Acredita-se que
os brasileiros têm 400 bilhões de dólares em paraísos fiscais e na Suíça. A Argentina teria
200 bilhões.
A
MAIOR LAVANDERIA DE DINHEIRO DO MUNDO AMEAÇA FALIR...
Os belos
bancos, elegantes, silenciosos de Basileia e Berna estão ofegantes. Poderia
dizer-se que eles estão assistindo na penumbra a uma morte ou estão velando um
moribundo. Esse moribundo, que talvez acabe mesmo
morrendo, é o segredo bancário suíço. O ataque veio dos Estados Unidos, em
acordo com o presidente Obama. O primeiro tiro de advertência foi dado na
quarta-feira. A UBS - União de Bancos Suíços,
gigantesca instituição bancária suíça, viu-se obrigada a fornecer os nomes de
250 clientes americanos por ela ajudados para defraudar o fisco. O banco
protestou, mas os americanos ameaçaram retirar a sua licença nos Estados
Unidos.
Os suíços, então,
passaram os nomes. E a vida bancária foi retomada tranquilamente. Mas, no fim da
semana, o ataque foi retomado. Desta vez os americanos golpearam forte, exigindo
que a UBS forneça o nome dos seus 52.000 clientes titulares de contas
ilegais.
O banco protestou. A
Suíça está temerosa. O partido de extrema-direita, UDC (União Democrática do
Centro), que detém um terço das cadeiras no Parlamento Federal, propõe que o
segredo bancário seja inscrito e ancorado pela Constituição federal. Mas como
resistir?
A União de Bancos Suíços não pode perder
sua licença nos EUA, pois é nesse país que aufere um terço dos seus benefícios.
Um dos pilares da Suíça está sendo sacudido. O segredo bancário suíço não é
coisa recente.
Esse dogma foi
proclamado por uma lei de 1934, embora já existisse desde 1714. No início do
século 19, o escritor francês Chateaubriand escreveu que, neutros nas grandes
revoluções nos Estados que os rodeavam, os suíços enriqueceram à custa da
desgraça alheia e fundaram os bancos em cima das calamidades
humanas. Acabar com o segredo bancário será uma
catástrofe econômica. Para Hans Rudolf Merz, presidente da Confederação
Helvética, uma falência da União de Bancos Suíços custaria 300 bilhões de
francos suíços (1 franco suíço = R$ 2,94).
E não se trata apenas do UBS. Toda a
rede bancária do país funciona da mesma maneira. O historiador suíço Jean Ziegler, que há
mais de 30 anos denuncia a imoralidade helvética, estima que os banqueiros do
país, amparados no segredo bancário, fazem frutificar três trilhões de dólares
de fortunas privadas estrangeiras, sendo que os ativos estrangeiros chamados
institucionais, como os fundos de pensão, são nitidamente
minoritários. Ziegler acrescenta ainda que se calcula
em 27% a parte da Suíça no conjunto dos mercados financeiros offshore do
mundo, bem à frente de Luxemburgo, Caribe ou o extremo Oriente. Na Suíça, um
pequeno país de 8 milhões de habitantes, 107 mil pessoas trabalham em bancos. O
manejo do dinheiro na Suíça, diz Ziegler, reveste-se de um caráter
sacramental. Guardar, recolher, contar, especular e
ocultar o dinheiro, são todos atos que se revestem de uma majestade ontológica,
que nenhuma palavra deve macular e realiza-se em silêncio e
recolhimento...
Onde foram parar as
fortunas recolhidas pela Alemanha nazista? Onde estão as fortunas colossais de
ditadores como Mobutu do Zaire, Eduardo dos Santos de Angola, dos
barões da droga colombiana, Papa-Doc do Haiti, de Mugabe
do Zimbabwe e da Máfia russa?
Quantos atuais
e ex-governantes, presidentes, ministros, reis e outros instalados no poder, até
em cargos mais discretos como prefeitos de municípios, têm polpudas contas na
Suíça? Quantas ficam eternamente esquecidas na
Suíça, congeladas, e quando os titulares das contas morrem ou caem da cadeira do
poder, estas se tornam impossíveis de alcançar pelos legítimos herdeiros ou
pelos países que indevidamente espoliaram? Por que, após a morte de Mobutu, os
seus filhos nunca conseguiram entrar na Suíça? Tudo lá ficou para sempre e em
segredo...
Agora surge outro
perigo, depois do duro golpe dos americanos.
Na minicúpula europeia que se realizou
em Berlim (em preparação ao encontro do G-20 em Londres), França, Alemanha e
Inglaterra (o que foi inesperado) chegaram a um acordo no sentido de sancionar
os paraísos fiscais. "Precisamos de uma lista daqueles que
recusam a cooperação internacional", vociferou a chanceler Angela Merkel. No
domingo, o encarregado do departamento do Tesouro britânico Alistair Darling,
apelou aos suíços para se ajustarem às leis fiscais e bancárias
europeias.
Vale observar, contudo,
que a Suíça não foi convidada para participar do G-20 de Londres, quando serão
debatidas as sanções a serem adotadas contra os paraísos fiscais. Há muito tempo
se deseja o fim do segredo bancário. Mas, até agora, em razão da prosperidade
econômica mundial, todas as tentativas eram abortadas.
Hoje estamos em crise. E viva a
crise!
Barack Obama,
quando era senador, denunciou com perseverança a imoralidade desses remansos de
paz para o dinheiro corrompido. Hoje ele é presidente. É preciso acrescentar que
os Estados Unidos têm muitos defeitos, mas a fraude fiscal sempre foi
considerada um dos crimes mais graves no país. Nos anos 1930, os americanos conseguiram caçar Al
Capone. Sob que pretexto? Fraude fiscal!
Muito em breve, haverá a queda do
império financeiro suíço...
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