quinta-feira, 18 de julho de 2013

A INSUSTENTÁVEL HERANÇA MALDITA.

TERÇA-FEIRA, JULHO 16, 2013

A INSUSTENTÁVEL HERANÇA MALDITA - ARNALDO JABOR

O Estado de S.Paulo

O que aconteceu com esse governo foi mais um equívoco na história das
trapalhadas que a esquerda leninista comete sempre, agora dentro do PT.
O fracasso é o grande orgulho dos revolucionários masoquistas. Pelo
fracasso constrói-se uma espécie de 'martírio enobrecedor', já que
socialismo hoje é impossível. Erraram com tanta obviedade (no mensalão
por exemplo ou no escândalo dos 'aloprados'), com tanto desprezo pelas
evidências de perigo, tanta subestimação do inimigo, que a única
explicação é o desejo de serem flagrados. Sem contar o sentimento de
superioridade que se arrogaram sobre nós, os 'alienados burgueses
neoliberais'.
Conheço a turminha que está no poder hoje, desde os idos de 1963, e
adivinhava o que estava por vir. Conheci muitos, de perto.
Nos meus 20 anos, era impossível não ser 'de esquerda'. Nós queríamos
ser como os homens heroicos que conquistaram Cuba, os longos cabelos de
Camilo Cienfuegos, o charuto do Guevara, a 'pachanga' dançada na chuva
linda do dia em que entraram em Havana, exaustos, barbados, com fuzis na
mão e embriagados de vitória.
A genialidade de Marx me fascinava. Um companheiro me disse uma vez:
"Marx estudou economia, história e filosofia e, um dia, sentou na mesa e
escreveu um programa racional para reorganizar a humanidade". Era a
invencível beleza da Razão, o poder das ideias 'justas', que me
estimulava a largar qualquer profissão 'burguesa'. Meu avô dizia:
"Cuidado, Arnaldinho, os comunistas se acham médiuns, aquilo parece
tenda espírita...". Eu não liguei e fui para os 'aparelhos', as reuniões
de 'base' e, para meu desespero, me decepcionei.
Em vez do charme infinito dos cubanos, comecei a ver o erro, plantado
em duas raízes: ou o erro de uma patética organização estratégica que
nunca se completava e, a 'margarida que apareceu' agora com todo
esplendor: a Incompetência (com 'i' maiúsculo), a mais granítica,
imaculada incompetência que vi na vida. Por quê? Porque a incompetência
do comuna típico é o despreparo sem dúvidas, é a burrice alçada à
condição de certeza absoluta. É um ridículo silogismo: "Eu sou a favor
do bem, logo não posso errar e, logo, não preciso estudar nem
pesquisar". Por que essa incompetência larvar, no DNA do comuna? Porque
eles não lutam pelo 'governo' de algo; lutam pelo poder de um futuro que
não conhecem. O paradoxo é que odeiam o que têm de governar: um país
capitalista. Como pode um comuna administrar o capitalismo? O velho
stalinista Marcos Stokol confessou outro dia no jornal: "O PT entrou no
governo porque queremos mudar o Estado". Todos os erros e burrices que
eu via na UNE e nas reuniões do PC eram de arrepiar os cabelos. Eu
pensei horrorizado quando vi o PT no poder: vão fornicar tudo.
Fornicaram.
E olhem que estou me referindo apenas ao 'rationale' básico,
psicológico, de uma 'boa consciência' incompetente que professam. Sem
mencionar a roubalheira justificada pela ideologia - "desapropriar os
bens da burguesia para nossos fins". A fome de uma porcada magra
invadindo o batatal - isso eu não esperava.
Como era fácil viver segundo os escassos 'sentimentos' catalogados
pelos comunas: ou o companheiro estava sendo 'aventureiro' ou
'provocador' ou então era 'oportunista, hesitante, pequeno-burguês' ou
sectário ou 'obreirista' ou sei lá o quê. Era fácil viver; ignorávamos
os ignorantes, os neuróticos, os paranoicos, os psicopatas, os burros e
os sempre presentes filhos da p... Nas reuniões e assembleias, surgia
sempre a voz rombuda da burrice. Aliás, burrice tem sido muito
subestimada nas análises históricas. No entanto, ela é presença
obrigatória, a convidada de honra: a burrice sólida, marmórea. Vivíamos
assediados por lugares-comuns. O imperialismo era a 'contradição
principal' de tudo (vejam o ardor com que condenaram a 'invasão
americana' de nossos segredos de Estado há pouco. Quais? Quanto a Delta
levou, onde está o Lula?). As discussões intermináveis, os diagnósticos
mal lidos da Academia da URSS sempre despencavam, esfarinhavam-se diante
do enigma eterno: "O que fazer?". E ninguém sabia.
E veio a sucessão de derrotas. Derrota em 64, derrota em 68, derrota na
luta armada, derrotas sem-fim.
Até que surgiu, nos anos 70, uma homem novo: Lula, diante de um mar de
metalúrgicos no ABC. Aí, começou a romaria em volta da súbita aparição
do messias operário, o ungido. Lula foi envolvido num novelo de
ideologias e dogmas dos comunas desempregados, desfigurando de saída o
que seria o PT.
Quando comecei a criticar o PT e o Lula, 'petralhas' me acusaram de ser
de direita, udenista contra operários. Não era nada disso; era o pavor,
o medo de que a velha incompetência administrativa e política do
'janguismo' se repetisse no Brasil, que tinha sido saneado pelo governo
de FHC. Não deu outra. O retrocesso foi terrível porque estava tudo
pronto para a modernização do País; mas o avião foi detido na hora da
decolagem. Hoje, vemos mais uma 'revolução' fracassada; não uma
revolução com armas ou com o povo, mas uma revolução feita de malas
pretas, de dinheiro subtraído de estatais, da desmoralização das
instituições republicanas. Hoje, vemos o final dessa epopeia burra,
vemos que a estratégia de Dirceu e seus comparsas era a tomada do poder
pelo apodrecimento das instituições burguesas, uma espécie de
'gramscianismo pela corrupção' ou talvez um 'stalinismo de resultados'.
O perigo é que os intelectuais catequizados ainda pensam: "O PT
desmoralizado ainda é um mal menor que o inimigo principal - os tucanos
neoliberais".
Como escreveu minha filha Juliana Jabor, mestra em antropologia,
"ajudado por intelectuais fiéis, Lula poderá se apropriar da situação
com seu carisma inabalável, para ocupar a 'função paterna' que está vaga
desde o fim do seu governo. Pode ser eleito de novo e a multidão se
transformará, aí sim, em 'massa'. O 'movimento' perderá o seu caráter de
produção de subjetividades e se transformará numa massa guiada por um
líder populista".


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