Aprender é, sim, para todos
Naiara Magalhães e Érika Nascimento - Nova EscolaConhecer as práticas de escolas que conseguem garantir o aprendizado de seus alunos em contextos sociais desfavoráveis pode ajudar mais educadores a melhorar suas práticas. São histórias assim que relatam o professor Ademir Almagro, o diretor escolar Amaral Barbosa e o diretor pedagógico municipal Francisco Jucelio dos Santos. Esses educadores foram identificados no estudo Excelência com Equidade, da Fundação Lemann, que, em parceria com o Itaú BBA, levantou em 2012 histórias de instituições públicas em todo Brasil com resultados surpreendentes no Ensino Fundamental 1. Em 2016, com apoio do Instituto Credit Suisse Hedging-Griffo, traz bons casos nos anos finais. As estratégias usadas pelos três são exemplos de formas possíveis e replicáveis de ajudar a transformar a Educação dos estudantes brasileiros.
Durante a pesquisa, o desafio de identificar escolas de sucesso do 6º ao 9º ano em situações adversas se mostrou complexo. Isso porque, além do contexto, existem fatores inerentes a essa fase que ajudam a aumentar o fracasso escolar. Entre eles, o fato das novas aprendizagens dependerem de saberes que deveriam ter sido consolidados nas etapas anteriores e a fragilidade da formação docente em didática nos cursos de licenciatura. Diante desse quadro, os critérios de seleção utilizados no levantamento dos anos iniciais – como ter ao menos 70% dos estudantes com aprendizagens adequadas e apresentar um baixo percentual de alunos com saberes insuficientes na Prova Brasil – tiveram de ser adaptados para encontrar escolas que estejam no caminho certo para alcançar a excelência com equidade.
Seis instituições se destacaram e sete ações comuns a todas ficaram evidentes para atingir os resultados: oferecer condições para que os estudantes permaneçam na escola, como projetos estimulantes; ter apoio pedagógico da Secretaria de Educação; contar com gestores que fortaleçam o vínculo dos professores com a instituição; considerar o contexto dos estudantes na prática educacional; garantir o tempo pedagógico necessário; ter formas de avaliação que ofereçam elementos para melhorar o trabalho em aula e ter a leitura como rotina. São algumas dessas práticas que Ademir, Amaral e Francisco Jucelio usam em suas rotinas educacionais.
Estimular os alunos com propostas envolventes é o que o professor Ademir busca todos os dias em suas aulas na EMEB Professora Hebe de Almeida Leite Cardoso, em Novo Horizonte, no estado de São Paulo. Depois de se formar em licenciatura em História e não ter tido nenhuma disciplina específica sobre didática, ele buscou nos livros respostas sobre como poderia melhorar sua forma de ensinar. “No início, achava que bastava dar o conteúdo, mas via que não estava ajudando os alunos”, conta o docente. Depois de passar dez anos lendo sobre Educação para aprimorar sua docência, ele reuniu algumas estratégias e se apoia em três pilares para melhorar os resultados de sua turma: relacionar o conteúdo com a vida dos alunos, quebrar a monotonia com atividades que garantam a participação de todos e envolver a classe na revisão. “Cada um tem seu estilo de aula, eu encontrei o meu, mas a verdade é que só nos tornamos professor quando conseguimos que os alunos aprendam”, afirma o docente.
Na EEF Miguel Antonio de Lemos, onde Amaral atua como diretor, 95% dos educadores foram estudantes da escola, o que por si só já garante um intenso vínculo com a instituição. Porém, a parceria que ele estabelece com a equipe docente, assumindo a corresponsabilidade pela aprendizagem dos alunos, torna esse comprometimento dos professores ainda mais forte. Junto com a coordenação pedagógica, o diretor faz observações das aulas para ajudar a aprimorar o trabalho em sala. “Muitos docentes servem de inspiração aos nossos alunos, que os veem como um exemplo de conhecimento e de futuro. Já os educadores se enxergam naquelas crianças, pois já foram elas um dia”, diz Amaral. Os resultados da pequena unidade de ensino localizada em uma comunidade rural e extremamente carente de Pedra Branca, no sertão cearense, surpreendem e mostram que eles estão no caminho certo.
Por fim, Francisco Jucelio comprova o quanto o apoio pedagógico da Secretaria de Educação pode fazer toda a diferença no desempenho escolar dos estudantes. Em Brejo Santo, no Ceará, os profissionais da rede estão perto dos professores. Eles visitam periodicamente todas as escolas e fazem acompanhamento do trabalho pedagógico. São as informações coletadas nesses momentos que pautam a formação realizada bimestralmente. “Há uma noção muito maior de conjunto e uma identificação dos professores com os formadores. Com isso, fortalecemos a prática e valorizamos o trabalho docente”, afirma o coordenador.
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