ANTÔNIO CA
Biografia de Antônio Casadei
Jurista, Promotor, Publicista,
Jornalista e Historiador
(Publicado no folheto Campanhenses Ilustres nº 09
editado pelo Centro de Estudos Campanhense Monsenhor Lefort).
Em 31 de outubro de 1909, nasce
Antônio Casadei, filho de Atílio Casadei e Dirce Naliatti Casadei, casal de
italianos que no mesmo navio chegam ao Brasil no final do século XIX. O pai, da
cidade de Forli, exerce a profissão de comerciante e participa ativamente da
vida do Município.
Em Campanha, Casadei passa sua
infância. Faz seus primeiros estudos em escolas particulares. Em 1926,
matricula-se no primeiro ano seriado do Ginásio
Municipal São João, onde fica até 1930.
Inicia, em 1933, a Faculdade de Direito da Universidade de Minas Gerais, em Belo Horizonte. Nessa época funda e integra
naquela cidade, a diretoria do Clube da Cultura.
Estudante, é no interior - mais
precisamente na Campanha - que descansa das lidas escolares cercado pelo
carinho da família. Popular, freqüenta “boas rodas”, os clubes da cidade,
bailes e festas.
Em
janeiro de 1935, edita na Campanha “O
Alarme”- jornal crítico, humorístico e noticioso - com o lema “Um por todos
e todos por um”. Fazem parte da redação Sylvio de Mello Franco, Jamil Abrão e
Alberto Pires.
Sua participação na redação do
“Alarme” é reconhecida pela própria equipe que dirige:
“O nosso companheiro Toninho é um dos
incansáveis da turma. A Redação da nossa modesta folha vai se mostrando mais
alegre debaixo das decorações feitas por esse amigo.
Os quadros que a enfeitam dão uma graça
original...” E continua:
“Os conselhos da campanha da boa vontade
são todos transcritos por ele e enfeitados por um lindo rosto de moça que o seu
lápis desenha com grande facilidade. As colunas do “Alarme” vêm repletas do
trabalho desse colega, que com seu humorismo, vai deleitando o nosso público
ledor.
As horas de prosa na Redação são
floreadas pelos ditos chistosos desse amigo, entrecortados pelas risadas
gostosas por ele provocadas.
Ultimamente,
não bastando tudo isso, ele tem se entregado a fazer distintivos da “turma do
Alarme” a todo momento.
Causou-nos
surpresa tanto distintivo e perguntamos-lhe para quê.
São para as inúmeras admiradoras...”
O texto evidencia o gênio alegre e cordial, o
sucesso com o sexo feminino, a inteligência aguçada e espirituosa, qualidades
que, mais tarde, o ajudarão a conquistar novos e fiéis admiradores.
Ao circular seu último número em 17 de março, explicam:
“Vamos para bem longe, mas a recordação dos belos dias vividos nesta
terra de tradições liberais nos confortará até chegar o dia de volvermos a
Campanha para dar-lhes um pouco de vida...”
Este
amor à Campanha, já expresso aos 26 anos, vai acompanhar toda a sua vida. Com o
tempo, irá estreitar e intensificar suas relações de amizade com os
campanhenses e procurar servir e difundir sua terra por todos os meios. Será
sempre motivo de constante e espontânea afeição de seus conterrâneos.
Cordial
e comunicativo, estimado pelos
professores e colegas, aluno aplicado, com grande participação na vida
acadêmica, diploma-se, em 1937, como Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais.
O “Sul de Minas” em sua
edição no 72 noticia:
“...Acaba
de colar grau como Bacharel em Direito pela Universidade de Minas Gerais o
distinto campanhense Antônio Casadei...”
“...Inteligente e esforçado, o jovem
conterrâneo concluiu o curso jurídico com muito brilhantismo”.
O fato foi motivo de grandes festas
e homenagens na Campanha acontecidas no Clube Concórdia.
Formado, aqui exerce a Promotoria
Pública em 1941, sendo Juiz de Direito o Mestre Dr. Nicolau Tolentino de Morais
Navarro.
Neste mesmo ano, torna-se sócio
fundador do Aero Clube da Campanha.
Em fins de 1943, Casadei é admitido
na Companhia Estadual de Águas e Esgotos (CEDAE) em Niterói,
cidade que elege para sua residência.
Com a subordinação do Órgão à
Secretaria de Obras do Estado do Rio de Janeiro ao Patrimônio da União em 1948,
é nomeado Consultor e Chefe da
Consultoria Jurídica. Cargo que ocupa até 1968.
Preside várias comissões de
Inquérito e exerce a Chefia de Gabinete do Dr. Imbassahy de Melo.
