sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

ENTREVISTA COM FRANCISCO WEFFORT


Francisco Weffort

Cientista político, Professor Emérito da USP e ex-Ministro da Cultura (1995-2002). Doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo, foi Titular da cadeira de Ciência Política nessa Universidade. Professor Visitante da Universidade de Notre Dame (EUA) (2003).
Algumas Publicações de Francisco Weffort: Populismo y Marginalidad en America Latina. San Jose, Costa Rica,1974. O Populismo na Política Brasileira. São Paulo. Ed. Paz e Terra, 1978. Por que Democracia? São Paulo. Ed. Brasiliense, 1984. Os Clássicos da Política. São Paulo. Ed. Ática, 1989. Qual Democracia? São Paulo. Ed. Companhia das Letras, 1992. Formação do Pensamento Político e Brasileiro. São Paulo. Ed. Ática, 2006. Espada, cobiça e fé. Rio de Janeiro. Ed. Civilização Brasileira, 2012.
Site Pessoal: weffort.com.br

Em entrevista, Francisco Weffort diz que gostaria de formular a José Genoino, o principal dirigente petista à época do auge do mensalão, a seguinte pergunta: “que causa é essa que ele defende que permite desvio de dinheiro público e traição da democracia?”.
“Que causa é essa que permite desvio de dinheiro público e traição da democracia?”
O professor Francisco Weffort é um respeitado membro da Academia no Brasil. Decano do Instituto de Estudos Políticos e Sociais em 2003, lecionou como visiting professor na Universidade de Notre Dame. Tem importantes livros publicados, entre os quais Os clássicos da política em 2006. Foi premiado pela Academia Brasileira de Letras em 20 de julho de 2007, e durante muitos anos foi articulista de ISTOÉ.
Banco de Idéias: Quando o PT foi fundado, quais eram as diretrizes políticas básicas do partido?
Francisco Weffort: Entre as diversas tendências existentes no PT, predominava um vago socialismo democrático. Podemos chamar a isso de ideologia, mas tendo que admitir que eram pequenos e poucos os seus efeitos práticos. Na realidade dos fatos, o PT, nos seus inícios, se limitava a um movimento social, aliás como reflexo da mentalidade dos sindicalistas que o formaram. Além disso, como efeito da crise do chamado “socialismo burocrático” dos anos 80, ainda vigente na URSS e na Europa oriental. Como repudiávamos aquele “socialismo” e aqui vivíamos em um regime autoritário, tomou muita força no PT a valorização dos movimentos sociais, como expressão de uma espontaneidade da sociedade civil. Pelas mesmas razões, tomou muita força também a valorização da democracia política.
B.I.: Você definiria então o PT como um partido socialista ou social-democrata. Por quê?
F.W.: Não era ainda socialista, embora muitos, pelo menos até 1989, desejassem que chegasse a tal. Nem era social-democrata, no sentido europeu. Muita gente no PT desconfiava da social-democracia européia, achando muito estranha a convivência européia entre Estado e Mercado.
B.I.: Quais foram as principais mudanças programáticas ocorridas no partido da fundação até agora?
F.W.: Em 1989-1990 algumas mudanças políticas acarretaram importantes mudanças programáticas: a derrota de Lula diante de Collor, a queda do muro de Berlim e, logo a seguir, oimpeachment de Collor. Juntas, essas circunstâncias diluíram um pouco mais o socialismo petista, reforçando o compromisso com a democracia política e ensaiando um compromisso com uma política de desenvolvimento econômico com base no crescimento de um “mercado interno de massas”.
B.I.: Quando você foi escolhido por FHC Ministro da Cultura, quais foram as reações do PT, enquanto partido, e de Lula como candidato derrotado à Presidência da República?
F.W.: O Lula recebeu a notícia com naturalidade. Ele estava de certo modo preparado para recebê-la. Como havíamos trabalhado alguns anos juntos na direção nacional, ele certamente se deu conta de que desde as eleições para a Constituinte eu comecei a me afastar do partido. Em 1989-1990 eu estive fora do Brasil, dando aulas em uma universidade americana. Embora tenha continuado no PT e tenha votado no Lula em 1994, meu interesse pelo PT já havia diminuído muito. Além disso, em 1994 as diferenças programático-eleitorais entre Lula e Fernando Henrique haviam se tornado muito pequenas. As semelhanças avultavam, até porque os dois deviam disputar os indecisos, esse “eleitorado do meio” que decide eleições desse tipo. Logo depois das eleições eu manifestei a vontade de sair do PT, mas Lula e Gilberto, então secretário-geral, me pediram que ficasse um pouco mais. Veio depois disso o convite de Fernando Henrique, de quem sou amigo desde 1955 (muito tempo antes de vir a conhecer o Lula em 1978). Minha saída do PT foi vista como natural pelo Lula, e também por dirigentes e militantes que conheciam minha trajetória e minhas opiniões. Houve, no entanto, algum mal-estar e algum “patrulheirismo” de gente mais distante.
