segunda-feira, 28 de maio de 2018

COMO A HISTÓRIA AFRO-BRASILEIRA É REPRESENTADA NOS LIVROS DIDÁTICOS.

Como a história afro-brasileira é representada nos livros didáticos

Fernanda de Araújo Patrocinio NEXO 16/05/2018
  Esta pesquisa, realizada na Universidade Federal de Santa Maria, analisa como indivíduos afro-brasileiros são representados na produção editorial voltada para a educação, e de que maneira políticas públicas relacionadas ao acesso à história e cultura africana e afro-brasileira estão sendo cumpridas. Entre as conclusões, a autora destaca que há diferenças entre o que  estabelece a lei 10.639/2003, relacionada a novas diretrizes para o ensino de história e cultura africana e afro-brasileira na rede pública de ensino, e a maneira como ela é colocada em prática. A que pergunta a pesquisa responde? 
A dissertação trata da representação social, simbólica e cultural de indivíduos afro-brasileiros na escola e de qual forma políticas públicas voltadas à educação, como a Lei 10.639/2003, podem ser colocadas em prática. A referida lei diz respeito à garantia do acesso à história e à cultura africana e afro-brasileira em todas as instituições de ensino e em todas as séries, a partir de disciplinas como língua portuguesa, história e artes. Questiona-se quem é o afro-brasileiro representado nas publicações voltadas à educação e às relações inter-raciais. Qual o seu lugar social e de fala? Quais são as nomeações, as adjetivações, as ações atribuídas, os conflitos, as tensões e as negociações que definem o afro-brasileiro nas cartilhas "Relações étnico-raciais e de gênero" de 2007, escolhidas para análise neste trabalho? Vale lembrar que tais obras foram elaboradas pelo Ministério da Educação, tendo como público-alvo o professor. Um dos objetivos principais foi conhecer opiniões e práticas dos professores de história, artes e língua portuguesa de escolas estaduais de São Paulo e do Rio Grande do Sul, com foco em Mogi das Cruzes e Santa Maria. Por que isso é relevante? A relevância do tema justifica-se quando considerados os contextos históricos da composição da população brasileira, que ressaltam a persistência da problemática do racismo na nossa sociedade. Atualmente, 53% dos brasileiros – cerca de 200,4 milhões cidadãos – se autodeclaram pretos ou pardos, segundo  Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio)  de 2013 –  dado este que deixa ainda mais assustadora a existência do racismo. Vale considerar que, entre os séculos 16 e 19, cerca de 4,4 milhões de africanos chegaram ao Brasil para serem escravizados. Nestes quatro séculos, desenvolveu-se a cultura brasileira, que também traz em sua composição a cultura e a história dos povos africanos em sua raiz. Parte-se, assim, da ideia de uma África fragmentada que auxilia na composição mestiça brasileira. A necessidade de leis e políticas públicas, que permitam o empoderamento e o ensino da cultura e da história afro-brasileira como um direito a qualquer brasileiro, é secular, de modo a nos fazer problematizar e refletir sobre o racismo institucionalizado e a herança da desigualdade social, representativa, econômica e política, que perpetua até hoje. Resumo da pesquisa Esta pesquisa trata de produções editoriais didáticas embasadas na lei 10.639/2003 e que trabalham o direito à afro-brasilidade e a apropriação dos professores. O problema central está definido na pergunta: quais são as representações do afro-brasileiro a partir de nomeações, adjetivações, ações atribuídas, tensões, conflitos e negociações apresentados nestas narrativas? A justificativa de sua execução é a questão de reconhecimento de cidadania afro-brasileira e a necessidade de políticas públicas para tal, perpassando por questões ainda latentes, como o racismo. O objetivo geral deste estudo é promover o diálogo acerca de medidas democráticas e inclusivas relacionadas à educação e à cultura afro-brasileira como parte também integrante da cultura brasileira, considerando para tal o nível simbólico das representações midiáticas editoriais. A metodologia utilizada é a pesquisa bibliográfica – com o uso da narratologia para análise das cartilhas selecionadas para o corpus. Além disso, são analisadas 348 entrevistas fechadas para conhecermos as apropriações de professores de São Paulo e do Rio Grande do Sul acerca de produções editoriais didáticas voltadas à afro-brasilidade. Quais foram as conclusões? Percebeu-se que há diferença entre o dispositivo da lei 10.639/2003 e a disposição com relação à lei. Ou seja, institucionalizar o direito ao acesso ao conhecimento da história e da cultura afro-brasileira é diferente da disposição em efetivá-la, colocá-la em prática – constatação advinda tanto das interpretações acerca das entrevistas com os professores como das cartilhas. Retomando as questões introdutórias da dissertação, verificou-se que as políticas inclusivas provêm de demandas sociais e necessidades históricas de reparação social, feitas a partir do diálogo entre sociedade e seus representantes políticos. A representação simbólica da cultura e do indivíduo afro-brasileiro é um direito fundamental para a interpretação e o entendimento da história do país por intermédio de sua pluralidade, considerando-se as tentativas de apagamento e silenciamento dos resquícios africanos da identidade nacional – como a política de branqueamento. Portanto, iniciativas como a lei 10.639/2003 e a produção de materiais editoriais didáticos para subsidiar professores e alunos são importantes, pois podem conhecer e debater as influências e a presença da cultura afro-brasileira no cotidiano. Quem deveria conhecer seus resultados? Qualquer cidadão que esteja interessado em conhecer nossa história, no geral, pois a pesquisa é voltada à formação de um dos fragmentos da identidade brasileira e seus reflexos culturais (também dentro da escola). Afrodescendentes, professores, pesquisadores, jornalistas, estudantes e interessados no geral em saber um pouco sobre as relações étnico-raciais na escola e na nossa cultura e como tais relações estão relacionadas aos dados sociais, econômicos e históricos da população negra. Fernanda de Araújo Patrocinio é formada em Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero, mestra em comunicação midiática pela Universidade Federal de Santa Maria e doutoranda em sociologia pela Universidade de São Paulo. Tem extensão em história e política da América Latina pela University of Toronto (2012). Trabalha como repórter, editora e pesquisadora desde 2009, cobrindo narrativas dos segmentos de cultura e educação para veículos impressos e digitais. É também consultora de Comunicação, Educação e Tecnologia para editoras didáticas e palestrante. Com a dissertação "O livro e o axé, o erê com Ganga Zumba: representações afro-brasileiras na produção didática voltada à lei 10.639/2003 e apropriação dos professores de SP e do RS" foi uma das vencedoras do Prêmio Antonieta de Barros, reconhecimento promovido pela Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial do Ministério da Justiça e da Cidadania (SEPPIR/MJC), em 2016.

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