Um novo método para lidar com conflitos na escola
Por Emi Sasagawa - 09/08/2012 http://asboasnovas.com/gente/um-novo-metodo-para-lidar-com-conflitos-na-escola
Escolas buscam novos meios de resolver conflitos de forma não violenta e não
punitiva.
“O Círculo Restaurativo coloca o aluno no centro da
decisão, criando um espaço seguro onde ele pode se
expressar”
Um aluno se aborrece e insulta seu colega. Vendo isso a
professora manda o autor da ofensa para sala do vice-diretor da escola, que o
suspende por três dias. Nós reclamamos sobre a grosseria, a falta de limites e
os pais irresponsáveis que criaram este menino, justificando a punição como o
melhor modo de fazê-lo assumir a responsabilidade por seu mau comportamento. Mas
responsabilidade? Como? A punição é passiva. O aluno não precisa fazer nada. Ele
continua chateado. Aliás, ele se vê como vítima. Ele não pensa como tem
prejudicado os outros ou como pode consertar as coisas. Pelo contrário, ela
volta à sala de aula sem ter resolvido nada.
Pensando nisto, especialistas da área de educação tem buscado
outras formas de lidar com essas situações. E um método que vem ganhando espaço
nesse debate é o Círculo Restaurativo – uma técnica de resolução não violenta de
conflitos.
Dominic Barter desenvolveu os Círculos Restaurativos, uma
prática específica de restauração, criada no Rio de Janeiro em meados dos anos
90 para ajudar reduzir o nível de violência nas favelas. Depois de resultados de
sucesso, a abordagem começou a ser utilizada em várias
situações.
“O Círculo Restaurativo coloca o aluno no centro da decisão,
criando um espaço seguro onde ele pode se expressar”, diz Jean Schmitz,
conselheiro e promotor dos direitos da criança do Instituto Latino Americano de
Práticas Restaurativas.
Segundo ele, esse modelo proativo e preventivo já mostrou
ótimos resultados em uma série de escolas em Lima no Peru. “Sempre dou o exemplo
da escola pública Ramon Espinosa, porque o sucesso foi realmente incrível. O
colégio é situado em um bairro muito violento, onde grande parte dos
adolescentes se torna criminosos. Mesmo assim, apenas alguns meses foram
suficientes para alunos e professores notar a diferença no ambiente de estudo”,
comenta.
No Brasil a técnica vem sendo experimentada em algumas escolas.
Um estudo de caso,
conduzido pela PUCPR, analisou o efeito dos círculos em relação ao bullying em
três escolas em Porto Alegre – privada, municipal e estadual. Em todos os casos
os resultados apresentaram melhorias. “A gente fala sobre os nossos sentimentos,
inclusive. E também, aí a gente chega num acordo né? E resolvemos como vai ser
daí em diante o procedimento da criança dentro da sala de aula, como que ela vai
se comprometer a fazer as coisas dentro da sala de aula”, disse um aluno da 5ª
série de uma das escolas.
COMO FUNCIONA O CÍRCULO
Dentro das escolas, o método consiste de três passos e deve ser
realizado por dois profissionais capacitados.
Pré-Círculo
Receptor e autor são convidados a participarem de um encontro.
Todos os envolvidos devem querer participar por sua livre vontade, aceitando
cumprir com o que for exigido.
Círculo
Todos os participantes, incluindo os coordenadores, o autor, o
receptor e qualquer outra pessoa convidada por estes discutem a questão em
pauta. A ideia aqui é ajudar os alunos a expressar suas opiniões. Toda solução
vem dos estudantes. Portanto eles são responsáveis pela retificação de seus
atos.
Pós-Círculo
É a etapa final deste processo onde os envolvidos refletem
sobre a discussão que tiveram e colocam em prática as recomendações feitas por
eles mesmos.
ENTENDA A JUSTIÇA
Existem quatro práticas principais quando consideramos
ofensores que são menores de idade:
Punitiva: é o modelo tradicional, no qual o culpado é
“castigado” pelos seus atos.
Paternalística: reconhece a responsabilidade do estado de
proteger o jovem. Por isso, dentro desta prática, ofensores são mandados para
centros juvenis e não para cadeias comuns.
De reabilitação: vai além da proteção, ensinando o adolescente
a se responsabilizar pelas suas atitudes e descobrir as suas habilidades para
começar uma nova vida. Os críticos dizem que o grande problema aqui é que a
prática não leva em conta a vítima. Ela foca, apenas, no
ofensor.
Restaurativa: procura lidar com os dois lados do conflito,
buscando através de diálogos colaborativos, estabelecer um novo começo para
ambos os partidos. É nesta filosofia que os círculos restaurativos têm suas
raízes.