B.I.: Há pouco mais de um ano, tentando redefinir o princípio marxista de que os fins justificam os meios, o deputado José Genoino, presidente do PT, justificou que “tudo pela própria causa, nada em causa própria”. Isto é uma excusa para justificar o “mensalão” e outras operações duvidosas financiadas como recursos públicos?
F.W.: Sim, acho que isso é um argumento visando justificar o “mensalão”. Conhecendo o Genoino, acredito que ele não tenha se envolvido no “mensalão” “em causa própria”. Mas ele deve saber, como todos sabemos, que o “mensalão” significou desvio de dinheiro público por parte de quem tinha o dever de servir ao interesse público. Esse dinheiro foi usado para comprar votos de representantes do povo na Câmara, e por isso significou, de fato, uma traição da democracia. Haveria que perguntar a Genoino o seguinte: que “causa” é essa que ele defende que permite desvio de dinheiro público e a traição da democracia?
B.I.: A única coisa que junta o PT é Lula ou existe alguma coesão em torno de princípios? A seu ver quais são eles?
F.W.: Lula é hoje mais forte que os princípios para unificar o PT. Os princípios se diluíram muito, e o PT está se transformando em um personalismo a mais na política brasileira, um “lulismo”, mais ou menos ao modo do “ademarismo”, do “janismo”, etc. Creio, porém, que além de Lula os petistas são unidos por uma sensibilidade social comum. Essa sensibilidade (mais igualdade, mais emprego, etc.) não é exclusiva do PT, existe também em muitos outros setores da opinião publica. Mas é marcante no petismo.
B.I.: Muita gente afirma que o PSDB e as alas menos “puristas” do PT têm princípios semelhantes. Como você vê isso?
F.W.: Muitos tucanos e muitos petistas têm em comum a sensibilidade social que menciono acima. Têm também em comum um compromisso com a democracia política. A diferença maior é na origem social das lideranças maiores dos dois partidos. Os líderes do PSDB têm, na maior parte, uma origem de classe média alta, e os do PT, também na maior parte, uma origem sindical ou na classe média baixa.
B.I.: O cidadão Francisco Weffort, professor universitário, é hoje um homem com projeto político. Pode defini-lo em linhas gerais?
 F.W.: Saí do PT e aderi ao governo FHC, mas não ao PSDB. Aliás, não pretendo voltar à militância política, não pelo menos à militância partidária. Sou, na verdade, cada vez menos político e cada vez mais um pesquisador. Escrevi e publiquei há pouco, na verdade no ano passado, um livro sobre aFormação do Pensamento Político Brasileiro. Meu interesse maior no momento são minhas pesquisas e leituras sobre as origens da sociedade brasileira.
B.I.: O que é preciso fazer com a educação no Brasil, pessimamente qualificada por todas as agências internacionais, apesar dos vultosos investimentos realizados, especialmente na universidade? 
 F.W.: É preciso fazer uma reforma dos métodos de gestão na educação brasileira. Perdemos, de há muito, o sentido do papel da educação na construção de uma civilização moderna e democrática no Brasil. Além disso, o que denota uma fatal ausência de rumos, nosso sistema educacional está infiltrado pelo clientelismo, nepotismo e favoritismos diversos, que são os mesmos que viciam a administração pública em geral. É claro que se quisermos uma educação de qualidade sempre serão necessários mais recursos. Mas duvido que hoje uma entrada maior de recursos melhore sensivelmente o quadro geral.
B.I.: Você é o favor ou contra a participação da iniciativa privada na educação? Por quê?
 F.W.: Sou a favor. Entendo que a educação é dever do Estado. Mas isso não significa que deva ser monopólio do Estado. A educação é dever do Estado, da família e da sociedade em geral.

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