Por Cláudia Trevisan e
Alamiro Silva Jr., no Estadão:
A uma plateia de 1.200 pessoas reunidas em um jantar de gala ontem em Nova York, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que os avanços construídos no Brasil a partir da Constituição de 1988 pareciam “desfazer-se no ar” nos últimos anos. Defendendo que o País se guie por “uma lanterna na proa, e não na popa”, o tucano disse esperar que os caminhos percorridos até hoje “não se percam”.
Para Fernando
Henrique, essa “construção” de décadas foi feita por gerações e não permite que
se diga “nunca neste País antes de mim fez-se tal e tal coisa” – uma referência
ao bordão que marca os discursos de seu sucessor, o petista Luiz Inácio Lula da
Silva. “Um país não se constrói senão pondo tijolo sobre tijolo, obra de
gerações.”
FHC foi um dos dois
homenageados em jantar oferecido no hotel Waldorf-Astoria pela Câmara de
Comércio Brasil-Estados Unidos em Nova York. Desde 1970, a entidade dá o prêmio
Pessoa do Ano a um brasileiro e a um americano que atuaram pela melhoria nas
relações entre os dois países. O outro homenageado foi o ex-presidente Bill
Clinton, cujo mandato coincidiu com grande parte do governo do tucano. O evento
de ontem foi o mais concorrido das 45 edições do prêmio concedido pela câmara,
que reúne 450 empresas dos dois países.
(…) Sem mencionar o nome da presidente Dilma Rousseff, o tucano criticou a política econômica do primeiro mandato da petista por manter medidas anticíclicas adotadas em resposta à crise de 2008. “O governo interpretou o que era política de conjuntura como um sinal para fazer marcha à ré”, observou. “Paulatinamente fomos voltando à expansão sem freios do setor estatal, ao descaso com as contas públicas, aos projetos megalômanos que já haviam caracterizado e inviabilizado o êxito de alguns governos do passado.” (…) Para Clinton, FHC está entre os quatro ou cinco líderes mais extraordinários que conheceu. “Ele era a pessoa certa para o seu tempo. Ele é a pessoa certa para qualquer tempo.”
Política
externa
Fernando Henrique fez a primeira parte do discurso em inglês e retornou ao português quando falou de questões brasileiras. O aplauso mais longo veio ao dizer: “Perdi em vários momentos a popularidade, nunca a credibilidade”.
O ex-presidente
criticou a omissão do governo brasileiro diante de violações de “práticas
democráticas” na Venezuela e atacou o que considera uma tímida repulsa ao
terrorismo. “Não há sequer como pensar em negociar com quem exibe as cabeças
cortadas dos ‘infiéis’”, declarou, em referência indireta ao discurso de Dilma
na Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) do ano passado, no
qual ela defendeu o diálogo para solução da crise gerada pela emergência do
Estado Islâmico.“Se quisermos participar da mesa decisória do mundo, temos de
nos comprometer com os valores democráticos e dar-lhes consequência”, afirmou
FHC. Para ele, em um mundo globalizado não há lugar para a “mudez solidária” em
nome da autodeterminação.
(…) |
quarta-feira, 13 de maio de 2015
FHC: PERDI A POPULARIDADE EM VÁRIOS MOMENTOS, NUNCA A CREDIBILIDADE.
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