Pastor
Everaldo, aquele que se for eleito presidente vai vender a Petrobrás para
combater a corrupção, comprou no próprio nome o PSC-Partido Social Cristão por
R$ 20 milhões, a pedido e financiado pelo então governador Garotinho, que queria
ter uma legenda auxiliar na sua candidatura à Presidência. Os dois brigaram
algum tempo depois e o pastor ficou com o partido apenas para si na condição
formal de vice-presidente. É negócio como poucos no Brasil. O investimento
inicial foi dinheiro
desviado de obras públicas e, no caso do PSC, dá um retorno só
de Fundo Partidário a pequena fortuna de R$ 32 milhões
anuais.
De
dois em dois anos, nos períodos de eleição, a fortuna partidária cresce
exponencialmente. Pastor Everaldo, como os donos de todos os partidos que se
coligam em eleições proporcionais ou majoritárias, vende “seu” tempo de
televisão para o líder da coligação. Às vezes a negociação não se completa por
causa da ganância. De fato, Pastor Everaldo pediu ao PT R$ 20 milhões para se
coligar com Dilma. A proposta foi recusada porque pareceu um excesso. (Aliás, R$
20 milhões foi o que o PT na eleição de 2004 havia prometido a Roberto
Jefferson, que disse ter recebido apenas R$ 4 milhões. A cobrança da diferença
gerou um transtorno que veio a ser nacionalmente conhecido como
mensalão!)
Indignado
com a recusa do PT em comprar “seu” tempo na televisão para a disputa
majoritária, o bravo pastor decidiu ele mesmo, a despeito de nunca ter tido
cargo eletivo, lançar-se candidato nada menos do que à Presidência da República.
Isso não diminui em nada sua renda. É que ele não tem só o Fundo Partidário e a
venda de legenda para candidatura majoritária como fonte de renda pessoal na
qualidade de dono absoluto do partido. O tempo de televisão é vendido também em
todo o país para as eleições majoritárias e proporcionais locais, e parte da
receita, milhões, vem para a presidência.
E
não é só isso. O presidente do PSC em nível municipal contribui com R$ 5 mil
para o presidente da legenda no nível estadual. No Estado do Rio, isso
representa R$ 450 mil por mês. Desses, R$ 100 mil são encaminhados
religiosamente para o presidente nacional, a saber, para o pastor Everaldo. E
ainda não é só isso. Com o dinheiro do Fundo Partidário e da venda da legenda
para a propaganda eleitoral, o partido nos últimos anos fez um considerável
patrimônio imobiliário para suas sedes e outros serviços. Tudo está em nome do
presidente ou de laranjas. O dinheiro reflui para o caminho certo, na forma de
aluguéis, mês a mês.
Alguém
poderá perguntar: como um presidente de partido em nível municipal consegue R$ 5
mil mensais para alimentar as caixas estadual e nacional? Muito simples, ensina
o pastor Everaldo: nas eleições, os partidos “emitem” dinheiro, ou seja, bônus
para contribuição por parte de empresas e pessoas físicas os quais podem ser
abatidos do imposto de renda. Talvez você pergunte qual seria o interesse maior
de uma empresa ou de uma pessoa física em contribuir para um partido em época de
eleição, mesmo abatendo essa contribuição no imposto. Elementar, meu caro
Watson. Como o bônus é deduzido do imposto de renda, nada impede que o “doador”
compre 100 e o partido lhe devolva 50 na forma de dedução do imposto de forma a
que ele embolse pessoalmente os outros 50 sacado diretamente do imposto pago ou
a pagar.
O
que estou contando é a história relativa a apenas um partido. Foi-me relatada
por quem a ouviu diretamente do pastor Everaldo. Não lhe direi o nome, por
enquanto, podendo revelá-lo em juízo na hipótese de o pastor Everaldo me
processar por difamação. Quanto aos demais partidos, disse o que afirmou Marx em
outro contexto: não investiguei os detalhes, mas de te fabula narratur
(a fábula trata também de ti). Sim, porque todas as complexas negociações de
alianças envolvendo 36 partidos políticos existentes no país, em época de
eleição, é um festival inacreditável de patifarias com privatização de dinheiro
público que acaba por financiar barbaridades inacreditáveis em tempo pago pelo
povo para se fazer, por exemplo, a “promessa” em tempo nacional de televisão de
vender a Petrobras.
Insista-se.
O tempo de televisão que esses mercadores de legenda vendem uns para os outros é
bancado diretamente pelo povo, pois as emissoras (e rádios) cobram as maiores
tarifas pelo tempo de horário nobre transcorrido na propaganda eleitoral e as
rebatem diretamente do imposto de renda. Aliás, é justamente porque isso se
tornou uma fonte fácil de negócios da mídia, em horário nobre apresentado como
“gratuito”, que praticamente não existe na imprensa crítica a esse sistema
absolutamente imoral. É esse sistema espúrio, não o voto obrigatório, não a
escolha entre parlamentarismo e presidencialismo que deveria ser visado numa
reforma partidário. A rigor, teria que ser extinto, em nome da moralidade
política brasileira. Do jeito que está é uma indecência, um acinte ao povo, e um
estupro contra a democracia brasileira. Muitos se perguntam, ingenuamente, por
que temos 36 partidos políticos no Brasil. A resposta é simples: porque ter
partido, quando transformado em propriedade privada fora do controle de um
diretório autêntico, dá a seus donos mais dinheiro que tráfico de drogas, sem os
inconvenientes da ilegalidade.
J.
Carlos de Assis - Economista, doutor em Engenharia de Produção pela Coppe/UFRJ,
professor de Economia Internacional da UEPB, autor de mais de 20 livros sobre
economia política brasileira.
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