"Estou convencido de que, se quisermos ficar no lado correto da
revolução mundial, nós... devemos passar por uma revolução radical de valores...
devemos começar rapidamente a mudança de uma sociedade orientada para as coisas
a uma sociedade orientada para as pessoas. Quando as máquinas e os computadores,
razões de lucro e os direitos de propriedade são considerados mais importantes
do que as pessoas, os trigêmeos gigantes do racismo, do materialismo extremo e
do militarismo são incapazes de serem vencidos." [812]
- Dr. Martin Luther King Jr. -
TENDÊNCIAS
O início do século 21 marca um período extremamente interessante. De um
lado, vemos muitos problemas claros e presentes que, como este ensaio irá
discutir, mostram uma gravitação acelerando em direção a consequências mais
negativas, tanto ambientais como sociais. No entanto, por outro lado, uma
orientação para soluções, sempre presente, e acelerando, tecnicamente, revela
muito potencial para mudar o curso para melhor, as possibilidades positivas
futuras parecem profundas e sem limites.
Para o observador casual, a ideia de que "o pior já passou", em relação à
evolução da cultura humana, pode parecer intuitivamente precisa, dependendo de
onde se reside no planeta. Temos visto um aumento global da expectativa de vida,
um declínio geral na violência comportamental, [813] um padrão ascendente do
nível de vida em geral, no mundo ocidental, juntamente com uma cultura global
que, em geral, está amadurecendo, que foi caminhando para longe de vastos
períodos de intolerância, sexismo, racismo e nacionalismo, promovendo, ainda,
uma consciência global tão necessária.
No entanto, a verdade sobre a questão é que qualquer "progresso" social
dessa espécie, especificamente a elevação geral do padrão de vida, ocorrendo
devido à nossa engenhosidade tecnológica, está, na verdade, amalgamado dentro de
uma estrutura altamente prejudicial que acaba de começar a realmente revelar-se
como tal. Estes problemas que estão surgindo são de natureza científica, não
ideológica. O fato é que o capitalismo de mercado, não importa como você deseje
regulamentá-lo ou não regulamentá-lo, contém falhas estruturais graves, que
sempre, de uma forma ou de outra, irão perpetuar o abuso ambiental e a
desestabilização, junto com o desrespeito humano e a desigualdade
cáustica.
Conforme expresso mais extensamente em outros ensaios, este conceito de
mercado/comércio manifestou-se a partir de uma condição ambiental que via todas
as coisas materiais no mundo como universalmente escassas. Isso forjou um
sistema de valores competitivo e, invariavelmente explorador que gera certas
tendências e comprometimentos comportamentais que estão desalinhados com a ordem
natural da realidade, como por exemplo nossos modernos entendimentos ambientais
e sociológicos. [814]
A diferença entre o efeito do capitalismo hoje e no século XVI é que a
nossa capacidade técnica para acelerar e ampliar rapidamente este processo
competitivo e explorador trouxe à tona consequências que simplesmente não podiam
ser reconhecidas ou mesmo antecipadas durante aqueles períodos anteriores. Hoje,
estamos vendo o surgimento dessas tendências anteriormente ocultas em pleno
vigor, e o resultado final é que o que atualmente vemos como progresso
provavelmente será superado, com o tempo, pela força de ordem maior dos
princípios prejudiciais e inadequados do capitalismo. É como uma onda enorme que
tem estado em curso para bater em um navio por um tempo muito longo e não
importa quão bem desenvolvido e organizado esse navio é, ele não é páreo para
esta força maior da natureza.
Talvez o exemplo mais notável disso é o fato de que virtualmente todos os
sistemas de apoio à vida estão em declínio. [815][816] Realmente não importa
quantas pessoas conseguiram um estilo de vida cobiçado, ideal, de classe alta se
ele está ocorrendo tendo por trás métodos insustentáveis. É simplesmente uma
questão de tempo antes dos efeitos do esgotamento de recursos; perda de
biodiversidade e poluição evoluírem para destruir essa ilusão de sucesso. Da
mesma forma, embora possa ser verdade que vimos um declínio na violência,
genocídio em massa e as anteriormente enormes fatalidades comuns à guerra
global, precisamos dar um passo ainda mais para trás e lembrar da própria
causalidade, não a mera tendência de redução. Se a escassez de recursos e
estratégia geo-econômica têm sido a causa da maioria dos conflitos nacionais do
mundo no passado (coisa que ela foi), então tudo o que é necessário é que essa
pré-condição se re-materialize. O rápido declínio das relações homem-ambiente
nas últimas décadas está preparando o palco para isso mais uma vez.
A guerra do Iraque em 2003, segundo alguns analistas, foi uma guerra de
recursos por petróleo, e isso é bastante difícil de negar quando a evidência é
pesada. [817] Há pouca dúvida de que se o mundo se deparasse com escassez real
de energia, água, alimentos, minérios, na medida em que isso afetasse
profundamente as economias dos maiores poderes nacionais, nós regrediríamos
rapidamente de volta à guerra mundial e casualidades em massa, sem mencionar a
agitação civil em massa também. Hoje, todas as maiores superpotências continuam
a aumentar armamentos e poder de fogo claramente em preparação para tais
eventos. [818]
Em um nível diferente, quase paradoxalmente, as mesmas coisas que têm
ajudado a sociedade a aumentar o seu nível de vida, ciência e tecnologia, estão
também impulsionando a sua crescente vulnerabilidade em direção à destruição.
Enquanto a ciência pode, por um lado, iluminar os alinhamentos naturais aos
quais nós, como uma espécie precisamos aderir para encontrarmos o equilíbrio com
o habitat e uns com os outros, ela também pode ser usada localmente e de forma
restrita, dentro do contexto da distorcida estrutura de incentivos que o mercado
perpetua, para criar e acelerar consequências destrutivas e desumanas. A bomba
atômica é um extremo dessa realidade. Nossa capacidade aumentada e de alta
tecnologia para destruir a biodiversidade de forma mais eficiente, sobreutilizar
nossos recursos e poluir, é outra.
Em alguns aspectos, o rápido desenvolvimento da ciência e da tecnologia
está empurrando a humanidade para um impasse.
PARA SABER MAIS:
17. DESESTABILIZAÇÃO SOCIAL E TRANSIÇÃO
Atenciosamente.
Claudio
Estevam Próspero
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