sábado, 28 de abril de 2018

PRECISAMOS DE PROFESSORES LEITORES!

Pilar Lacerda: "Precisamos de professores leitores!"

Galeno Amorim 22/03/2018
Para a educadora Pilar Lacerda, Diretora da Fundação SM Brasil, o grande problema para formar uma geração de novos e bons leitores é que a maior parte dos professores não é leitor. Com a experiência de professora de sala de aula, ex-secretária municipal de Educação de Belo Horizonte, ex-presidente da Undime (União de Dirigentes Municipais de Educação) e ex-responsável no MEC pela Educação Básica no país, Pilar faz uma avaliação contundente e reforça o coro: "precisamos de professores leitores".
 
Depois de ter passado desde a sala de aula até o comando das políticas públicas, tanto no âmbito local quanto no nacional, qual é, na sua opinião, o pulo do gato para a escola brasileira conseguir formar leitores que gostem de ler mesmo depois de estarem distantes dos bancos escolares?
R) A primeira questão a pontuar é a formação do professor. Precisamos ter professores leitores para que essa atividade em sala de aula seja prazerosa – e a maior parte dos professores não é leitor. O segundo ponto importante é ter programas de leitura nas escolas, o que não significa leitura obrigatória e preenchimento de fichas. Entre as experiências que tenho visto que dão certo, destaco as escolas que têm programas de leitura que envolvem horas livres, ler em outros lugares que não a sala de aula, música ambiente, além do envolvimento de todos o setores. Conheci uma escola no Nordeste que tinha uma boa nota no IDEB, em que terça-feira todo mundo parava por uma hora para ler. A coordenação colocava cestas com jornais, revistas, quadrinhos, livros, e todo mundo lia – merendeira, professor, porteiro, criança... Isso não acontece espontaneamente, não acontece obrigatoriamente, mas acontece com planejamento. A importância da leitura, de formar leitores e de ter uma comunidade leitora tem que fazer parte do Projeto Pedagógico da escola.  Na Fundação SM, temos um programa de fomento à leitura, o Myra, que visa apoiar o aprimoramento das competências leitoras de estudantes de escolas públicas. Na prática, promove encontros de leitura, com uma hora de duração cada, em que um voluntário lê com uma criança, estabelecendo uma relação de um para um, e construindo diversos diálogos entre o texto, outros livros e vivências. Entre os resultados do Programa, chama a atenção que 79% dos estudantesatendidos pelo Myra tiveram melhoria de desempenho acima da média de suas turmas.

Como se forma professores leitores que já chegaram à escola sem muita familiaridade e gosto pela leitura literária?
Pilar Lacerda: O professor também tem que ter um tempo de leitura na sua formação – mas que seja uma leitura de sua escolha. É importante respeitar o gosto do professor. Existe uma tendência a desqualificar o best seller, a Bíblia, o livro didático ou de autoajuda e, muitas vezes, essa pode ser a porta de entrada para outras leituras. Eu penso que é mais importante ter um professor que leia o que quiser, mas que entenda o que lê, do que um professor que lê aquilo que, entre aspas, é considerado “bacana, de qualidade, profundo” e não se envolve. Se ele não gosta ou não entende o que lê, não vai persistir nesse processo. Também é interessante lembrar que  existem outras formas de leitura, lembrar do cinema como leitura, do teatro como leitura, da arte com leitura. Um projeto que eu conheci – e que eu sei que funciona com professores – levou alunos do ensino médio para a exposição do Picasso, depois exibiu um filme sobre a vida do artista, propôs uma pesquisa sobre o que foi Guernica, estimulou a busca por biografias. Com isso, os meninos e os professores passam a ver e a ler coisas que interessam. Estabelecer vínculos com outras leituras também é muito importante.

Setores expressivos de educadores brasileiros têm manifestado preocupação diante do modo com que a novíssima Base Curricular Nacional chegou. Na sua opinião, ela traz boas ou más notícias para a prática da leitura literária nas escolas?
Pilar Lacerda: Eu não acho que a Base Nacional Comum Curricular vai operar milagres, ela em si não provoca transformação. No entanto, há um dado preocupante que é a obrigatoriedade da alfabetização até o segundo ano, diminuindo um ano no processo, o que pode provocar mais reprovação, mais tensão em sala de aula, e menos atenção com esta alfabetização mais aprofundada e mais reflexiva. Existe uma preocupação com o desenvolvimento de competências, como a de explicar o mundo, de entender o mundo, isso tudo passa pela reflexão e formação do leitor. Pode-se trabalhar a alfabetização como um processo que não termina no final do segundo ano, a alfabetização e o letramento como processos mais reflexivos, de interpretação e crítica, e não simplesmente de decifração de códigos, porque a alfabetização é mais do que isso. É importante envolver o prazer da leitura no processo de alfabetização. A leitura não pode andar perto de fracasso, perto de reprovar a criança, perto de tratá-la como uma pessoa incompetente, incapaz. Precisamos ter cuidado com a  alfabetização até o final do segundo ano, principalmente em relação a uma grande massa que vem de famílias não leitoras, a professores que também não são leitores muito reflexivos, para não punir a parte mais frágil dessa historia inteira que é a criança de 6 e 7 anos, que está entrando na escola.

O MEC acaba de anunciar a padronização dos livros de literatura que voltará a comprar, a partir de 2019. Isso é um problema para a prática da leitura ou somente para o mercado editorial?
Pilar Lacerda: Anunciar que vai voltar a comprar livro de literatura é muito bom, porque as crianças precisam ter acesso ao livro, a escola tem que ter um acervo bom. Mas a padronização é ruim para a prática da leitura. A leitura literária, principalmente a infantil e juvenil, pressupõe vários formatos. A decisão não vai atrapalhar o mercado editorial, porque o mercado editorial vai adaptar a obra, no entanto, a obra que foi pensada para ter um formato x ou y terá que ser enquadrada em três formatos definitivos. Isso pode tornar o processo mais barato, pode tornar mais acessível, com a compra de imensas quantidades, mas há uma perda da qualidade literária.

Link para Fundação SM: http://fundacaosmbrasil.org 

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