quinta-feira, 30 de novembro de 2017

QUEM SE HABILITA?!

Quem se habilita?!

Galeno Amorim
Sim, na falta de um livro, numa situação de crise de abstinência de palavras escritas, muita gente lê até bula de remédio. E se pega vasculhando, no meio da noite, gavetas de quartos de hotel.
Por puro desespero.
Devo admitir que sou um desses. Só que leitor de Diário Oficial eu nunca fui. Talvez por preguiça.
Esta semana, contudo, fiz questão de ler e reler um pedaço de página de um desses. Mais de uma vez. Por uma razão simples: ele trazia, estampada num canto de página, a portaria de um juiz de Ribeirão Preto que, enfim, reconhecia que um preso que lê livros ganhe a liberdade mais cedo.
E se uso a palavra "enfim" é porque isso já é um direito em vários estados do país. Mas em São Paulo, estado que produziu uma gigantesca população carcerária e aprecia ser tido como vanguarda numa porção de coisas, a história seguia em banho-maria.
Nem por isso presos-leitores como os que frequentam as duas dezenas de clubes de leitura que o Instituto Palavra Mágica, instituição que eu criei e dirijo, mantém, com a Funap, em presídios paulistas, liam menos. Mesmo sem saber que poderiam, um dia, ter a remição de suas penas para cada obra lida no xadrez, eles já liam de um a dois livros cada mês.
Mas não só. Depois de ler, passaram horas conversando sobre personagens e situações da literatura. Numa conversa dessas, em cárceres de cidades como Serra Azul, Jardinópolis, Pontal, Araraquara ou Ribeirão, uma discussão sobre "O Homem Nu", de Fernando Sabino, pode desbundar numa mega terapia de grupo. Adultério. Amizade. Confiança. E por ai vai...
"Tenda dos Milagres", de Jorge Amado, pode ser alçado, em minutos, da condição de pior livro do mundo (como costumam classificar os presos evangélicos) para de responsável, para o sujeito do lado, por uma experiência pessoal incrível.
Ou, ainda, mesmo que a dupla de escritores Ilan Brenman e Fernando Vilela jamais tenha cogitado isso, "Hermes, o Motoboy" pode vir a tornar-se, num piscar de olhos, o maior livro de auto-ajuda do mundo, na véspera de um deles ganhar as ruas e precisar encarar, lá fora, os desafios da nova vida.
O fato é que, do lado de dentro das grades, esses homens condenados por tráfico, assalto à mão armada, estupro ou sequestro sabem muito bem o que os livros podem fazer por eles.
Para esses, essa carta de alforria assinada pelo juiz corregedor Luiz Teotônio, do Departamento de Execução Criminal do Estado de São Paulo, tem valor dedobrado.
Portanto, que apareçam os voluntários! Vindos de onde quer que seja: universidades, escolas, bibliotecas ou empresas. Dentre a gente aposentada ou na ativa, que se disponha a dar duas ou três horas da semana para ler as resenhas escritas pelos presos, e dar a elas valor legal.
Alguém se habilita?

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