O que eles aprenderam nas ocupações, já existem centenas de escolas particulares pelo país, que estão ensinando.
A pedagogia das ocupações
O
movimento estudantil nos trouxe um conhecimento muito maior sobre cidadania do
que todo o tempo que estivemos enfileirados estudando em aulas padrão. Em uma
semana de ocupação, aprendemos mais sobre política e cidadania do que muitos
anos que passamos em sala de aula. (Ana Júlia, estudante ocupada no
Paraná)
As ocupações nas escolas, institutos federais e universidades não
estão dando apenas uma resposta política aos ataques a educação pública no
Brasil. Esses movimentos também apresentam, na sua prática pedagógica,
parâmetros para uma reforma educacional que verdadeiramente contemple os
estudantes em seus anseios por uma educação emancipadora.A vida na ocupação é diametralmente oposta à vida escolar. No lugar de poucos decidindo o que todos farão, sendo os professores os únicos detentores da organização do espaço, os muitos, os estudantes, é que se apropriam de toda a dinâmica do processo político-educativo diário.
O currículo nas ocupações é vivo. Ele se constrói e é aprendido a partir da necessidade, que é o que determina um aprendizado duradouro. Esses estudantes agora sabem como funciona um processo legislativo para aprovação de leis, seja de um Projeto de Lei (como a malfadada Escola sem Partido), Proposta de Emenda à Constituição (como a tenebrosa PEC 241 no congresso ou PEC 55 no senado) ou ainda que uma medida provisória (como a de reforma do ensino médio) é um ato legal do executivo, mas que é possível sua aprovação ou revogação no Congresso. Para se fundamentar, precisam conhecer melhor a história da legislação brasileira e como é organizado o orçamento federalizado no Brasil.
A relação com o espaço físico passa a ser outro. Pois são os próprios estudantes responsáveis caso algo se quebre ou se deteriore na escola. A limpeza, a organização das salas e o uso de materiais são feitos de forma racional e sem desperdício. Também é preciso calcular a quantidade de comida para o número de ocupantes e planejar financeiramente os custos de uma ocupação. Além disso, é preciso se comunicar com a imprensa e a população nas redes sociais e canais variados. Eles escrevem notas, elaboram atas e confeccionam cartazes a fim de expressar suas ideias. Ainda se integram em redes, comunicando-se com outras escolas ocupadas e conhecem outras realidades que ajudam a compreender a deles mesmos.
Vocês viram que não falei em Matemática, Português, Geografia ou História. Nas ocupações não existe a divisão de pessoas por idades-série; há erros, mas não há reprovação; há desafios, mas não há provas.
Para manter uma ocupação os estudantes precisam se dividir em grupos de trabalho, ou comissões. Nesse momento cada um trabalha de acordo com sua individualidade: tem aqueles que preferem atuar nas articulações políticas, outros na logística de alimentação e limpeza, ainda aqueles que contribuem melhor na programação cultural, segurança do local e comunicação.
Concomitante com a valorização da subjetividade é realizada a gestão do espaço coletivo com as decisões tomadas nas assembleias. Lá os estudantes aprendem a ouvir o outro, a formar sua opinião baseado em argumentos e, ao fim, expõem sua opinião de forma organizada, fazendo o maior esforço para que se façam entendidos em um curto espaço de tempo. Quem é professor sabe o quanto essa gestão das falas é desgastante na sala de aula. O professor não consegue ser ouvido, ao mesmo tempo em que deseja uma participação e escuta do colega pelo outro. Os ocupados também brigam e divergem, mas agora eles se identificam enquanto grupo, o diálogo passa ser o instrumento usado para mediar esses conflitos.
As ocupações apresentam linhas pedagógicas interessantes para uma reforma educacional que precisamos. Baseado na autonomia, currículo vivo, valorizando a individualidade ao mesmo tempo em que proporciona a gestão coletiva do espaço.
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