terça-feira, 9 de junho de 2015

TENDÊNCIAS - Claudio Estevam Própero.



"Estou convencido de que, se quisermos ficar no lado correto da revolução mundial, nós... devemos passar por uma revolução radical de valores... devemos começar rapidamente a mudança de uma sociedade orientada para as coisas a uma sociedade orientada para as pessoas. Quando as máquinas e os computadores, razões de lucro e os direitos de propriedade são considerados mais importantes do que as pessoas, os trigêmeos gigantes do racismo, do materialismo extremo e do militarismo são incapazes de serem vencidos." [812]

- Dr. Martin Luther King Jr. -

TENDÊNCIAS

O início do século 21 marca um período extremamente interessante. De um lado, vemos muitos problemas claros e presentes que, como este ensaio irá discutir, mostram uma gravitação acelerando em direção a consequências mais negativas, tanto ambientais como sociais. No entanto, por outro lado, uma orientação para soluções, sempre presente, e acelerando, tecnicamente, revela muito potencial para mudar o curso para melhor, as possibilidades positivas futuras parecem profundas e sem limites.

Para o observador casual, a ideia de que "o pior já passou", em relação à evolução da cultura humana, pode parecer intuitivamente precisa, dependendo de onde se reside no planeta. Temos visto um aumento global da expectativa de vida, um declínio geral na violência comportamental, [813] um padrão ascendente do nível de vida em geral, no mundo ocidental, juntamente com uma cultura global que, em geral, está amadurecendo, que foi caminhando para longe de vastos períodos de intolerância, sexismo, racismo e nacionalismo, promovendo, ainda, uma consciência global tão necessária.

No entanto, a verdade sobre a questão é que qualquer "progresso" social dessa espécie, especificamente a elevação geral do padrão de vida, ocorrendo devido à nossa engenhosidade tecnológica, está, na verdade, amalgamado dentro de uma estrutura altamente prejudicial que acaba de começar a realmente revelar-se como tal. Estes problemas que estão surgindo são de natureza científica, não ideológica. O fato é que o capitalismo de mercado, não importa como você deseje regulamentá-lo ou não regulamentá-lo, contém falhas estruturais graves, que sempre, de uma forma ou de outra, irão perpetuar o abuso ambiental e a desestabilização, junto com o desrespeito humano e a desigualdade cáustica.

Conforme expresso mais extensamente em outros ensaios, este conceito de mercado/comércio manifestou-se a partir de uma condição ambiental que via todas as coisas materiais no mundo como universalmente escassas. Isso forjou um sistema de valores competitivo e, invariavelmente explorador que gera certas tendências e comprometimentos comportamentais que estão desalinhados com a ordem natural da realidade, como por exemplo nossos modernos entendimentos ambientais e sociológicos. [814]

A diferença entre o efeito do capitalismo hoje e no século XVI é que a nossa capacidade técnica para acelerar e ampliar rapidamente este processo competitivo e explorador trouxe à tona consequências que simplesmente não podiam ser reconhecidas ou mesmo antecipadas durante aqueles períodos anteriores. Hoje, estamos vendo o surgimento dessas tendências anteriormente ocultas em pleno vigor, e o resultado final é que o que atualmente vemos como progresso provavelmente será superado, com o tempo, pela força de ordem maior dos princípios prejudiciais e inadequados do capitalismo. É como uma onda enorme que tem estado em curso para bater em um navio por um tempo muito longo e não importa quão bem desenvolvido e organizado esse navio é, ele não é páreo para esta força maior da natureza.

Talvez o exemplo mais notável disso é o fato de que virtualmente todos os sistemas de apoio à vida estão em declínio. [815][816] Realmente não importa quantas pessoas conseguiram um estilo de vida cobiçado, ideal, de classe alta se ele está ocorrendo tendo por trás métodos insustentáveis. É simplesmente uma questão de tempo antes dos efeitos do esgotamento de recursos; perda de biodiversidade e poluição evoluírem para destruir essa ilusão de sucesso. Da mesma forma, embora possa ser verdade que vimos um declínio na violência, genocídio em massa e as anteriormente enormes fatalidades comuns à guerra global, precisamos dar um passo ainda mais para trás e lembrar da própria causalidade, não a mera tendência de redução. Se a escassez de recursos e estratégia geo-econômica têm sido a causa da maioria dos conflitos nacionais do mundo no passado (coisa que ela foi), então tudo o que é necessário é que essa pré-condição se re-materialize. O rápido declínio das relações homem-ambiente nas últimas décadas está preparando o palco para isso mais uma vez.

A guerra do Iraque em 2003, segundo alguns analistas, foi uma guerra de recursos por petróleo, e isso é bastante difícil de negar quando a evidência é pesada. [817] Há pouca dúvida de que se o mundo se deparasse com escassez real de energia, água, alimentos, minérios, na medida em que isso afetasse profundamente as economias dos maiores poderes nacionais, nós regrediríamos rapidamente de volta à guerra mundial e casualidades em massa, sem mencionar a agitação civil em massa também. Hoje, todas as maiores superpotências continuam a aumentar armamentos e poder de fogo claramente em preparação para tais eventos. [818]

Em um nível diferente, quase paradoxalmente, as mesmas coisas que têm ajudado a sociedade a aumentar o seu nível de vida, ciência e tecnologia, estão também impulsionando a sua crescente vulnerabilidade em direção à destruição. Enquanto a ciência pode, por um lado, iluminar os alinhamentos naturais aos quais nós, como uma espécie precisamos aderir para encontrarmos o equilíbrio com o habitat e uns com os outros, ela também pode ser usada localmente e de forma restrita, dentro do contexto da distorcida estrutura de incentivos que o mercado perpetua, para criar e acelerar consequências destrutivas e desumanas. A bomba atômica é um extremo dessa realidade. Nossa capacidade aumentada e de alta tecnologia para destruir a biodiversidade de forma mais eficiente, sobreutilizar nossos recursos e poluir, é outra.

Em alguns aspectos, o rápido desenvolvimento da ciência e da tecnologia está empurrando a humanidade para um impasse. 


PARA SABER MAIS:

17. DESESTABILIZAÇÃO SOCIAL E TRANSIÇÃO

Atenciosamente. 

Claudio Estevam Próspero 

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