Sócrates, gênio da bola e... leitor de livros!
Portal Imprensa - 03/11/2014
Não só de títulos se faz um ídolo do futebol. Mesmo sem taças de referência nacional ou internacional, Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira, ou simplesmente Doutor Sócrates, conquistou torcedores corintianos, brasileiros e mundiais com seu talento e sua postura dentro e fora das quatro linhas. O jornalista Tom Cardoso desvenda os detalhes da vida e obra do jogador no livro “Sócrates”, lançamento da Editora Objetiva.
Como inúmeros brasileiros, durante a infância o autor viu Sócrates jogar pelo Corinthians e pela Seleção Brasileira. Mas o livro não é apenas uma coleção de memórias. O objetivo é contar “a história e as histórias do jogador mais original do futebol brasileiro”.
“A gente não consegue imaginar alguém que tenha sido sequer parecido com o Sócrates. Sobretudo no posicionamento fora de campo, num meio em que é tão difícil as pessoas se posicionarem. Isso em tempos em que quase ninguém, com algumas exceções, tinha opinião formada sobre temas como política, comportamento etc.”, diz.
“Se você levar em conta só o Sócrates dentro de campo, já valeria um livro. Se você pensar fora de campo, cabe em vários livros”, continua o jornalista. Ao todo, foram três anos de pesquisa e entrevistas, driblando um grande obstáculo: não poder contar com apoio da família.
A biografia não é autorizada pelos familiares de Sócrates, o que impediu Cardoso de entrar em contato com muitas pessoas próximas ao atleta – inclusive seu irmão Raí, ex-jogador e ídolo do São Paulo. “Foram mais de cem entrevistas, mas poderia ter sido melhor se eu tivesse tido acesso à família, às fotos, alguns arquivos etc. Eu insisti e eles não quiseram se envolver. Mas em nenhum momento tentaram atrapalhar”, explica Cardoso.
O álcool e o cigarro
Passagens menos “gloriosas” da vida de Sócrates também rendem páginas do livro, como a luta do jogador contra o alcoolismo. Formado em medicina, o "Doutor" morreu em dezembro de 2011, vítima de uma infecção generalizada decorrente de uma cirrose hepática. “Falo sobre isso de uma maneira até muito leve, que é a maneira como o Sócrates tratava. Ele não era uma pessoa que não gostava de ficar policiando os outros e não gostava de ser policiado”, diz Cardoso.
O livro mostra que Sócrates só jogou no auge da forma física durante a Copa do Mundo de 1982, por insistência do técnico Telê Santana, que o convenceu a parar de fumar e beber – mesmo que por um curto período de tempo. Mas, apesar dos problemas com o álcool e o cigarro, o comportamento do jogador fora de campo também estava “à frente de seu tempo”, segundo Cardoso.
“Você não consegue imaginar nos dias de hoje — em que os jogadores são vigiados fora de campo—, na balada, como ele [Sócrates] bebia cerveja em pleno Parque São Jorge [antigo centro de treinamentos do Corinthians]. E ele não gostava de ser cobrado por isso. O livro não fica fazendo esse papel maniqueísta de dizer se ele estava certo ou errado”, diz o autor.
Particularmente, porém, Cardoso tem sua opinião. “É claro que eu acho que ele teria sido ainda melhor se não fosse pelo cigarro e pela bebida. Mas não sei se ele seria o Sócrates que ele era se não fosse por tudo isso junto, um cara que pensava. Se ele fosse um ‘coxinha’, não seria o Sócrates”, brinca.
O mito
“O que me deixou mais impressionado foi que em nenhum momento Sócrates traiu suas convicções”, destaca Cardoso. Para o autor, o fato de ter se desviado do caminho natural que a maioria dos futebolistas seguem – dentro e fora das quatro linhas – fizeram de Sócrates um personagem diferenciado na história do esporte e da cultura brasileira, mesmo após pendurar as chuteiras.
