sábado, 8 de março de 2014

É PRECISO FORÇA, FÉ E CORAGEM...

Força, fé e coragem

Galeno Amorim

Volta e meia sou questionado, em entrevistas à imprensa e em debates, porque
não se consegue zerar o número de municípios sem bibliotecas. Costumo,
nessas ocasiões, lembrar que, em 2004, o IBGE apurou que ainda restavam
1.300 cidades sem esse equipamento. Dei a partida, então, em um programa
(que o poeta Waly Salomão chamara de Fome de Livro, em alusão ao Fome Zero)
que, desde então, viabilizou a entrega de 1.700 novas bibliotecas.

Quando deixei a presidência da Fundação Biblioteca Nacional, ano passado,
estavam sendo entregues kits para as últimas 30 que ainda não tinham
biblioteca. Detalhe importante: mais de 300 cidades daquelas que receberam
ainda não haviam aberto a sua.

Uma triste nota: para muitos prefeitos manter uma biblioteca aberta dá um
trabalhão danado, por menos que façam. Sendo assim, justificam esses, melhor
nem abrir...

Não raro bibliotecas abertas são fechadas, com a justificativa de sempre:
não há leitores! É preciso considerar que, em geral, fechar bibliotecas não
é uma obra que acontece da noite para o dia: primeiro alguém tira os
funcionários; depois, se reduz os horários de funcionamento; mais tarde, as
portas são trancadas em horários chaves para o usuário; e, então, deixam de
investir em acervos, manutenção etc. e não se faz o menor gesto ou esforço
para atrair e encantar os leitores.

Não dá outra: o passo seguinte é o atestado de óbito da biblioteca.

Adevaldo de Souza, militante e entusiasta da causa da leitura, é um desses
que anda aborrecido com esse descaso - "muito triste, mas não desiludido",
faz questão de enfatizar.

Mas veja o desabafo do Adevaldo, 75 anos, de Serra Negra (SP), um crente no
papel dos livros na vida das pessoas:

"Este ano não entrou uma viva alma ou leitor (na biblioteca). Continuamos
com nossas portas abertas, pois esta biblioteca faz parte da minha vida, e
foi criada por mim e por outros amigos malucos como eu em 29/08/2000. Ela
nasceu dentro da minha casa e, depois do cartão vermelho de minha mulher,
construimos um barracão em nosso quintal e, em 2003, mudamos para este
espaço de 20 metros quadrados. Tivemos altos e baixos durante esta
trajetória. Tivemos até um Centro Cultural, que o prefeito alugou para nós.
Mas não chegou a um ano e voltamos para onde não deveríamos ter saído (o
nosso barracão).

Foi assim: inauguramos em abril de 2008, mas aí ele [o prefeito] perdeu a
eleição e apagou todos os computadores da Prefeitura. O prefeito que entrou
- que não sabia de nada - não tomou as providências para pagamento do
aluguel do local e, então, o proprietário entrou com ação de despejo. E aí
foi pro brejo todo nosso projeto, que lá praticávamos, sendo nosso carro
chefe as aulas de capoeira com mais de 50 crianças e jovens, além das aulas
de computação etc.

Talvez venha daí a desmoralização da biblioteca (como se fossemos culpados
do acontecido). A partir daí, fomos decrescendo dia a dia até que chegamos
ao zero de leitores. Havia uma diretoria (que a cada 2 anos era eleita) que
ficou até 2012, quando, então, passei ao faz tudo que continua até hoje. Aos
75 anos, já não me interesso mais se temos leitores ou não, mas temos o
sentimento de missão cumprida, e, assim, fico feliz por termos feito algo
por minha comunidade, pois chegamos a ter mais de 200 leitores cadastrados
na comunidade e na cidade, e toda a biblioteca informatizada (aliás, a
primeira e única do Circuito das Águas Paulista).

Também lutamos, e conseguimos, pela informatização da Biblioteca Municipal,
com o mesmo software que já usávamos em nossa biblioteca (o
MiniBiblio) - só em 2013 é que a Prefeitura colocaria um estudante do último
ano de Biblioteconomia lá."

Ao Adevaldo, força, fé e coragem!

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