ACORDA
por Regina Pundek em 20/06/2015
Trabalho com um grupo de crianças de cinco anos de idade preparando-os para a saída da Educação Infantil e chegada no Ensino Fundamental. Embora eu discorde dessa tal data de corte que transforma meus meninos e meninas em alunos tão cedo. Minha intenção é ajudá-los a enfrentar a mudança de uma maneira forte, ao menos emocionalmente. Sendo assim, meu momento é transformado numa "aula" com horário de começo e fim. Na minha forma de entender educação é realmente uma pena precisar preparar as crianças para algo assim. Pois lá eles desaprenderão algumas coisas que considero importantes como: a aprendizagem significativa, a autonomia, a expressão de sentimentos e resolução de conflitos...Nossas regras são montadas nos primeiros dias sempre visando a nova escola. Uma delas é que antes de entrarem na Sala de Aula devem ir ao banheiro. Eventualmente um deles acaba me pedindo para ir ao banheiro e eu pergunto porque não foi antes, mas claro que acabo deixando. Mas houve um dia em que eu disse não para um menino, o Enzo, que costuma pedir diariamente. Ele é uma criança esparramada na infância; para ele é muito difícil aceitar esse tipo de regra. Até o admiro por isso.Esta semana na correria do horário de iniciar a aula eu mesma deixei de ir ao banheiro. Então expus minha necessidade para o grupo questionando o que achavam sobre o meu problema. Será que eu poderia sair para ir ao banheiro na opinião deles? Imediatamente o Enzo falou que eu não podia. Eu aceitei a colocação dele e contei pro grupo que uma vez eu não havia deixado que ele fosse. Ele sorriu pra mim e disse: "Agora quero só ver o que você vai fazer!?" Então propus uma votação e ele aceitou. A maioria das crianças disse que eu podia ir. Resolvi problematizar ainda mais perguntando de que valia a regra se íamos votar cada vez. E felizmente ouvi uma menina dizer: "é pra gente aprender como vai ser ano que vem"... Então voltei a perguntar se a votação tava valendo mesmo e eles me autorizaram a ir desde que eu prometesse que seria a última vez.Fui rapidinho e na volta uma menina levantou a mão e disse: "né, Regina que você podia ter ido sem perguntar nada pra gente!" Eu me espantei com a colocação dela e disse: "Claro que não Fernanda. Por que você diz isso?" "Ué, porque professoras não precisam pedir aos alunos. Elas podem quebrar as regras"... Eu falei que não podem não! E, quando a aula acabou me recolhi em silêncios... cheinha de vontade de que nenhuma professora jamais quebrasse uma regra!Nesta mesma semana, depois de uma atividade de recorte pedi que as crianças juntassem o papel picado que ficara pelo chão. Em geral as crianças gostam de realizar essas tarefas que os permite sentirem-se úteis perante o coletivo. Quando tudo estava limpo pedi que o Guilherme recolocasse o balde do lixo no lugar e indignado ele me respondeu: "Cai fora!"- Ué, por que cai fora?- Porque foi você que trouxe o balde aqui.- Eu trouxe para facilitar o trabalho de vocês.- Eu não vou levar de volta não!- Na sua casa você não limpa a sua sujeira e organiza a sua bagunça?!- Eu não! A minha empregada limpa...Perante essa afirmação tão firme, tive que me impor:- Pois aqui e por toda a sua vida, onde quer que você esteja, você precisa limpar o que sujar, arrumar o que bagunçar e guardar o que estiver fora do lugar.O Guilherme colocou o balde do lixo de volta no lugar e eu fiquei cheia de pesares. Não para de gritar em mim a necessidade de um ACORDA geral, tanto para a Educação, como para as Famílias e para a Nação.
Regina Pundek
Escritora, Professora da Educação Infantil, Diretora Pedagógica, Psicopedagoga, Engenheira Civil, Educadora apaixonada pelo respeito ao Ser Humano.
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