segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

PROIBIDO PARA MAIORES.

Proibido para maiores



"A ditadura é como um ditado. Alguém diz o que é para fazer, e todo mundo faz.
 Porque tem de ser assim e pronto. O homem que dita é quem manda, ele é o ditador."


Com o objetivo de despertar o interesse dos pequenos leitores, o livro 
A ditadura é assim, lançado neste mês, explica a figura do ditador para as crianças.

Será que é possível falar de política com elas? O selo infantil Boitatá, novidade da 

editora Boitempo, acredita que sim. Além da edição que traz figuras como Josef 
Stalin, Benito Mussolini, Adolf Hitler e Emílio Garrastazu Médici, o título 
A democracia pode ser assim traça o outro caminho: trata de conceitos como 
liberdade e fala da dinâmica das eleições diretas.

Os livros chegam às livrarias em meio ao cenário de efervescência política e social 

que vive o Brasil nos últimos meses.

Para Thaisa Burani, editora do selo, desde junho de 2013 o País vive um momento 


de ebulição social muito forte. "São diversos setores da população 
questionando as formas de fazer política. E as crianças não passam
 incólumes, elas assistem a tudo isso na televisão, em casa, nas ruas, 
e querem entender, querem participar", diz. Palavras como "ditadura", 
"democracia", "impeachment" e "corrupção" passam a figurar no vocabulário
com mais frequência - e, com as redes sociais, ainda mais cedo.

Consagrada como uma editora acadêmica e referência na publicação de obras clássicas relacionadas ao universo da política, a Boitempo percebeu a carência de materiais voltados ao público infantil e introdutórios às ciências sociais. A Boitatá 

surgiu daí: uma "Boitempo para crianças".

A coleção, que quer despertar o questionamento e o senso de justiça social nos pequenos leitores, foi elaborada originalmente por educadores espanhóis, 

pela extinta editora catalã La Gaya Ciencia, logo após a queda da ditadura do 
general Francisco Franco, no final dos anos 1970.

Além dos dois livros que saem agora, estão previstos para serem lançados no início 

do próximo ano os outros dois volumes que compõem a coleção: O que são classes sociais? e As mulheres e os homens. Para Thaisa, a coleção, embora carregue o 
nome de Livros para o Amanhã, mostra como textos escritos há quase quarenta anos continuam atuais. "O que nos conquistou foi essa atemporalidade, essa atualidade do conteúdo, e claro, sua urgência."

As obras ganharam um novo projeto gráfico, com ilustrações feitas pelo artista basco Mikel Casal, no caso de A ditadura é assim, e colagens da espanhola Marta Pina, no livro sobre democracia. Os desenhos do brasileiro Ernesto Geisel e do romeno 

Nicolae Ceaucescu, por exemplo, mostram a preocupação em não se inclinar a um 
lado, na escolha entre ditaduras consideradas de direita ou de esquerda.

Ao final de cada livro, questões são colocadas para serem debatidas em casa ou em sala de aula. Os livros são indicados para crianças de 8 a 10 anos. "Nosso principal objetivo é oferecer um ponto de partida. Formação política é uma construção eterna, e nosso papel, enquanto editores, é de oferecer os tijolos. Com o público infantil, nós temos de ser muito mais respeitosos, no sentido de não impor dogmas, cartilhas, e sim de ajudá-los a pensar e a ter dúvidas", diz Thaisa.

No mês em que estudantes deram uma lição em um governador de um importante estado do País, percebe-se que política não é apenas coisa de adulto, não.

Curiosidade

- Para a edição brasileira, o ilustrador Mikel Casal inseriu duas caricaturas novas que não constam na edição espanhola. Isso porque, originalmente, o livro traz em suas páginas uma "galeria de ditadores" com caricaturas de ditadores célebres da história mundial. Como não havia nenhum representante brasileiro, Casal se dispôs a incluir desenhos de Médici e de Geisel especialmente para a edição.

Milena Buarque - Brasil Post - 14/12/2015

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