Jornal O GLobo 07Out2014
Basta de PT
Dilma foi a terceira pior presidente em termos de crescimento econômico. Só
perdeu para Floriano Peixoto e Fernando Collor
Estamos vivendo um momento histórico. A eleição presidencial de 2014
decidirá a sorte do Brasil por 12 anos. Como é sabido, o projeto petista é se
perpetuar no poder. Segundo imaginam os marginais do poder — feliz expressão
cunhada pelo ministro Celso de Mello quando do julgamento do mensalão —, a
vitória de Dilma Rousseff abrirá caminho para que Lula volte em 2018 e, claro,
com a perspectiva de permanecer por mais 8 anos no poder. Em um eventual segundo
governo Dilma, o presidente de fato será Lula. Esperto como é, o nosso Pedro
Malasartes da política vai preparar o terreno para voltar, como um Dom Sebastião
do século XXI, mesmo que parecendo mais um personagem de samba-enredo ao estilo
daquele imortalizado por Sérgio Porto.
Diferentemente de 2006 e 2010, o PT está fragilizado. Dilma é a candidata
que segue para tentar a reeleição com a menor votação obtida no primeiro turno
desde a eleição de 1994. Seu criador foi derrotado fragorosamente em São Paulo,
principal colégio eleitoral do país. Imaginou que elegeria mais um poste. Não só
o eleitorado disse não, como não reelegeu o performático e inepto senador
Eduardo Suplicy, e a bancada petista na Assembleia Legislativa perdeu oito
deputados e seis na Câmara dos Deputados.
A resistência e a recuperação de Aécio Neves foram épicas. Em certo momento
da campanha, parecia que o jogo eleitoral estava decidido. Marina Silva tinha
disparado e venceria — segundo as malfadadas pesquisas. Ele manteve a calma até
quando um dos seus coordenadores de campanha estava querendo saltar para o barco
da ex-senadora.
E, neste instante, a ação das lideranças paulistas do PSDB foi decisiva.
Geraldo Alckmin poderia ter lavado as mãos e fritado Aécio. Mas não o fez, assim
como José Serra, o senador mais votado do país com 11 milhões de votos. Foi em
São Paulo que começou a reação democrática que o levou ao segundo turno com uma
vitória consagradora no estado onde nasceu o PT.
Esta campanha eleitoral tem desafiado os analistas. As interpretações
tradicionais foram desmoralizadas. A determinação econômica — tal qual como no
marxismo — acabou não se sustentando. É recorrente a referência à campanha
americana de 1992 de Bill Clinton e a expressão “é a economia, estúpido”. Com a
economia crescendo próximo a zero, como explicar que Dilma liderou a votação no
primeiro turno? Se as alianças regionais são indispensáveis, como explicar a
votação de Marina? E o tal efeito bumerangue quando um candidato ataca o outro e
acaba caindo nas intenções de voto? Como explicar que Dilma caluniou Marina
durante três semanas, destruiu a adversária e obteve um crescimento nas
pesquisas?
Se Lula é o réu oculto do mensalão, o que dizer do doleiro petista Alberto
Youssef? Imagine o leitor quando o depoimento — já aceito pela Justiça Federal —
for divulgado ou vazar? De acordo com o ministro Teori Zavascki, o envolvimento
de altas figuras da República faz com que o processo tenha de ir para o STF. E,
basta lembrar, segundo o doleiro, que só ele lavou R$ 1 bilhão de corrupção da
Refinaria Abreu e Lima. Basta supor o que foi desviado da Petrobras, de outras
empresas e bancos estatais e dos ministérios para entender o significado dos 12
anos de petismo no poder. É o maior saque de recursos públicos da História do
Brasil.
Nesta conjuntura, Aécio tem de estar preparado para um enorme bombardeio de
calúnias que irá receber. Marina Silva aprendeu na prática o que é o PT. Em uma
quinzena foi alvo de um volume nunca visto de mentiras numa campanha
presidencial que acabou destruindo a sua candidatura. Não soube responder
porque, apesar de ter saído do PT, o PT ainda não tinha saído dela.
Ingenuamente, imaginou que tudo aquilo poderia ser resolvido biblicamente,
simplesmente virando a face para outra agressão. Constatou que o PT tem como
princípio destruir reputações. E ela foi mais uma vítima desta terrível
máquina.
O arsenal petista de dossiês contra Aécio já está pronto. Os aloprados não
têm princípios, simplesmente cumprem ordens. Sabem que não sobrevivem longe da
máquina de Estado. Contarão com o apoio entusiástico de artistas, intelectuais e
jornalistas. Todos eles fracassados e que imputam sua insignificância a uma
conspiração das elites. E são milhares espalhados por todo o Brasil.
Teremos o mais violento segundo turno de uma eleição presidencial. O que
Marina sofreu, Aécio sofrerá em dobro. Basta sinalizar que ameaça o projeto
criminoso de poder do petismo. O senador tucano vai encontrar pelo caminho
várias armadilhas. A maior delas é no campo econômico. O governo do PT gestou
uma grave crise. Dilma foi a terceira pior presidente da história do Brasil
republicano em termos de crescimento econômico. Só perdeu para Floriano Peixoto
— que teve no seu triênio presidencial duas guerras civis — e Fernando Collor —
que recebeu a verdadeira herança maldita: uma inflação anual de quatro dígitos.
O PT deve imputar a Aécio uma agenda econômica impopular que enfrente
radicalmente as mazelas criadas pelo petismo. Daí a necessidade imperiosa de o
candidato oposicionista deixar claro — muito claro — que quem fala sobre como
será o seu governo é ele — somente ele.
Aécio Neves tem todas as condições para vencer a eleição mais difícil da
nossa história. Se Tancredo Neves foi o instrumento para que o Brasil se
livrasse de 21 anos de arbítrio, o neto poderá ser aquele que livrará o país do
projeto criminoso de poder representado pelo PT. E poderemos, finalmente, virar
esta triste página da nossa história.
Marco Antonio Villa é historiador
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