BH apresenta série de encontros literários
Márcia Maria Cruz - Uai - 07/11/2016
O leitor, por definição, é aquele que decodifica a escrita num ato, em geral, silencioso e solitário. No entanto, cada vez mais, o lugar da leitura tem sido expandido, para que a literatura saia da torre de marfim dos eruditos e se dissemine no dia a dia das pessoas comuns. Leitores contemporâneos querem se encontrar para falar sobre o que leram, dividir experiências, descobrir novos autores e dar dicas sobre obras que os transformaram.
A vocação de Belo Horizonte para a literatura, com escritores renomados que nasceram aqui e outros tantos que pela cidade passaram, não poderia deixar de se refletir nos leitores. Cada vez mais, os belo-horizontinos contam com iniciativas e espaços criados exclusivamente para falar a respeito de literatura. São iniciativas como Leia Mulheres, Ciclo de Convivência Literária, Caro Leitor e Roda de Leitura, cujo foco é o leitor. “Temos muitos escritores bons em Minas, mas havia pouca gente falando de literatura na rua”, afirma Thiago Panini, um dos idealizadores do Ciclo de Convivência Literária, juntamente com a escritora Maria Esther Maciel.
Panini conta que a proposta surgiu diante da carência de espaços para falar de literatura em contraste com a boa oferta de locais onde se pode discutir cinema, música e outras artes. “Nos eventos literários, o escritor fala da obra, mas há uma distância entre ele e a plateia. Queríamos um espaço horizontal, mais democrático. Quem lê tem uma visão própria”, afirma. A ideia era que o local físico espelhasse a horizontalidade, possibilitando a interação de escritor e leitores numa roda. “A literatura no Brasil é um espaço elitista, do mesmo jeito que o debate sobre ela. O ciclo é uma forma de popularização da leitura. A plateia participa, fala sobre o que gosta de ler, como se sente quando lê. É um encontro com o leitor.”
Dentro da programação do ciclo, o poeta, compositor e artista visual Renato Negrão ocupou o lugar de leitor na última quinta, quando falou sobre o livro Rilke shake, da escritora gaucha Ângela Freitas. “É um lugar de que gosto muito. Falo de maneira apaixonada”, afirma. Autor de No calo (1996), Dragões do paraíso (1997, com Daniel Costa), Os dois primeiros e um vago lote (2004) e Vicente viciado (2012), ele se afastou do lugar de autor para falar da obra de Ângela. “O livro é muito interessante por ter uma estrutura peculiar e uma dicção diferente, que lembra a da poesia norte-americana”, avalia. Sobre a experiência, ele diz que “é uma maneira de falar de si através de outra obra e vice-versa. É uma oportunidade para os leitores. Apresento uma visão particular, afetuosa do livro. Cria-se um atrito saudável”.
BIBLIOTECA
A coordenadora da rede de bibliotecas da Fundação Municipal de Cultura, Fabíola Farias, defende as bibliotecas como espaços por excelência para conversar sobre literatura, desde encontros informais e espontâneos até projetos que fomentam a participação do leitor. É o caso do Roda de Leitura, realizada todas as quartas-feiras na Biblioteca Infantil e Juvenil, na Praça da Estação.
“Os leitores gostam de dividir o que leram, e a biblioteca é um espaço privilegiado de encontro.” Na avaliação de Farias, o surgimento de projetos e espaços destinados ao debate da literatura tem relação com aumento de recursos destinados ao campo. Nos últimos dois anos, o percentual da verba da Lei Municipal de Incentivo à Cultura dobrou, passando de 5% para 10% o montante destinado à área. “Belo Horizonte vive um momento muito bom”, afirma, lembrando que foi elaborado – com a participação da sociedade – o Plano Municipal de Leitura, Literatura, Livro e Bibliotecas.
No Sesc Palladium, a política para incentivar a leitura engloba diferentes projetos – Caro Leitor, no qual escritores são convidados para interagir com os leitores; Literaturas: questões do nosso tempo, debates sobre literatura, história e filosofia; Ouço, Crio e Recrio, cujo foco são as contações de histórias e o Digas? Poesia, com performances de poesia. Segundo a analista de artes e cultura Lídia Mendes, o espaço para literatura tem sido ampliado desde 2011 no Sesc.
Ela destaca a gratuidade dos eventos e a resposta positiva do público. “Os leitores percebem a dimensão da literatura, veem que não é apenas a questão do livro”, diz, destacando o envolvimento dos leitores no debate. Nessa direção, foram realizadas uma residência literária com o poeta Ricardo Aleixo e uma sessão de leitura de poesias por Maria Bethânia. “A cidade está com uma cena bem interessante para os eventos literários”, conclui.
Outra iniciativa que se tornou regular na cidade é o Leia Mulheres, que propõe encontros para discutir a respeito de obras escritas por mulheres. A proposta é inspirada no projeto #readwomen2014 (#leiamulheres2014), da escritora Joanna Walsh.
ENCONTRE A SUA TURMA
Veja exemplos de projetos
em BH que propõem a discussão literária
CICLO DE CONVIVÊNCIA LITERÁRIA
Centro de Referência da Moda (Rua da Bahia, 1.149 –
Centro, Belo Horizonte).
Na próxima edição, quinta-feira (10/11), o escritor Marcílio França Castro comenta O sol se põe em São Paulo, de Bernardo Carvalho. Cada encontro tem 77 vagas disponíveis. Senhas são distribuídas na porta,
30 minutos antes do início.
A entrada é franca.
LEIA MULHERES BH
Espaço Multiuso do Sesc Palladium (Rua Rio de Janeiro, 1.046 – Centro). Próxima edição: dia 25/11, às 19h30. Distribuição de senhas com 30 minutos de antecedência. A programação é divulgada no grupo Leia Mulheres Belo Horizonte, no Facebook.
RODA DE LEITURA
Biblioteca Pública Infantil e Juvenil (Praça da Estação)
Todas as quartas-feiras, às 10h.
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