CARTA ABERTA AO
CHICO BUARQUE, DO SEU VIZINHO.
Chico,
Confesso que fiquei chocado ao vê-lo desfilar na
passarela da Dilma, cantarolando como se
estivesse a defender uma causa justa, honesta e patriótica.
Logo você,
Chico, que ganhou tanto dinheiro
encantando a juventude da década de 1970 com parolas em prosa e verso sobre liberdade
e moralidade. Percebo que aquilo que você chamava de ditadura foi, na verdade, o grande
negócio da sua vida. Afinal, você estava à toa na vida.
Você deveria agradecer aos militares por tudo o que te
fizeram, porque poucos, muito poucos,
ganharam tanto dinheiro vendendo ilusões em forma de música e poesia como você.
Estou agora fazendo essa regressão, após vê-lo claudicante como A Mulher de Aníbal no palanque do Lula e da Dilma. Claro que
deu para perceber o seu constrangimento, a sua voz trêmula e pusilânime, certamente sendo acusado pela sua consciência de que estava naquele momento
avalizando, endossando todas as condutas deste governo trêfego e corrupto.
Nunca, jamais imaginei, Chico, que você pudesse se prestar a isso algum
dia. Mas é possível antever que apesar de todos vocês, amanhã há de ser outro dia. Quando chegar
o momento, esse nosso sofrimento, vamos cobrar com juros. Juro ! Você, como avalista, vai acabar tendo que pagar dobrado
cada lágrima rolada.
Você vai se amargar, Chico,
e esse dia há de vir antes do que você pensa.
Não sei como você vai se
explicar vendo o céu clarear, de
repente, impunemente.
Não sei como você vai abafar o nosso coro a cantar, na sua frente. Apesar de vocês, Chico, amanhã há de ser outro dia. Estamos sofrendo por ter que beber essa bebida
amarga, dura de tragar. Temos pedido ao Pai que afaste de nós esse cálice, mas quando vemos você,
logo você, brindando e festejando com todos
eles, só nos resta ficar cantando coisas de amor e olhando essa
banda passar.
E pedir que passe logo, porque apesar de vocês
amanhã há de ser outro dia.
Estamos todos cada qual no seu canto, e em cada canto há uma dor, por conta daquela cachaça de graça que a gente tem que engolir (lembra ?), ou a fumaça e a desgraça que a gente tem que
tossir.
Só espero, Chico, que as músicas que você venha a compor em parceria com
os seus amigos prosélitos de palanque não falem mais de amor,
liberdade, moralidade e ética - essas coisas que
você embutia disfarçadamente nas suas letras
agora mortas de tristeza e dor.
Não fale mais disso - não ficará bem no seu figurino agora
desnudo.
Componha, iluda, dance e se
alegre com todos eles, ganhe lá o seu dinheiro, e entre na roda e coloque tudo na
sua cueca - ou onde preferir - mas não iluda mais os nossos jovens com
suas músicas, simbolizadas hoje
apenas na sua gloriosa A Volta do Malandro.
(assinado)
Seu Vizinho ao Lado.....
Lavei minha alma !!!
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