A CASA DOS MARAJÁS.

Enquanto um professor ganha em média R$ 3,5 mil por mês, a Câmara Municipal de São Paulo paga R$ 23,5 mil a garagistas

CAFÉ AMARGO. 

Uma copeira da Câmara de São Paulo chega a receber 15 salários mínimos, uma aberração

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Câmara de Vereadores de São Paulo se transformou no paraíso dos funcionários públicos. A Casa abriga os servidores mais bem pagos do País. É de causar revolta no mais pacato cidadão, já que os supersalários são bancados com os impostos arrecadados do contribuinte. Um simples engraxate funcionário do legislativo municipal recebe R$ 10.400 por mês, enquanto que um ascensorista até R$ 11 mil e um manobrista R$ 15 mil mensalmente. O chefe dos garagistas chega a faturar num mês R$ 23.500. Muito mais do que os 55 vereadores, cujos vencimentos somam R$ 15 mil cada um. Um absurdo completo.
Um total de 140 servidores da Câmara tem salários maiores até do que o do prefeito, que recebe R$ 24 mil, o que representa uma distorção. Portanto, acima do teto constitucional, como é o caso de procuradores legislativos, que ganham R$ 60 mil por mês. Mas eles não têm a mínima vergonha disso. São marajás com o aval da Justiça, pois recorreram ao Judiciário para manter os salários estratosféricos. Isso faz com que a Câmara gaste anualmente R$ 407 milhões com os 2 mil funcionários concursados. O pior de tudo é que os 114 mil servidores da educação de São Paulo ganham um piso salarial de R$ 3.550 por 40 horas/aula por semana. Não é por acaso que a educação brasileira é uma das piores do mundo.

Os supersalários na Câmara de São Paulo começaram a ganhar corpo a partir de 1988, com a promulgação da nova Constituição. É que todos os funcionários públicos contratados até então pela CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas) passaram a ter estabilidade no emprego. E, assim, dezenas de funcionários da Câmara, que exerciam funções de engraxates, ascensoristas, garagistas, barbeiros, copeiros, encanadores, chaveiros e operadores de máquinas copiadoras, por exemplo, tornaram-se estáveis no cargo, com os salários que recebiam, mais os benefícios nos cargos por tempo de serviço.
Dessa forma, dezenas de funcionários recebem salários bem acima do mercado. Um escândalo. Um encanador recebe R$ 11 mil. Um operador de copiadora R$ 9.800. Um chaveiro R$ 10.900. Os 11 ascensoristas recebem entre R$ 8.700 e R$ 11 mil, embora todos os elevadores da Câmara sejam eletrônicos. Os 24 manobristas de carros no estacionamento recebem R$ 15.845. Um lavador de carros R$ 11.295, apesar de ninguém mais lavar carros no estacionamento da Câmara. O chefe dos garagistas ganha R$ 23.500. Mas há sete copeiros que recebem de R$ 9 mil a R$ 13 mil mensais.

A direção da Casa diz que não pode cortar esses valores, pois a legislação não permite que os salários sejam rebaixados. A reportagem da ISTOÉ esteve na Câmara de Vereadores, mas não conseguiu encontrar esses marajás. O único funcionário que ainda engraxa sapatos, daria expediente no primeiro subsolo, mas ele não foi encontrado lá, embora as pessoas do local garantam que ele aparece de vez em quando. Quando a reportagem foi à garagem para falar com os garagistas, os jornalistas foram retirados do local pela Guarda Metropolitana. A assessoria de imprensa disse que não poderia localizar os funcionários que ganham supersalários. Eles não querem se expor ou dar entrevistas. Vivem às sombras do gigantesco prédio da Câmara, no centro de São Paulo.

Aqui não tem crise
A Câmara de Vereadores de São Paulo gasta uma fortuna do dinheiro público com salários estratosféricos:

R$ 407 milhões
é quanto custam os 2 mil funcionários da Casa

Engraxate ganha
R$ 10.400 por mês

Ascensorista recebe até
R$ 11 mil

Os 24 manobristas têm salários de
R$ 15.845

O chefe dos garagistas tem vencimentos de
R$ 23.500, mais do que os 55 vereadores, que ganham R$ 15 mil cada um

Encanador recebe
R$ 11 mil

Operador de copiadora possui salário de
R$ 9.800

Chaveiro ganha
R$ 10.900

Os 11 ascensoristas recebem entre
R$ 8.700 a R$ 11 mil

Sete copeiros ganham entre
R$ 9 mil e R$ 13 mil mensais

Procuradores legislativos chegam a faturar
R$ 60 mil por mês

140 servidores da Câmara possuem salário maior do que o do o prefeito, que recebe R$ 24 mil