Relato de experiência de Círculo
Restaurativo
Cláudia Meinerz
Marques
Formas de intervenção mais eficazes com jovens em conflito com
a lei têm sido um desafio para os profissionais que se ocupam da tarefa de
acompanhar esses adolescentes no cumprimento de medidas socioeducativas (MSEs),
seja no meio aberto ou fechado (ECA, ar. 112). Assim, nossa intenção é apontar,
através do relato de um caso concreto – Círculo Restaurativo –, como um recurso
é capaz de proporcionar aos jovens, autores de ato infracional, uma experiência
na qual possam desenvolver a sua auto-responsabilização: o encontro com as
pessoas prejudicadas por sua atitude, a possibilidade de colocar-se no lugar do
outro e o planejamento, com o apoio de familiares e da comunidade, da reparação
dos danos causados a todos.
Neste espaço, pretendemos relatar uma experiência de Círculo Restaurativo,
descrevendo o processo e enfatizando os resultados, tanto para os participantes
principais (ofensor e vítima) quanto para as pessoas e as instituições
envolvidas no cumprimento do acordo estabelecido no encontro.
(...)
O conflito – resumo do fato
O adolescente, acompanhado de
um jovem adulto, que portava uma arma de fogo, abordaram a vítima, renderam-na e
determinaram que entregasse a carteira, o celular, o relógio e a chave do
veículo. Em seguida, obrigaram-no a sentar-se no banco detrás de seu carro. O
adolescente assumiu a direção, enquanto o outro jovem permaneceu apontando a
arma para a vítima. Aproveitando-se de uma distração dos ofensores, a vítima
reagiu sacando sua pistola. Os jovens tentaram fugir, mas o adolescente foi
atingido na perna por disparos de arma de fogo e foi levado ao hospital, local
em que permaneceu internado por alguns dias. Após, foi conduzido à Fundação de
Atendimento Socioeducativo (FASE) e cumpriu medida socioeducativa.
“O Círculo Restaurativo coloca o aluno no centro da
decisão, criando um espaço seguro onde ele pode se
expressar”
Um aluno se aborrece e insulta seu colega. Vendo isso a professora manda o autor da ofensa para sala do vice-diretor da escola, que o suspende por três dias. Nós reclamamos sobre a grosseria, a falta de limites e os pais irresponsáveis que criaram este menino, justificando a punição como o melhor modo de fazê-lo assumir a responsabilidade por seu mau comportamento. Mas responsabilidade? Como? A punição é passiva. O aluno não precisa fazer nada. Ele continua chateado. Aliás, ele se vê como vítima. Ele não pensa como tem prejudicado os outros ou como pode consertar as coisas. Pelo contrário, ela volta à sala de aula sem ter resolvido nada.
Pensando nisto, especialistas da área de educação tem buscado outras formas de lidar com essas situações. E um método que vem ganhando espaço nesse debate é o Círculo Restaurativo – uma técnica de resolução não violenta de conflitos.
Dominic Barter desenvolveu os Círculos Restaurativos, uma prática específica de restauração, criada no Rio de Janeiro em meados dos anos 90 para ajudar reduzir o nível de violência nas favelas. Depois de resultados de sucesso, a abordagem começou a ser utilizada em várias situações.
“O Círculo Restaurativo coloca o aluno no centro da decisão, criando um espaço seguro onde ele pode se expressar”, diz Jean Schmitz, conselheiro e promotor dos direitos da criança do Instituto Latino Americano de Práticas Restaurativas.
Segundo ele, esse modelo proativo e preventivo já mostrou ótimos resultados em uma série de escolas em Lima no Peru. “Sempre dou o exemplo da escola pública Ramon Espinosa, porque o sucesso foi realmente incrível. O colégio é situado em um bairro muito violento, onde grande parte dos adolescentes se torna criminosos. Mesmo assim, apenas alguns meses foram suficientes para alunos e professores notar a diferença no ambiente de estudo”, comenta.
No Brasil a técnica vem sendo experimentada em algumas escolas. Um estudo de caso, conduzido pela PUCPR, analisou o efeito dos círculos em relação ao bullying em três escolas em Porto Alegre – privada, municipal e estadual. Em todos os casos os resultados apresentaram melhorias. “A gente fala sobre os nossos sentimentos, inclusive. E também, aí a gente chega num acordo né? E resolvemos como vai ser daí em diante o procedimento da criança dentro da sala de aula, como que ela vai se comprometer a fazer as coisas dentro da sala de aula”, disse um aluno da 5ª série de uma das escolas.
COMO FUNCIONA O CÍRCULO
Dentro das escolas, o método consiste de três passos e deve ser realizado por dois profissionais capacitados.
Pré-Círculo
Receptor e autor são convidados a participarem de um encontro. Todos os envolvidos devem querer participar por sua livre vontade, aceitando cumprir com o que for exigido.
Círculo
Todos os participantes, incluindo os coordenadores, o autor, o receptor e qualquer outra pessoa convidada por estes discutem a questão em pauta. A ideia aqui é ajudar os alunos a expressar suas opiniões. Toda solução vem dos estudantes. Portanto eles são responsáveis pela retificação de seus atos.
