; lá exercia seu múnus como confessor e pregador, já reconhecido pela verdade das palavras, pela precisão das ideias e pela beleza genuína provinda de sua fala.  

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Pe. Domingos, aos 3 de dezembro de 1944. Foto Massote

Sempre se dedicou ao confessionário e ao atendimento espiritual tanto dos alunos daqueles estabelecimentos, quanto às religiosas da Santa Casa, às Irmãs e alunas do proficiente Colégio Notre-Dame de Sion. Era atento no acolher, paciencioso no ouvir, seguro no aconselhar.  Disse-me um dia: “O confessionário é um recanto de oração, é a melhor escola de vida e da vida.”

Foi um dos poucos padres que pregou a Palavra de Deus em todas as paróquias da Diocese da Campanha. Seus temas mais queridos eram a Eucaristia, a Virgem Santíssima, São José, as Vocações. Sua fala firmava-se sempre em três ideias, hauridas na reflexão dos textos bíblicos e na vivência litúrgica. Com propriedade, propiciava aos fiéis o conhecimento da atualidade do Evangelho e os exortava a ficarem atentos aos “sinais dos tempos”. Com gosto, alindava suas reflexões com trechos colhidos dos Santos Padres, da Vida dos Santos, das Literaturas Latina, Portuguesa, Francesa e Brasileira, que conhecia com profundidade.  Sabia apreciá-los e sabia aplicá-los, com simplicidade, ao tema discorrido no púlpito. São famosos os seus Sermões da Semana Santa, sobremaneira os do Mandato e os da Páscoa. 

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Bodas de Ouro do Pe. Jair dos Santo Pinto – Paróquia Na. Sra. da Conceição, de Luminárias.

Exercia, de modo natural e verdadeiro, o seu trabalho pastoral. Foi membro do Cabido Diocesano e do Conselho Presbiteral da Diocese. Vendo o crescimento populacional de Varginha, auxiliou na criação das paróquias do Mártir S. Sebastião e de Nossa Senhora do Rosário, erigidas pelo Servo de Deus Dom Othon Motta em dezembro de 1960.

Pode-se dizer que, no dia a dia, discreta e frutuosamente, agia como membro da Pastoral da Juventude, pela formação dos adolescentes, dos jovens e dos professores de todo o Sul de Minas. Para tanto, além da reitoria do Seminário Diocesano Nossa Senhora das Dores, empenhou-se na fundação da  Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Varginha, hoje UNIS-MG; da Pastoral da Saúde, pela caridade de suas visitas aos doentes; da Pastoral da Amizade e do Acolhimento, pela bondade com que tratava a todos; da Pastoral Familiar, pela presença na vida de tantas famílias das paróquias em que trabalhou; da Pastoral Litúrgica, pelo amor com que incutiu nos alunos e paroquianos as belezas e graças da Liturgia; da Pastoral Presbiteral, pelo cuidado fraterno que dedicou aos seus irmãos no sacerdócio, sobretudo aos que mais sofriam ou que passavam por momentos difíceis; do Movimento Fé e Política, pois sempre assegurou aos fiéis, mesmo cerceado pela vigilância da Ditadura Militar, a força da democracia, a conscientização política, o direito a viver com dignidade, a necessidade de se assumir a cidadania buscando nos ensinamentos da Igreja as saídas e caminhos para a construção do homem e do mundo.



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Bênção da pedra fundamental da FAFI, Vga -1968.

O zelo de seu coração, a luz de sua inteligência, a largueza de sua visão, a força de seu espírito crítico, o seu desejo de servir estavam voltados, sobretudo, para a formação sacerdotal. Dom Inocêncio, no início de 1947, confiou-lhe a reitoria do Seminário. Sua permanência, à primeira vista provisória, estendeu-se por 40 anos, tempo que lhe concedeu o mérito de ter sido, à época dos 75 anos daquela instituição, o reitor mais longevo do mundo, conforme afirmava o Pe. Antônio de Oliveira Godinho.

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Visita do Servo de Deus D. Othon Motta ao Seminário, em 1957.

E não só o tempo foi dilatado, mas também o trabalho foi fecundo. Para tanto, Monsenhor Domingos graduou-se em Letras e Filosofia, fez cursos de especialização em São Paulo e em São João Del Rei, participou de inúmeros encontros de reitores e formadores, valeu-se das leituras dos documentos da Igreja e das obras atualizadas no campo da didática e da pedagogia. Trouxe, providencialmente, para ajudá-lo as professoras Dona Lourdes Andrade e Dona Yolanda Araújo, coisa inédita no ambiente dos seminários de então. E conseguiu, para cuidar da alimentação e do bem-estar dos alunos, a presença tão positiva das Pequenas Missionárias de Maria Imaculada, as Irmãzinhas. Todas elas se fizeram verdadeiras e dedicadas mães dos seminaristas.

Desejoso de que o seminário se abrisse ao convívio com as famílias campanhenses, e atendendo à solicitação de muitos fiéis, criou, sob o beneplácito do Servo de Deus Dom Othon Motta, o nosso externato. Foi uma intervenção benfazeja no sentido econômico e, sobremaneira, no âmbito da evangelização e da educação de inúmeros jovens.

Sua vivência espiritual...  Ele foi o homem do silêncio, mas do silêncio dialogal, do silêncio laborioso, do silêncio orante. Quantas vezes o vimos curvado sobre o altar da capela, como a procurar na Fonte de Vida a iluminação para conduzir bem a comunidade! Quantas vezes o acompanhamos, admirados e felizes, na oração do terço meditado, na contemplação bem orientada das passagens da via-crúcis, nas bênçãos do seminário e da Casa das Irmãzinhas ao tempo da Páscoa, nas visitas ao Cemitério Municipal, no mês de novembro, na celebração do Setenário de Nossa Senhora das Dores!  Quantos momentos bons, com sabor de caminhada de Emaús, vivemos com ele nos bate-papos rápidos ou nas conversas mais longas! Se “escutar o canto dos pássaros, é uma forma de oração”, como dizia Pio XII, ouvir as pessoas, dialogar com elas, trocar “invisíveis riquezas”, das quais nos fala Saint-Exupéry, é ainda uma oração mais perfeita.

Alguém, em minha presença, pediu-lhe certa vez: “Monsenhor, acenda uma vela e reze por mim! E ele: Rezo, sim, mas vou fazer mais – serei eu a vela acesa!” Testemunho de fé, concretização do amor, certeza da ação misericordiosa de Deus, exercício puro de seu sacerdócio! Consumir-se incansavelmente pelos irmãos... 

Monsenhor Domingos faleceu serenamente no dia sete de junho de 2016 e está sepultado no Cemitério Municipal de Varginha.

Marcos Valério Albinati Silva


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