segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

A OBRA DOS IRMÃOS VILHENA.

Os irmãos Ennio, Evangelina, Sylvia e Décio Vilhena.
No dia de hoje, certamente eles estariam reunidos para comemorar o aniversário de 
Décio. O texto abaixo mostra bem, o legado deixado por eles.
          O solar construído por Francisco de Paula Ferreira Lopes, em Campanha MG

O Museu das Reduções é a realização do sonho de quatro irmãos, nascidos nas 
primeiras décadas do século passado, na cidade sul-mineira de Campanha. Ênnio, 
Décio, Evangelina e Sylvia trilharam seus caminhos durante suas vidas, 
residindo em cidades diferentes e exercendo atividades profissionais diferentes. 
Ênnio radicou-se em Juiz de Fora, onde trabalhou por 35 anos no Banco de Crédito 
Real de Minas Gerais, até aposentar-se. Lá viveu até os seus últimos dias. Décio 
radicou-se no Rio de Janeiro, trabalhou como piloto comercial e diretor da PanAir do 
Brasil, até sua extinção, mudando-se para Lisboa, ingressou na Transportes 
Aéreos Portugueses (TAP), aposentou-se e retornou para a terra natal, Campanha, 
onde passou os últimos anos de sua vida. Sylvia, também funcionária do Banco de 
Crédito Real de Minas Gerais e Evangelina, funcionária do Estado de Minas Gerais, 
se radicaram em Belo Horizonte, trabalhando até a aposentadoria no Banco de Crédito
 Real de Minas Gerais e no Estado de Minas Gerais, respectivamente. Lá viveram até 
falecer. Dotados de enormes habilidades manuais, de grande sensibilidade 
artística e de muita disposição, os Irmãos Vilhena, como são carinhosamente 
conhecidos, se uniram para tornar realidade um projeto de vida: deixar um legado 
artístico e cultural de grande valor. Assim, logo após as aposentadorias, já 
totalmente disponíveis, começaram a planejar a execução do Projeto Redução, 
um parque temático baseado em similares existentes pelo mundo, mas com um 
grande diferencial: um acervo que fosse significativamente brasileiro, produzido de 
forma totalmente artesanal (com os mesmos materiais empregados nas 
construções originais) e totalmente executado por eles, e tão somente pelos 
quatro. Para tanto, basearam-se em uma réplica da Igreja das Dores, de 
Campanha, que Ênnio acabara de fazer, como hobby. Fizeram contato com as 
Secretarias de Estado da Cultura dos estados brasileiros, buscando indicações 
de monumentos arquitetônicos locais, representativos que poderiam ser 
reproduzidos. As muitas secretarias que atenderam ao chamamento 
proporcionaram aos Irmãos Vilhena um rico universo de pesquisas e 
trabalhos a serem desenvolvidos. Munidos, então, de uma grande relação 
de monumentos arquitetônicos dos quatro cantos do Brasil (cerca de 52), 
puseram-se a viajar pelo país, sempre com recursos próprios, com o intuito de 
fotografar, medir e desenhar as mais diversas relíquias arquitetônicas nacionais, 
preocupando-se com cada detalhe das edificações, que foram minuciosamente 
escolhidas, levando-se em conta a representatividade, o tamanho, a riqueza de 
detalhes, a beleza plástica, os materiais empregados e a diversidade da natureza
 dos prédios: igrejas, palácios e palacetes, fortalezas, casarões coloniais, casas 
comuns, casas de fazendas, sobrados, usinas, etc. Concluída a fase de 
levantamentos, pesquisas e definições, os Irmãos Vilhena passaram a trabalhar na 
definição de um local apropriado para sediar o parque, então denominado de 
Projeto Redução, surgindo como primeira opção, até natural, a sua implantação 
na região de Campanha, no Sul de Minas. A opção foi logo desprezada em função 
do mau momento que o Circuito das Águas atravessava, quanto ao fluxo turístico 
necessário à manutenção do empreendimento, fator que acabou direcionando o foco 
para a região de Ouro Preto, principal destino turístico do Estado. Paralelamente a 
