A ATENAS DO SUL DE MINAS
A ATENAS
DO SUL DE MINAS
“Refulgiu
pelo ouro da terra e pela cultura e pelo o civismo de seus
filhos"
Alfredo de Vilhena Valladão
A
analise das práticas culturais da elite Campanhense, já sem os recursos do ouro,
evidencia e justifica a gênese da metáfora "ATENAS DO SUL DE MINAS”, ao
demonstrar Campanha como a cidade privilegiada por políticas públicas de
educação, em relação aos demais municípios de Minas
Gerais.
Com
efeito, um olhar atento e imparcial sobre a cidade da Campanha, desde os tempos
do Arraial de São Cipriano, nos coloca diante de uma sociedade preocupada com o
sistema educacional, refletido no anseio de seus filhos pelo aprimoramento do
ensino.
A
extinção da escravatura no Brasil, e a sua repercussão na cidade da Campanha,
como de resto, em todo país, causou um forte impacto na vida social e econômica
da nação, considerando que a economia do país se sustentava na agricultura. Para
quase todos os lavradores da Vila da Campanha, foi um duro golpe. Soma-se a isto
a emancipação de vilas que pertenciam à jurisdição da cidade da Campanha, que
poderia levá-la a uma grave crise financeira, se não fosse a presença de
cidadãos campanhenses na política nacional e no fortalecimento de instâncias
ligadas à religião Católica. A cidade pôde se manter muito ativa durante todo o
século XIX, principalmente através da produção agrícola e pecuária, além do
comércio com o Rio de Janeiro e com São Paulo. O seu território era vastíssimo e
suas águas minerais eram procuradas por diversas personalidades para os diversos
tipos de doenças.
Além do
mais, e principalmente, Campanha tinha uma excelente base educacional que lhe
permitiu filhos ilustres tanto no Parlamento como nos executivos estadual e
federal.
No ano
de 1831, é possível saber da instalação de uma Escola de Ensino Mútuo para
Primeiras Letras em Campanha, com mais de 100
alunos.
O método
mútuo ou Lancasteriano (método inglês posto em pratica na Índia) difundiu-se no
Brasil e temos noticia de que foi de imediato posto em prática na cidade da
Campanha, que já previa a instrução pública como dever do Estado, com
a finalidade de contemplar um número maior de alunos. Além disso, o método combatia os castigos
físicos, comuns à época.
Um dos
alunos dessa época na escola de primeira letras, como era chamada, foi o futuro
senador Evaristo da Veiga. Os alunos, cujos pais tinham recursos, compravam os
livros e os meninos pobres recebiam o material da Câmara ou da
Província.
No ano
de 1840, o ensino mútuo já estava quase abandonado nas escolas mineiras, seria
substituído pelo método simultâneo. A Assembléia Mineira subvencionou a ida de
dois professores à França para aprender esse novo
método.
Nesse
mesmo ano de 1840, um Delegado de Ensino à Vila da Campanha, enviado pelo então
Presidente do Estado, Bernardo Jacinto da Veiga, informava em seu relatório que
o ensino de Latim, Francês e Filosofia, na cidade da Campanha, era muito bem
ministrado, sobrepondo-se aos demais municípios mineiros, e o adiantamento dos
alunos era notório e significativo. Nesse mesmo relatório, o Delegado manifesta
a necessidade de melhores salários para os
professores.
Em 1843,
no ensino público secundário em Campanha, a cadeira de Latim era ministrada pelo
o padre mestre João Damasceno. Conforme informes da época, o padre João era tido
como um grande latinista, e os alunos o tinham como uma espécie de
oráculo.
O ensino
do latim, segundo depoimento de vários Campanhenses, foi fundamental para muitos
daqueles que optaram pelo estudo das ciências
jurídicas.
Um fato
que deve ser registrado pelo seu aspecto inédito e avançado, considerando a
época, em pleno século XIX, é o jornal “O Sexo
Feminino”.
O Sexo Feminino é o nome do periódico de propriedade da
jornalista da Campanhense Francisca Senhorinha da Motta Diniz, que também
editava e redigia o jornal. O primeiro ano de publicação do jornal (1873-1874)
foi feito aqui na nossa cidade da Campanha.
Em 1875,
Senhorinha Diniz mudou-se para o Rio de Janeiro com uma proposta de trabalho
para lecionar na Côrte. A escritora continuou com as edições de O Sexo
Feminino, mesmo com a mudança para o Rio. Tratava-se de um jornal
direcionado ao público feminino, fato observado logo na capa do veículo, onde se
lia: "Especialmente dedicado aos interesses da
mulher".
A
jornalista escrevia para um público mais intelectualizado e instruído, fato que
demonstra o nível cultural da sociedade Campanhense.
Em 15 de
novembro de 1874 o editorial do jornal assim expressava:"É tempo de darmos o
grito de nossa independência, de nossa emancipação do jugo ferrenho em que até
agora vivido, proclamando alto e bem alto a nossa capacidade para certos
empregos públicos, e muito principalmente para o magistério onde daremos a
mocidade de ambos os sexos educação e instrução".