O jornalista lembra quando Sócrates foi convidado para comentar um jogo do Corinthians durante uma transmissão da SporTV, ainda no início das operações da emissora. “Ele quebrou todos os protocolos ‘globais’. Ele não falou o que tinha que falar no começo, chegou atrasado, entrou no campo antes de ir para a cabine para saudar a torcida do Corinthians, foi passional nos comentários… O curioso é que, quando ele saiu, os caras disseram: ‘Sócrates nunca mais’”.
Como ex-jogador, ele teve experiências também como treinador de futebol e na política – foi, por pouco tempo, secretário de esportes do município de Ribeirão Preto (SP), além de ter sido convidado, diversas vezes, para compor o Ministério do Esporte da Presidência da República, durante o mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2002 a 2010). Por tudo isso, o jornalista destaca como Sócrates se tornou um mito.
“Ele teve chances de ‘se entregar ao sistema’. Mas ele não quis em nenhum momento. Não existe nenhuma passagem do livro em que você pensa que ele topou fazer alguma coisa por dinheiro ou por poder. Difícil encontrar uma figura como ele”, comenta.
O livro
Tom Cardoso é autor de livros como "O Cofre do Dr. Rui", sobre um assalto promovido por um grupo de oposição ao regime militar em 1969 - do qual fez parte a recém-reeleita Presidente da República, Dilma Rousseff; "Tarso de Castro", biografia do jornalista fundador do O Pasquim; e "O Marechal da Vitória", sobre Paulo Machado de Carvalho, dirigente esportivo que dá nome ao estádio do Pacaembu, em São Paulo (SP).
O período da ditadura, recorrente em sua obra, não se trata de uma decisão consciente, mas uma coincidência, segundo ele. Seu principal interesse é contar a história de personagens "que tenham essa riqueza". Com Sócrates não é diferente. “O Sócrates transcendeu o futebol. Ele foi um iconoclasta, um ‘outsider’, uma figura diferente para a sua época. Ele vai despertar interesse mesmo em quem não gosta de futebol ou não o viu jogar, especialmente pelo peso que ele tinha fora das quatro linhas”, finaliza.
O lançamento oficial da obra acontece no próximo sábado (8/11), na Blooks Livraria do Shopping Frei Caneca – Rua Frei Caneca, 569, 3º piso, Consolação, São Paulo (SP).
Como inúmeros brasileiros, durante a infância o autor viu Sócrates jogar pelo Corinthians e pela Seleção Brasileira. Mas o livro não é apenas uma coleção de memórias. O objetivo é contar “a história e as histórias do jogador mais original do futebol brasileiro”.
“A gente não consegue imaginar alguém que tenha sido sequer parecido com o Sócrates. Sobretudo no posicionamento fora de campo, num meio em que é tão difícil as pessoas se posicionarem. Isso em tempos em que quase ninguém, com algumas exceções, tinha opinião formada sobre temas como política, comportamento etc.”, diz.
“Se você levar em conta só o Sócrates dentro de campo, já valeria um livro. Se você pensar fora de campo, cabe em vários livros”, continua o jornalista. Ao todo, foram três anos de pesquisa e entrevistas, driblando um grande obstáculo: não poder contar com apoio da família.
A biografia não é autorizada pelos familiares de Sócrates, o que impediu Cardoso de entrar em contato com muitas pessoas próximas ao atleta – inclusive seu irmão Raí, ex-jogador e ídolo do São Paulo. “Foram mais de cem entrevistas, mas poderia ter sido melhor se eu tivesse tido acesso à família, às fotos, alguns arquivos etc. Eu insisti e eles não quiseram se envolver. Mas em nenhum momento tentaram atrapalhar”, explica Cardoso.
O álcool e o cigarro
Passagens menos “gloriosas” da vida de Sócrates também rendem páginas do livro, como a luta do jogador contra o alcoolismo. Formado em medicina, o "Doutor" morreu em dezembro de 2011, vítima de uma infecção generalizada decorrente de uma cirrose hepática. “Falo sobre isso de uma maneira até muito leve, que é a maneira como o Sócrates tratava. Ele não era uma pessoa que não gostava de ficar policiando os outros e não gostava de ser policiado”, diz Cardoso.
