quarta-feira, 5 de novembro de 2014

LIVRO DE ECONOMISTA CELEBRIDADE SERÁ LANÇADO NO BRASIL EM NOVEMB RO.

Livro de economista celebridade será lançado no Brasil em novembro

G1 - 28/05/2014


“Capital no século XXI”, a polêmica obra do francês Thomas Piketty, que levantou um debate mundial sobre a desigualdade, vai ser lançada em novembro no Brasil, pela editora Intrínseca. Desde que foi traduzido para o inglês, neste ano, o livro ganhou notoriedade e transformou seu autor em um economista celebridade. Na obra, ele concluiu que o capitalismo está aumentando a desigualdade entre ricos e pobres.

A publicação vem sendo considerada até uma atualização do livro de Karl Marx, “O Capital”. Em abril passado, chegou a liderar a lista dos livros mais vendidos durante algumas semanas no site da Amazon, desbancando até as obras de ficção ou auto-ajuda. Mesmo ainda sem tradução para o português, o título era o 43º mais vendido da Amazon no Brasil na última terça (27).

Segundo o economista francês, a desigualdade está aumentando porque o rendimento dos investimentos (alugueis, ações, aplicações) tem sido maior que o da renda obtida com o trabalho. Assim, quem tem dinheiro sobrando para investir vê o montante crescer mais que os que não têm.

Como possível solução, Piketty defende elevar o imposto pago pelos mais ricos.

O livro foi elogiado por renomados economistas e publicações especializadas, mas foi criticado pelo jornal britânico “Financial Times”, que apontou erros nos cálculos.

Veja abaixo perguntas e respostas sobre o livro e Piketty:

- Quem é Thomas Piketty?
Economista francês, ele é autor do livro “Capitalismo no século XXI”, que mostra que o modelo econômico aumentou a desigualdade nos últimos 30 anos com a concentração de renda. Isso acontece porque o retorno financeiro (de aplicações, alugueis e lucros) cresce mais que os salários. Assim, quem tem dinheiro sobrando e investe multiplica sua riqueza de forma mais rápida do que quem produz.

- Por que ele se tornou uma celebridade?
O livro foi publicado primeiro em francês, mas ganhou notoriedade após ser traduzido para o inglês, neste ano. Piketty demonstrou ter encontrado uma contradição central no capitalismo que, em vez de dar oportunidades iguais de crescimento para todos, estaria tornando a desigualdade mais extrema, já que quem tem mais dinheiro consegue a riqueza em escala maior.  Além disso, apesar de usar uma grande base de dados, a obra não está escrita em "economês", diz a revista "The Economist".

- Como o economista chegou a essa conclusão sobre o capitalismo?
Ele analisou uma quantidade grande e diversificada de dados econômicos e de renda de 20 países. Para ter uma noção mais real da desigualdade, Piketty usa dados fiscais, de imposto de renda. Segundo ele, as pessoas, principalmente as de maior renda, não informam exatamente o que ganham em pesquisas, o que distorce a realidade.

- Há alguma relação com "O Capital", de Karl Marx?
A obra é considerada informalmente uma atualização do livro de Marx, que apontava o capitalismo como fonte de desigualdade e propunha o socialismo como solução. Piketty aponta que, se por um lado, o caos previsto por Marx não aconteceu, por outro não reduzimos a desigualdade econômica tanto quanto crescemos e que isso prejudica a democracia – por dar oportunidades e espaço diferente às pessoas – e causa descontentamentos.

- Que repercussão o livro teve?
Piketty foi elogiado por ganhadores do prêmio Nobel e chamado para dar  palestra ao governo americano e ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Paul Krugman, da Universidade de Princeton, afirmou que o livro "será o mais importante trabalho de economia do ano - talvez da década", e Joseph Stiglitz, da Universidade Columbia, disse que a "contribuição fundamental" de Piketty havia sido fornecer dados sobre a distribuição de riqueza. A revista "Economist" chamou o autor de “maior que Marx”.

- O que o autor propõe para reduzir a desigualdade?
Piketty defende um imposto global sobre a riqueza, ou seja, que as pessoas mais ricas paguem mais imposto de renda. Nos EUA, ele sugere que quem tem renda anual acima de US$ 1 milhão (cerca de R$ 2,2 milhões) pague taxas acima de 80%, o que iria desestimular o pagamento de salários muito altos. Já as rendas acima de US$ 200 mil (R$ 440 mil) seriam taxadas em 50% ou 60%.

- Há críticas negativas ao livro?
Sim, o jornal britânico “Financial Times” diz ter feito uma investigação sobre os cálculos usados no livro e descoberto que há erros nas fórmulas e dados inseridos sem explicação. A publicação diz que limpou e simplificou os dados e não chegou à conclusão de que está havendo aumento da desigualdade na Europa, por exemplo. Segundo o "FT", outros especialistas têm preocupações parecidas.

- O que Piketty fala sobre as críticas?
O economista diz que os dados brutos foram ajustados para a análise, já que as informações sobre riqueza não são padronizadas, mas que se espantaria se cálculos mais detalhados modificassem as concussões sobre o aumento da desigualdade. Além disso, ele diz que dados mais recentes e não usados no livro apontam que a concentração de renda nos EUA se exacerbou ainda mais.

- O livro analisa a desigualdade do Brasil?
Não, o argentino Facundo Alvaredo, que integra a equipe de Piketty em Paris, disse que desde 2008 tenta obter – sem sucesso – os dados anônimos de Imposto de Renda do Brasil com a Receita Federal, mas não conseguiu, por isso o país ficou de fora do livro.

- O trabalho dele parou por aí?
Não, Piketty tem um site com os números coletados – The World Top Incomes Database – e está levantando mais números de cerca de 50 países, disse à BBC Brasil o argentino Facundo Alvaredo, que integra a equipe de Piketty em Paris.

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