No ano
de 1893, depois de ter cursado a Escola Normal de Campanha e freqüentado o
Seminário de Mariana e o famoso Colégio do Caraça, o grande professor Jonas
Olinto, "pedagogo de cultura enciclopédica", jornalista e poeta, fundou e
dirigiu o seu Externato, e sozinho lecionava as seguintes matérias: Português,
Francês, Inglês, Matemática, Geografia e História. Passaram pelos os bancos
desse famoso Educandário de ensino primário e secundário várias gerações de
estudantes, durante 30 anos.
Interessante
observar que, segundo o relato de Francisco de Paula Ferreira de Rezende, fica
evidente que as experiências educacionais na Vila da Campanha, particularmente
no ensino primário e secundário, não era feitas somente através da educação
formal, mas de toda cultura que cerca o indivíduo, fato revelador do elevado
nível cultural da Sociedade Campanhense.
O anseio
dessa sociedade pelo aprendizado, pelo ensino e pela elevação do nível cultural
da cidade se manifesta quando essa mesma sociedade se mobiliza pela criação de
um colégio, através de seus mais ilustres representantes que integram o cenário
político-administrativo não só do Estado como também do País, e do Emérito
Sacerdote, Padre Natuzzi, coadjuvado pelo ilustre campanhense Monsenhor João de
Almeira Ferrão, mais tarde primeiro bispo da recém criada Diocese da Campanha e
pelos ilustres deputados, Joaquim Leonel de Rezende
Filho.
Gabriel
Valadão e João Bráulio Moinhos de Vilhena Júnior iniciaram os entendimentos
junto à Mere Angelina, que chegara ao Brasil em 1897, nomeada superiora do
Colégio de Sion de Petrópolis, com o objetivo de criar em nossa cidade o Colégio
de Sion, administrado pelas irmãs dessa recente ordem das Irmãs de Sion, fundada
na França, para criação de colégios que ofereciam educação rígida e esmerada para
moças. O fato de a França, à época, ditar o modelo de educação, levou a
sociedade Campanhense a se interessar pela vinda da irmãs francesas, com intuito
de aprimorar o sistema educacional, com oferta do ensino feminino e confessional
na cidade e na região Sul Mineira.
Convidada
a visitar Campanha, Mère Angelina, acompanhada de sua secretária, irmã Joaquina,
chegam à cidade e, tendo dela a melhor impressão, decidem de imediato pela
escolha do local para instalação do colégio. Foi escolhido o imóvel que
pertencera ao Senador Evaristo da Veiga, no mesmo local onde se encontra as
soberbas instalações do Colégio de Sion.
O
Colégio, que funcionou entre 1904 a 1965, foi responsável por educar na forma de
internato e semi-externato as meninas da elite Sul Mineira (Meninas de Sion),
como eram conhecidas e também meninas pobres da região (Martinhas). Manteve uma
divisão entre estas duas categorias, já que o tratamento era diferenciado.
Preparava as primeiras para exercer papéis de liderança familiar, como boas
esposas e mães, como também para exercer a profissão de professoras. Já as
meninas pobres eram preparadas essencialmente para o trabalho
doméstico.
O
Colégio instala-se na cidade como uma forma de fortalecer e ampliar o perímetro
de influência da Igreja Católica, com uma nova roupagem e atendendo aos anseios
do desenvolvimento do capitalismo.
No ano
de 1906, a nova casa de Sion inicia as suas atividades em nossa cidade. Foram
muitas as alunas da Campanha e da região Sul Mineira que se matricularam na nova
instituição. Citamos aqui algumas Campanhenses do período de 1906 a 1920: Maria
das Dores Paiva de Vilhena, Maria Amélia Veiga de Oliveira, Maria do Rosário
Paiva de Vilhena, essas três ingressaram na ordem, tornando-se Irmãs de Sion.
Maria da Conceição de Vilhena Lisboa, Hilda de Oliveira Ferreira, Ordália de
Oliveira Ferreira, Laura Bressane de Azevedo, Dora Ayres, Edite Souza e Silva,
Alvarina Silva, entre outras.
Em 1906,
Charles Noguères, cidadão francês, junto com o Cônego Joaquim Timóteo Soares,
sob a inspiração do Monsenhor João de Almeida Ferrão, fundam o Ginásio Santo
Antônio de ensino secundário para rapazes.
Em 21 de
abril de 1908, foi instalado o Grupo Escolar da Campanha, denominado Zoroastro
de Oliveira. Ao longo de sua existência, o Grupo foi dirigido por importantes
personalidades de nossa cidade, como Dr. Júlio Pereira da Veiga, Dona Matilde
Mariano, Dr. José Braz Cezarino, Dr. Serafim Maria Paiva de Vilhena, Prof. Júlio
Bueno, Dona Maria Conceição de Vilhena Lisboa
Em 1909, Dom Ferrão funda o Seminário Nossa
Senhora da Dores, tendo como o seu primeiro Reitor, Monsenhor Joaquim
Soares.
