"Quando
você se põe a escrever, você não se põe a escrever pensando nas letras, você se
põe a escrever pensando no sentido que você vai dar. Seus elementos são
símbolos, são signos, são coisas mais compactas, com valor em si, e não,
fragmentos de sinais", afirmou.
Segundo
ela, a criança deveria ser apresentada à letra cursiva, independentemente de
usá-la ou não após o domínio dessa modalidade de escrita. "Não digo que as
pessoas não possam escrever à mão com letra de forma, ou digitar, mas não pode
ser subtraído dela a oportunidade de ser apresentada a esse tipo de escrita",
disse.
A
professora cita o avanço tecnológico como um fator de desenvolvimento, mas faz
ressalvas. "A formação não pode ser bitolada pelo que está na moda, pelo que a
gente acha que é eficiente".
Maria
Helena disse acreditar que a letra cursiva não deverá desaparecer tão cedo no
país. "Nós temos um país grande, com núcleos completamente diferentes. Alguns
mal dispõem de um lápis e um papel", afirma.
Segregação
Já
para Francisca Paulo Toledo Monteiro, que trabalha com alfabetização e
letramento na Divisão de Educação Infantil e Complementar da Unicamp
(Universidade Estadual de Campinas), em São Paulo, o ensino da letra cursiva no
país teve, por muito tempo, papel de segregação em alguns casos.
"Escrever
em letra cursiva exclui milhões de pessoas. A letra cursiva, hoje em dia, é uma
falácia. Isso não é mais uma obrigatoriedade, pelo menos para uma educação
inclusiva. O importante da escrita é que ela tenha sentido e faça a comunicação,
ou seja, eu não posso inventar uma palavra ou colocá-la fora de ordem. Mas, se
vou escrever com letra cursiva ou de bastão, não tem problema nenhum",
teorizou.
A
educadora diz que a escola excluía crianças com síndrome de Down, paralisia
cerebral ou problemas motores, que não conseguiam escrever com letra
cursiva.
"O
cenário que nós tínhamos era, muitas vezes, o de encaminhar a criança para
treinar caligrafia e, em muitos casos, a criança era inteligentíssima, mas se
perdia na escola, era retida nos estudos porque não conseguia fazer uma letra
legível".
A
especialista ainda questionou se, de fato, a criança que domina a letra cursiva
tem consciência do que escreveu. "Nós temos algumas crianças que copiam textos
com a letra maravilhosa, mas não leem. A teoria que, para estar alfabetizado,
tinha grafar com letra cursiva, foi por terra", afirmou.
Questionada
sobre a versão de que a letra cursiva ajuda na cognição, a professora discordou.
"Os japoneses não escrevem em letra cursiva e, nem por isso, deixaram de
desenvolver a cognição. Existem muitas maneiras de desenvolver a cognição.
Articular o pensamento com a palavra e com a ação e com o sentimento",
declarou.
'A letra cursiva está fadada a acabar'
Cláudia
Aparecida Pereira
A
professora Maria Margareth de Castro Pinto Osório, que hoje ocupa o cargo de
vice-diretora na Escola Estadual Celmar Botelho Duarte, em Belo Horizonte, disse
acreditar no desaparecimento da letra cursiva. A educadora lecionou em sala de
aula por 24 anos na rede pública e disse estar prestes a se aposentar.
"No
meu entender, a letra cursiva está fadada a acabar, porque as pessoas só estão
querendo teclar e, ao teclar, deixam de escrever. Hoje não se escreve mais,
abrevia-se', avaliou.
Ela
disse achar importante o ensino da letra cursiva para que a criança desenvolva o
gosto pela escrita e pela leitura. "Antigamente, a criança escrevia e tinha
noção do que estava escrevendo. Uma redação tinha princípio, meio e fim. Hoje
não tem mais isso. Escreve-se muito pouco. Acho que precisa juntar o novo com o
antigo".
A
dirigente confessou que, quando vê um aluno com a letra ilegível, tira dinheiro
do bolso para comprar um caderno de caligrafia. "Eu compro e passo exercícios
para ele. Mesmo não sendo professora deles, dou o caderno e depois corrijo no
fim de semana", confidenciou.
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