Com o advento da Revolução de 64, é
designado Presidente da Comissão incumbida de apurar atentados contra a segurança
do País, do regime democrático e da probidade da administração pública na
Superintendência de Águas e Engenharia Sanitária e nas Residências do
Departamento de Engenharia da Secretaria de Obras Públicas.
Em 1966, desempenha a Chefia do Gabinete do Secretário de Segurança
Pública do Estado do Rio de Janeiro, General Carlos Fabrício Silva, sem
ônus para a mesma Secretaria e sem prejuízo de suas funções de Chefe da
Consultoria Jurídica deste Órgão.
Nessa época, faz incursão no Magistério lecionando Direito Constitucional
na antiga Escola de Polícia do Estado
do Rio de Janeiro.
Funda, em Niterói, o Diretório do Partido Libertador e o Centro Pró Melhoramentos do Ingá.
Participa
do 2o Congresso de
História Fluminense e apresenta o trabalho “Euclides da Cunha na cidade da
Campanha”. Posteriormente, irá enviá-lo ao consagrado memorialista Pedro Nava,
julgando ser o fato de grande interesse para a História Literária do País. Na
resposta, que vem longa, o escritor escreve:
“...Apreciei, sobremaneira o número enviado
do “jornal do Instituto Histórico de Niterói”, incluíndo seu estudo sobre
“Euclides da Cunha, nome de Praça na Cidade da Campanha em 1894”, com as
transcrições de poemas do autor de Os
Sertões. Não o sabia poeta até sua informação. Realmente “As Catas” não
diminuem em nada o escritor mágico da nossa Canudos.
Por tudo isto, mil vezes obrigado...”
Cultiva, desde a adolescência,
interesse pelos esportes; de compleição atlética, é um autêntico desportista.
Joga no Sport Club São Pedro, no Campanha Sport Club e em vários times de 1ª e 2ª categorias. Aceita
desafios para partidas de futebol em qualquer quadro das cidades vizinhas.
Em Niterói, nada nas praias de
Icaraí e Boa Viagem. Participa da vice-presidência do Praia das Flexas Club F.C. É sócio atleta do Clube de Regatas do Flamengo na categoria “remo”.
Apesar da intensa lida política,
cultural e social, Casadei não esquece Campanha. Constantemente vem rever
familiares e amigos. Confirmar assim, na convivência com os seus, o compromisso
definitivo do amor filial e fraternal.
É eleito membro da Academia Sul Mineira de Letras com sede nesta cidade.
Seu gosto e talento para o
jornalismo, iniciado na década de 30, está sempre presente. Funda o Lions Club de Niterói, cria e redige seu
informativo - “O Rugido”. Chefia a
redação da Revista “Guanabara”. Diretor social da Sociedade
Fluminense de Fotografia, redige
seu Boletim. Filia-se à Associação
Fluminense de Jornalismo. Escreve inúmeros artigos, a maioria históricos,
em jornais de Minas, Niterói, Petrópolis e Angra dos Reis.
A esse respeito, Carlos Drummond de
Andrade, em uma crônica publicada no
Jornal do Brasil, em 4 de outubro de 1979, intitulada “O Poeta e os Dentes
de Donana”, comenta sobre os versos que Manuel Bandeira aqui compôs aos 19
anos, editados em periódico da cidade:
“Talvez não chegássemos nunca a ler esta
composição do jovem poeta Manuel Bandeira se não fosse o carinho do historiador
campanhense Antônio Casadei, que os reproduziu há pouco em “A Tribuna”, de
Niterói, acrescentando informações sobre a passagem do poeta por aquela
cidade...”
“Devo à gentileza de Casadei a
comunicação de mais três colaborações de Manuel Bandeira em “A Campanha”. Com
permissão do descobridor dessas raridades, espero divulgá-las em minha
coluna...”
Casadei guarda, como “relíquia”, a
preciosa correspondência recebida do nosso poeta maior.
Em 28 de abril de l965 preside a Comissão Executiva e elabora as extensas
solenidades comemorativas do Centenário
de Nascimento do grande sábio Vital Brazil Mineiro da Campanha. Casadei não
mede esforços para o brilhantismo do evento. Deve-se a ele, a instalação da
estátua em bronze e granito do renomado cientista na Praça Dom Ferrão. Por esta
iniciativa, recebe a “Medalha de Vital
Brazil” conferida pelo Governo mineiro.