estas definições, os Irmãos Vilhena iniciaram a complexa produção das réplicas, 
já instalados no distrito de Amarantina, no município de Ouro Preto, em uma 
simples e humilde casinha, bem no centro. Acabaram por adquirir com recursos 
próprios um grande imóvel, de 6.000m², então na área rural do lugarejo, em um 
recém-lançado condomínio, onde iriam erguer o prédio definitivo que abrigaria 
as réplicas. Começava a surgir, de fato, o Museu das Reduções. Uma equipe de meninos
residentes no distrito foi logo composta, para as tarefas mais fáceis, como produção 
de telhinhas, tijolinhos, pequenos acabamentos, etc., num verdadeiro mutirão de 
cidadania, uma vez que, além de aprenderem o ofício, os meninos recebiam 
orientações básicas como higiene pessoal, saúde bucal, etiqueta, cidadania, etc., 
e, também de materiais escolares, roupas, sapatos e um auxílio financeiro, o que 
marcou muito a atuação dos Irmãos Vilhena no distrito de Amarantina. A técnica da 
construção, as formas diversas, as ferramentas e grande parte da mão de obra do
acabamento  eram encargos de Ênnio, o artesão-mor. Décio, detentor de grande
capacidade intelectual, além das enormes habilidades manuais, produzia em madeira
verdadeiras joias, como balaústres e canhões torneados a mão, portas 
almofadadas, treliças, persianas, janelas e marcos de portas, etc., se incumbia, também,
do trabalho mais racional como os cálculos, as escalas, os desenhos e plantas. 
Sylvia, a mais sonhadora deles, era a responsável pelos primeiros desenhos, pelas 
pinturas, pelas esculturas em pedra-sabão, trabalho de ourives, com pequenos 
formões, pincéis e outros. Evangelina, o fiel da balança, era a grande gerente. Cuidava
do pessoal, dos pagamentos, da estrutura da casa, da comida, das viagens, além de 
fotografar e, principalmente, com sua forte personalidade, cuidava de amenizar 
os constantes conflitos, típicos dos temperamentos dos grandes artistas. À medida 
que as réplicas eram produzidas e concluídas, surgia a necessidade de ampliação 
dos pequenos espaços que possuíam na casinha em que viviam, o que os levou à
 locação de outra casinha, próxima do terreno onde seria instalado o museu, que 
funcionava como depósito de materiais e de réplicas prontas desmontadas. 
Paralelamente, iniciava-se a construção do prédio que abrigaria o museu, uma 
concepção moderna projetada por Décio. Como a necessidade de recursos 
financeiros ia crescendo, um verdadeiro périplo foi iniciado à busca de 
patrocínios, onde os insucessos constantes não foram capazes de desanimar os 
quatro irmãos, que se desdobravam para arcar com os custos da grande obra
Até que uma luz vinda da Alemanha, através da Lateinamerika Zentrum e.v, de Bonn  
(LAZ), modificou todo o quadro. Graças à intervenção pessoal de seu presidente, o 
deputado alemão Hermann Gorgen, a entidade aprovou o apoio financeiro, a 
fundo perdido, ao Projeto Redução, da ordem de 90 mil marcos alemães. Com esse 
recurso, aliados a novas pequenas doações efetuadas pelo Banco Crefisul S/A, 
Banco Bamerindus do Brasil S/A, Divinal Vidros, Vidraçaria Catarina e Alba Química 
S/A, além dos recursos da família, o prédio principal e o pequeno prédio que 
abrigaria a Escola de Artesanato foram tomando forma e o Museu das Reduções 
nascendo... Com ele, nasceu a Escola de Artesanatos, onde moças e senhoras da 
comunidade, por cerca de quatro anos, aprenderam corte e costura, tricô e crochê, 
desenho, artes em bambu, etc., agregando ao projeto original um grande conteúdo 
social. Em 26 de março de 1994, era chegado o grande momento. O então prefeito 
de Ouro Preto, Angelo Oswaldo de Araujo Santos, hoje (2014), presidente do Instituto
Brasileiro de Museus (IBRAM), grande incentivador do trabalho dos Irmãos Vilhena, 
