Quando voz se torna letra: os ledores voluntários
Afonso BorgesLer para cegos é uma experiência inesquecível. Você sai de casa pensando que vai doar alguma coisa para as pessoas: o seu tempo, a sua disponibilidade, a sua voz. Tolice. Chega lá, faz a leitura e recebe de volta uma energia gigantesca, potente, entregue na forma de gratidão, inteireza e atenção. Em todo o Brasil, bibliotecas públicas tem o setor de braille. Na Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa, em Belo Horizonte, ele existe há mais de 50 anos! E nele, um fantástico projeto de ledores voluntários. Em outros estados, como Santa Catarina, ele tem nomes diferentes, como Ledores Solidários.
A advogada Carolina Dini, que trabalha na plataforma Sympla, é uma destas voluntárias. Deixou aqui um relato comovente: “Conheci o Projeto de Ledores do Setor Braile da Biblioteca Luiz de Bessa em 2015. Ele consiste, basicamente, em doar uma hora do seu tempo para ler para pessoas com deficiência visual que estão ali para estudar para concursos públicos. Então, durante sessenta minutos, você tem a honra de fazer as vezes dos olhos de alguém! No primeiro dia tive a oportunidade de ler para um voluntariado que fixou tão atentamente a atenção no que eu falava que cheguei a me comover. Não estava preparada para aquilo, pois nesse mundão de tantas distrações são raras as pessoas que realmente estão dispostas a escutar com tanta vontade. Só tenho a agradecer à Biblioteca, por todas as sementes que plantou em mim” (Carolina Dini).
Acontece que a grande maioria destes projetos anda precisando de ledores voluntários. Os deficientes visuais estão ali, disponíveis, precisando de pessoas que desejam dar, e receber. Inscrevam-se, participem, é um apelo, sim. Mas um apelo à própria experiência, que se transmuta em vivência, inesquecível. Procure a bibilioteca mais próxima, informe-se. Seja um Ledor Voluntário. E solidário.
(O Globo - 29/04/2017)
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