Por Ricardo
Kotscho*
Um clima de fim de feira
varre o país de ponta a ponta apenas dois meses após a posse da presidente Dilma
Rousseff para o seu segundo mandato. Feirantes e fregueses estão igualmente
insatisfeitos e cabisbaixos, alternando sentimentos de revolta e
desesperança.
Esta é a realidade. Não
adianta desligar a televisão e deixar de ler jornais nem ficar blasfemando pelas
redes sociais. Estamos todos no mesmo barco e temos que continuar remando para
pagar nossas contas e botar comida na mesa.
Nunca antes na história da
humanidade um governo se desmanchou tão rápido antes mesmo de ter começado. Para
onde vamos, Dilma? Cada vez mais gente acha que já chegamos ao fundo do poço,
mas tenho minhas dúvidas se este poço tem fundo.
“O que já está ruim sempre
pode piorar”, escrevi aqui mesmo no dia 5 de fevereiro, uma quinta-feira, às 10
horas da manhã, na abertura do texto “Governo Dilma-2 caminha para a
autodestruição”.
“Pelo ranger da carruagem
desgovernada, a oposição nem precisa perder muito tempo com CPIs e pareceres
para detonar o impeachment da presidente da República, que continua recolhida e
calada em seus palácios, sem mostrar qualquer reação. O governo Dilma-2 está se
acabando sozinho num inimaginável processo de
autodestruição”.
Pelas bobagens que tem
falado nas suas raras aparições públicas, completamente sem noção do que se
passa no país, melhor faria a presidente se continuasse em silêncio, já que não
tem mais nada para dizer.
Três semanas somente se
passaram e os fatos, infelizmente, confirmaram minhas piores previsões. Profetas
de boteco ou sabichões acadêmicos, qualquer um poderia prever que a
tendência era tudo só piorar ainda mais.
Basta ver algumas
manchetes deste último dia de fevereiro para constatar o descalabro econômico em
que nos metemos. Cada uma delas já seria preocupante, mas o conjunto da obra
chega a ser assustador:
“Dilma sobe tributo em 150%
e empresas preveem demissões”.
“País elimina 82 mil
empregos em janeiro, pior resultado desde 2009”.
“Conta da Eletropaulo sobe
40% em março”.
“Bloqueio de caminheiros
deixa animais sem ração. Na região sul, aves são sacrificadas em granjas, porcos
ficam sem alimento e preço do leite deve subir”.
“Indicadores do ano apontam
todos para a recessão”.
“Estudo da indústria calcula
impacto de racionamento no PIB. Queda de 10% no abastecimento de gás, energia e
água levaria a perda de R$ 28,8 bi”.
As imagens mostram estradas
que continuam bloqueadas por caminheiros, depois de mais de uma semana de
protestos, agentes da Força Nacional armados até os dentes avançando sobre os
manifestantes, produtores despejando nas ruas toneladas de latões de leite que
ficaram sem transporte. O que ainda falta?
Enquanto isso, parece que as
principais lideranças políticas do país ainda não se deram conta da gravidade do
momento que vivemos, com a ameaça de uma ruptura
institucional.
De um lado, o ex-presidente
Lula, convoca o “exército do Stédile” e é atacado pelo Clube Militar por
“incitar o confronto”; de outro, os principais caciques tucanos, FHC à frente,
fazem gracinhas e se divertem no Facebook. Estão todos brincando com fogo,
sentados sobre um barril de pólvora. É difícil saber o que é pior: o governo ou
a oposição. Não temos para onde correr.
A esta altura, só os mais
celerados oposicionistas defendem o impeachment de Dilma e pregam abertamente o
golpe paraguaio, ainda defendido por alguns dos seus aliados na mídia, que teria
um final imprevisível.
O governo Dilma-2 está
cavando a sua própria cova desde que resolveu esnobar o PMDB, e não adianta Lula
ficar pensando em 2018 porque, do jeito que vamos, o país não aguenta até
2018.
Nem Dilma, em seus piores
pesadelos, poderia imaginar este cenário de terra arrasada _ ou não teria se
candidatado à reeleição, da qual já deve estar profundamente
arrependida.
* Ricardo Kotscho é
jornalista, trabalhou nos principais veículos de imprensa, foi correspondente na
Europa e Secretário de Imprensa da Presidência da República no governo Luiz
Inácio Lula da Silva.
** Artigo publicado
originalmente no blog Balaio do
Kotscho.
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