Pós-Círculo
É a etapa final deste processo onde os envolvidos refletem sobre a discussão que tiveram e colocam em prática as recomendações feitas por eles mesmos.
ENTENDA A JUSTIÇA
Existem quatro práticas principais quando consideramos ofensores que são menores de idade:
Punitiva: é o modelo tradicional, no qual o culpado é “castigado” pelos seus atos.
Paternalística: reconhece a responsabilidade do estado de proteger o jovem. Por isso, dentro desta prática, ofensores são mandados para centros juvenis e não para cadeias comuns.
De reabilitação: vai além da proteção, ensinando o adolescente a se responsabilizar pelas suas atitudes e descobrir as suas habilidades para começar uma nova vida. Os críticos dizem que o grande problema aqui é que a prática não leva em conta a vítima. Ela foca, apenas, no ofensor.
Restaurativa: procura lidar com os dois lados do conflito, buscando através de diálogos colaborativos, estabelecer um novo começo para ambos os partidos. É nesta filosofia que os círculos restaurativos têm suas raízes.
Relato de experiência de Círculo
Restaurativo
Cláudia Meinerz
Marques
Formas de intervenção mais eficazes com jovens em conflito com
a lei têm sido um desafio para os profissionais que se ocupam da tarefa de
acompanhar esses adolescentes no cumprimento de medidas socioeducativas (MSEs),
seja no meio aberto ou fechado (ECA, ar. 112). Assim, nossa intenção é apontar,
através do relato de um caso concreto – Círculo Restaurativo –, como um recurso
é capaz de proporcionar aos jovens, autores de ato infracional, uma experiência
na qual possam desenvolver a sua auto-responsabilização: o encontro com as
pessoas prejudicadas por sua atitude, a possibilidade de colocar-se no lugar do
outro e o planejamento, com o apoio de familiares e da comunidade, da reparação
dos danos causados a todos.
Neste espaço, pretendemos relatar uma experiência de Círculo Restaurativo, descrevendo o processo e enfatizando os resultados, tanto para os participantes principais (ofensor e vítima) quanto para as pessoas e as instituições envolvidas no cumprimento do acordo estabelecido no encontro.
(...)
O conflito – resumo do fato
O adolescente, acompanhado de
um jovem adulto, que portava uma arma de fogo, abordaram a vítima, renderam-na e
determinaram que entregasse a carteira, o celular, o relógio e a chave do
veículo. Em seguida, obrigaram-no a sentar-se no banco detrás de seu carro. O
adolescente assumiu a direção, enquanto o outro jovem permaneceu apontando a
arma para a vítima. Aproveitando-se de uma distração dos ofensores, a vítima
reagiu sacando sua pistola. Os jovens tentaram fugir, mas o adolescente foi
atingido na perna por disparos de arma de fogo e foi levado ao hospital, local
em que permaneceu internado por alguns dias. Após, foi conduzido à Fundação de
Atendimento Socioeducativo (FASE) e cumpriu medida socioeducativa.
Texto completo em: http://www.justica21.org.br/arquivos/bib_292.pdf
O Dom da Comunicação Não-Violenta no
Brasil
Dominic Barter – Dom entre os amigos –
há 16 anos mudou-se da Inglaterra para o Brasil. Encontrou aqui um ótimo terreno
para disseminar as ideias da Comunicação Não-Violenta (CNV), que pesquisou junto
com Marshall Rosemberg, psicólogo americano que tem dedicado sua vida ao
desenvolvimento do tema.
No Brasil, Dominic desnvolve trabalhos com dois intuitos: difundir os
conhecimentos da CNV através de cursos e seminários, e auxiliar a introdução, na
justiça brasileira, do direito restaurativo, que permite substituir a punição
por acordos mais benéficos para os envolvidos. Hoje, Barter é a principal
referência da CNV no Brasil, não só por seu conhecimento do tema, mas também por
sua postura sempre coerente com o que ensina.
Estive em alguns de seus cursos. Posso testemunhar que viver sem CNV é como ler um livro num idioma que você não domina. Você pode até acompanhar a história, mas certamente vai perder as melhores partes.
Veja no vídeo algumas ideias de Dominic sobre o tema.
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=Frg2Qc2AzCs
Estive em alguns de seus cursos. Posso testemunhar que viver sem CNV é como ler um livro num idioma que você não domina. Você pode até acompanhar a história, mas certamente vai perder as melhores partes.
Veja no vídeo algumas ideias de Dominic sobre o tema.
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=Frg2Qc2AzCs
O livro
Comunicação Não-Violenta, escrito por Marshall Rosenberg, teve a supervisão
técnica de Dominic Barter na edição brasileira
--
Atenciosamente.
Claudio Estevam Próspero
Atenciosamente.
Claudio Estevam Próspero
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