O livro mostra que Sócrates só jogou no auge da forma física durante a Copa do Mundo de 1982, por insistência do técnico Telê Santana, que o convenceu a parar de fumar e beber – mesmo que por um curto período de tempo. Mas, apesar dos problemas com o álcool e o cigarro, o comportamento do jogador fora de campo também estava “à frente de seu tempo”, segundo Cardoso.
“Você não consegue imaginar nos dias de hoje — em que os jogadores são vigiados fora de campo—, na balada, como ele [Sócrates] bebia cerveja em pleno Parque São Jorge [antigo centro de treinamentos do Corinthians]. E ele não gostava de ser cobrado por isso. O livro não fica fazendo esse papel maniqueísta de dizer se ele estava certo ou errado”, diz o autor.
Particularmente, porém, Cardoso tem sua opinião. “É claro que eu acho que ele teria sido ainda melhor se não fosse pelo cigarro e pela bebida. Mas não sei se ele seria o Sócrates que ele era se não fosse por tudo isso junto, um cara que pensava. Se ele fosse um ‘coxinha’, não seria o Sócrates”, brinca.
O mito
“O que me deixou mais impressionado foi que em nenhum momento Sócrates traiu suas convicções”, destaca Cardoso. Para o autor, o fato de ter se desviado do caminho natural que a maioria dos futebolistas seguem – dentro e fora das quatro linhas – fizeram de Sócrates um personagem diferenciado na história do esporte e da cultura brasileira, mesmo após pendurar as chuteiras.
O jornalista lembra quando Sócrates foi convidado para comentar um jogo do Corinthians durante uma transmissão da SporTV, ainda no início das operações da emissora. “Ele quebrou todos os protocolos ‘globais’. Ele não falou o que tinha que falar no começo, chegou atrasado, entrou no campo antes de ir para a cabine para saudar a torcida do Corinthians, foi passional nos comentários… O curioso é que, quando ele saiu, os caras disseram: ‘Sócrates nunca mais’”.
Como ex-jogador, ele teve experiências também como treinador de futebol e na política – foi, por pouco tempo, secretário de esportes do município de Ribeirão Preto (SP), além de ter sido convidado, diversas vezes, para compor o Ministério do Esporte da Presidência da República, durante o mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2002 a 2010). Por tudo isso, o jornalista destaca como Sócrates se tornou um mito.
“Ele teve chances de ‘se entregar ao sistema’. Mas ele não quis em nenhum momento. Não existe nenhuma passagem do livro em que você pensa que ele topou fazer alguma coisa por dinheiro ou por poder. Difícil encontrar uma figura como ele”, comenta.
O livro
Tom Cardoso é autor de livros como "O Cofre do Dr. Rui", sobre um assalto promovido por um grupo de oposição ao regime militar em 1969 - do qual fez parte a recém-reeleita Presidente da República, Dilma Rousseff; "Tarso de Castro", biografia do jornalista fundador do O Pasquim; e "O Marechal da Vitória", sobre Paulo Machado de Carvalho, dirigente esportivo que dá nome ao estádio do Pacaembu, em São Paulo (SP).
O período da ditadura, recorrente em sua obra, não se trata de uma decisão consciente, mas uma coincidência, segundo ele. Seu principal interesse é contar a história de personagens "que tenham essa riqueza". Com Sócrates não é diferente. “O Sócrates transcendeu o futebol. Ele foi um iconoclasta, um ‘outsider’, uma figura diferente para a sua época. Ele vai despertar interesse mesmo em quem não gosta de futebol ou não o viu jogar, especialmente pelo peso que ele tinha fora das quatro linhas”, finaliza.
O lançamento oficial da obra acontece no próximo sábado (8/11), na Blooks Livraria do Shopping Frei Caneca – Rua Frei Caneca, 569, 3º piso, Consolação, São Paulo (SP).
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