na presença de grande parte da família Vilhena, de autoridades locais, regionais,
 estaduais e nacionais, da comunidade de Amarantina, de Ouro Preto e região, 
cortava a fita inaugural e entregava ao trade turístico e cultural de Ouro Preto, de 
Minas, do Brasil e do mundo o Museu das Reduções. Durante os primeiros dez anos, 
de 1994 a 2004, o Museu das Reduções experimentou todo o caráter lúdico da gestão
 dos próprios artistas, já encantando os milhares de visitantes, mas sem maiores 
ambições. A partir de 2004, com o falecimento de Evangelina, veio a reclusão de 
Sylvia e o museu passou a ser gerido pelo seu diretor administrativo e financeiro, 
Carlos Alberto Xavier de Vilhena, filho de Ênnio, que abandonou carreira 
vitoriosa como alto executivo do mercado financeiro para fixar-se, definitivamente, em
 Amarantina e dar prosseguimento ao trabalho da família. Com um verdadeiro 
choque de gestão, otimizou o funcionamento da casa e deu visibilidade ao 
trabalho, através de agressiva política de marketing, culminando com o
 reconhecimento obtido junto ao Guia 4 Rodas Brasil, de 2006, que elegeu o Museu 
das Reduções a Melhor Atração do Brasil na categoria Contribuição Artística, título 
mantido até os dias de hoje, em função do não surgimento de nova premiação na 
categoria. Nesse período, o museu registrou média de público, superior a 2.000 
visitantes mês. Apesar dos momentos difíceis que se sucederam, o museu atraiu 
investidores e parceiros de peso, que o recolocaram nos trilhos rumo ao sucesso
 que lhe está reservado. Citamos como fatos marcantes, a efetiva participação 
na fundação do Sistema de Museus de Ouro Preto, os patrocínios da Transcotta 
Ltda., Microcity Computadores e Sistemas Ltda., da EMTEL Ltda., da CEMIG, da 
CEMIG TELECOM e da GERDAU, além da firme parceria com o Instituto Nacional de 
Desenvolvimento e Integração Cultural (INDIC) na execução de projetos de 
educação patrimonial. Merece, ainda, destaque especial, a participação da 
professora Terezinha Lobo Leite, especialista ouro-pretana em educação patrimonial
 que, em uma releitura fantástica do acervo do museu, praticamente o 
redescobriu como fonte inesgotável de conhecimento nas áreas da matemática, 
história, geografia, ciências e artes. A partir das réplicas, alunos do ensino 
fundamental têm recebido informações e conhecimentos importantes para a 
formação da consciência preservacionista e o desenvolvimento do sentimento de 
pertencimento, contribuindo para o surgimento de uma geração comprometida com 
a preservação de nossa memória e de nosso patrimônio histórico, material e 
imaterial, tudo isso associado às disciplinas curriculares correspondentes. Enfim, 
dessa forma, o Museu das Reduções tem merecido o reconhecimento de autoridades
, intelectuais, artistas, das grandes empresas e do público em geral, como 
um importante equipamento turístico, cultural e educacional, que orgulha Ouro 
Preto, Minas e o Brasil. O Museu das Reduções, com seu contexto, é único e atrai o
 público pela beleza plástica de suas réplicas, pela fidelidade e pela riqueza
 de detalhes, proporcionando aos espectadores a mesma emoção que 
sentiriam diante dos monumentos originais. Diferencia-se dos demais parques 
temáticos do mundo pela concepção de suas réplicas, confeccionadas com os 
mesmos materiais empregados nas edificações originais, sem produtos 
industrializados e/ou sintéticos.

Um comentário:

  1. Em 2014 fui até lá para conhecer as maravilhosas obras de nossos conterrâneos. Fiquei sabendo que o herdeiro destas artes teria oferecido ao prefeito da Campanha há pouco tempo. Deve haver algum engano nessa informação, porque é inacreditável que ele não tenha aceitado um presente tão importante que enriqueceria muito a nossa cidade.

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