Casa-se, em 1967, com Thalita de Oliveira, natural de Campos -
RJ, filha do Desembargador Adherbal de Oliveira, Juiz de Direito e de D. Ozires
Rangel de Oliveira. Formada pela Faculdade
de Filosofia, Ciências e Letras da UFRJ nos cursos de Geografia e
História, professora em conceituados estabelecimentos de ensino do Rio de
Janeiro, vai representar papel importante em sua vida e em seus trabalhos
históricos. Juntos, percorrem Arquivos e lêem velhos alfarrábios e códices. A
covivência permanente com fatos da cidade a levará, mais tarde, em 1989, a
escrever a obra “Aspectos Históricos da Cidade da
Campanha”.
Atualmente, Thalita é consagrada
escritora com inúmeros livros editados e diversas colaborações publicadas em
jornais e revistas do Estado do Rio e de Minas.
Em 1969, Antônio Casadei inicia uma
série de artigos no jornal “Voz Diocesana”, dirigido pelo notável Historiador e seu grande amigo Monsenhor
José do Patrocínio Lefort. Neste mesmo ano, é eleito Membro Fundador do Instituto Histórico e Geográfico da Campanha.
Sua lida literária o torna Membro dos Institutos Históricos de Niterói, Paraty, Campos e Friburgo. É
sócio fundador do Instituto de Estudos
Paraibanos de Guaratinguetá.
A Agremiação “Toloco no Samba” -
escola carnavalesca que marcou época na Campanha na década de 70 - o elege membro do Departamento Cultural e Artístico.
Homem bom e honesto, íntegro, cheio de uma
generosidade que encanta, mesmo distante da Campanha, carrega-a no coração.
Cuidadoso, coleciona e organiza seus
estudos para a edição da obra “Notícias Históricas da Cidade da Campanha -
tradição e cultura”. Escolhe para lançá-la o ano de 1987 nas comemorações
dos 250 anos do descobrimento do Município.
Monsenhor Lefort reconhece o valor
do amigo e prefacia a obra:
“Vem agora, e já vem quase tarde, este momentoso livro do Dr. Casadei.
É um pedaço de sua vida, pois lhe custou uma trabalheira enorme, fruto de sua
paciência beneditina...”
O cronista Otto Lara Rezende,
comenta:
“Matérias diversas, diversos interesses, mas
tudo cativante, na medida que retira do esquecimento pessoas e acontecimentos
dignos de serem lembrados.
Fruto
de pesquisa, ou seja, de paciência, de obstinação - e também da memória, do que
só se sabe de cor, isto é, com o coração, pela experiência da vida - “Notícias
Históricas é um repositório importante não apenas para Campanha, mas para a
História de Minas e do Brasil”.
Casadei e Thalita sempre se preocupam com o crescimento
cultural e o progresso da Campanha.
Em 1994, o casal doa à Biblioteca Municipal Cônego Victor todo
o seu acervo de livros. O material é
rico e completo. Quase todas as obras estão anotadas por paciente trabalho de
leitura.
As visitas à Biblioteca, sempre
freqüentes, se intensificam. Apoiam e valorizam as atividades do Centro de Estudos Campanhense Monsenhor Lefort
e trazem novas contribuições ao setor.
Em 07 de fevereiro de 1997, morre, em Petrópolis,
Antônio Casadei.
Ao rever esta existência ativa e
fecunda, vêm-nos à mente as palavras do grande advogado e orador Nicolau
Navarro, pronunciadas a 11 de maio de 1941, ao ser nomeado Juiz de Direito
desta Comarca e publicadas no jornal Sul
de Minas, no
233:
“A MIM, ME BASTAVA SER CAMPANHENSE...”
A frase é a
representação máxima do amor e dedicação que esses dois campanhenses - aquele
tão ilustre quanto esse - devotavam à sua terra natal.
Angélica Siqueira Andrès
Em nome da família agradeço a Homenagem e lembrança do tio Toninho Casadei. Um Campanhense que amava sua terra natal e fez estudos que resultaram no Livro "NOTICIAS HISTÓRICAS DA CIDADE DA CAMPANHA". Grande abraço.
ResponderExcluirNão fiz mais do que uma justa e merecida homenagem à uma grande campanhense. Quem dera, todo campanhense amasse e respeitasse sua terra natal como ele o fez.Graças a ele fiquei sabendo desta grata e ao mesmo tempo triste notícia, logo abaixo. Quem será que teve a infeliz iniciativa de retirar o nome o nome da praça do tão ilustre poeta Euclides da Cunha. “...Apreciei, sobremaneira o número enviado do “jornal do Instituto Histórico de Niterói”, incluíndo seu estudo sobre “Euclides da Cunha, nome de Praça na Cidade da Campanha em 1894”, com as transcrições de poemas do autor de Os Sertões. Não o sabia poeta até sua informação. Realmente “As Catas” não diminuem em nada o escritor mágico da nossa Canudos.
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