Em 1910, sob sábia orientação desse
extraordinário Bispo, Dom João de Almeida Ferrão, foi criado o Ginásio Diocesano
São João que, em sua longa e gloriosa vida de mais meio século, formou várias
gerações de jovens, preparando-os para a vida. Muitos daqueles que passaram por
essa instituição se tornaram profissionais capacitados e de renome, nos vários
segmentos de suas atividades profissionais.
Em 1915, inaugura-se em Campanha o externato
para cursos primário e secundário para rapazes, sob a orientação do Professor
Raul Ramos da Costa, auxiliado pelos prefessores Diaulas José de Lemos e Rubens
Rezende.
Em 1929, ocorre o restabelecimento da Escola
Normal da Campanha, sendo nomeado como seu primeiro Diretor o Prof. Juscelino
Teodoro de Aguiar Júnior, que a instalou, tendo sido, em seguida, sucedido pelo
Prof. Francisco de Melo Franco.
No ano de 1964, instala-se na cidade o seu
segundo Grupo Escolar, que recebeu o nome de Dom Inocêncio, em homenagem ao
segundo Bispo da Campanha.
Por último, assinalamos, como merecido
destaque, a criação de ensino superior que tanto se orgulha Campanha. Uma
instituição radiante e vitoriosa, graças ao idealismo do Campanhense de nobre
origem, o Desembargador e Comendador Manoel Maria Paiva de Vilhena, uma bandeira
de civismo e de grandeza cultural.
As
faculdades Integradas Paiva de Vilhena,
são, sem dúvida alguma, a culminância de um processo que, possivelmente,
estivesse em gestação no seio da sociedade Campanhense e nasce pelo o idealismo
de um obstinado, legítimo representante dessa sociedade, como afirmação de que
Campanha sempre foi e será o centro irradiador de cultura e o viveiro dos
melhores troncos que povoaram esse abençoado solo Sul Mineiro. Não à toa, ela
foi cognominada "a Atenas do Sul.
Tarcísio Brandão de Vilhena
tb.vilhena@terra.com.br
http://vilhena.blogspot.com
Arquivo Púlico Mineiro
Alfredo de Vilhena Valladão
Antonio Casadei
Francisco de Paula Ferreira de Rezende
Tarcísio Brandão de Vilhena
tb.vilhena@terra.com.br
http://vilhena.blogspot.com
Arquivo Púlico Mineiro
Alfredo de Vilhena Valladão
Antonio Casadei
Francisco de Paula Ferreira de Rezende
Já estávamos com a recomendação para visitar Campanha e nos interessamos ainda mais. Estamos hospedados em São Lourenço e, por gentileza, gostaríamos de saber quantos museus existem em Campanha? Tudo o que está aí neste artigo nós encontramos em quais museus, centros culturais, centros de memória? Em quais sites encontramos os horários de visitação para montarmos uma visitação, a nosso gosto, sem precisarmos de guias? Gratos, Armando, Isabel e amigos.
ResponderExcluirPrezados Armando, Isabel e amigos. Sejam bem vindos. O Museu Regional do Sul de Minas é o mais diversificado. Fica ao lado da Catedral de Santo Antônio. Sabado e domingo fica aberto das 13 às 16 horas. De segunda a sexta de 9 às 11 e das 13 às 16 horas. Sendo a visita durante a semana, poderão ainda, visitar o Centro de Estudos que, fica anexo ao Museu, como também a Biblioteca Cônego Victor. Outra visita interessante nos mesmos horários, é no Museu Vital Brazil on conta a sua história.
ExcluirPrezados blogueiros Zé Milton e Tarcísio Vilhena,
ResponderExcluirBom dia!
Estamos coletando informações sobre as repercussões dos 140 anos do lançamento do jornal "O Sexo Feminino" (1873) e até agora não conseguimos encontrar nada referente a Campanha, que afinal é o palco, o local de destaque de toda essa história.
Localizamos vocês, mas sem nenhuma menção específica.
Imaginamos que, certamente, foram muitos eventos, muitas iniciativas ocorridas aí, não?
Portanto, como, até agora, ainda não localizamos nada pontual, com referência ao tema, os blogueiros campanhenses: Zé Milton e Tarcísio Vilhena, por gentileza, poderiam nos ajudar?
Antecipamos agradecimentos, Carla Nascimento
Por gentileza, tb sou jornalista e preciso de informações "interessantes" sobre Campanha, quais são os outros blogs? Grato, Pedro Andrade
ResponderExcluirBoa tarde, senhor Pedro. Tem www.camaracampanha.mg.gov.br -
Excluirhttp://www.aloalocidade.com.br
www.ocampanhense.blospot.com