Como alguém pode se tornar um DEMOCRATA se a maioria das EXPERIÊNCIAS DE VIDA que possuí (no lar, na escola, no trabalho,...) é em ESTRUTURAS AUTOCRÁTICAS (onde OBEDECER é muito mais aceito do que ARGUMENTAR E CONSTRUIR CONSENSO)? (esta reflexão derivou de um tópico sobre a Escola poder ou não ser agente de aprimoramento da Sociedade uma vez que ela é reflexo desta Sociedade - encontro da Rede Nacional de Educação Democrática, realizado na última sexta-feira, 14 de março, na Faculdade de Educação da USP - concordo com argumentações de que, ao se tornar espaço de convivência democrática, a escola pode contibuir para a CONSTRUÇÃO DA DEMOCRACIA (assim como pode fazer o lar, o escritório, a fábrica, a rua e qualquer outro espaço de interação humana) - Claudio
DEBATER OU
DIALOGAR?
Alkíndar de
Oliveira
“A única forma de
tirar vantagem de um debate é evitá-lo”. Dale Carnegie.
Ouve-se que é
preciso debater à exaustão determinado tema conflitante, para chegar-se a
um consenso. Há nesta corriqueira afirmação um equívoco: num debate
dificilmente chega-se a um consenso, pois no debate a pessoa chega com
determinada hipótese e procura vencer, com suas idéias, as opiniões dos outros
participantes. No livro A Quinta Disciplina, Editora Campus, seu autor Peter
Senge relata algumas frases determinantes de David Bohm sobre diálogo. David
Bohm, destacado estudioso da física quântica, em uma das suas frases traduz a
essência do diálogo: “No diálogo não estamos tentando vencer. Todos estaremos
vencendo se estivermos fazendo de maneira correta”. Se for preciso chegar a um
consenso, o mais adequado instrumento da comunicação é o diálogo. No
entanto, é preciso deixar claro que o objetivo maior do diálogo é atingir a
comunicação eficaz, a qual, em momentos adequados, admite e valoriza tanto o
consenso quanto a falta dele.
A característica
básica do debate é que as partes se comportam como adversárias. O
que faz sentido no meio político ou em outras circunstâncias eletivas, onde um
candidato a determinado cargo procura derrotar o outro, com sua plataforma e
argumentos. Mas, reflitamos, no mundo corporativo, organizacional ou
institucional é conveniente que haja adversários? Certamente não. Dalai Lama, no
seu livro Transformando a Mente, reforça a importância do diálogo nos
tempos atuais. Ele esclarece que o debate se justificaria “se os interesses
fossem bem definidos e o meu interesse fosse independente do seu, nesse caso a
vitória e a derrota funcionariam. Mas, na atualidade, os interesses de todo o
mundo estão muito entrelaçados.”
No livro Liderando
pelo Conflito (Campus), seu autor Mark Gerzon pontua as diferenças essenciais
entre debate e diálogo, como transcrevo a seguir.
I)
Debate: Pressupor que
exista uma resposta certa e você a tem; Diálogo: Pressupor que muitas
pessoas tenham partes da resposta.
II) Debate:
Combativo: os
participantes se esforçam para provar que o outro lado está errado.
Diálogo:Colaborativo: os participantes trabalham juntos para um
entendimento comum.
III)
Debate: O importante é
vencer; Diálogo:O importante é chegar ao consenso.
IV)
Debate: Ouvir para achar
as falhas e fazer contra-argumentações; Diálogo: Ouvir para entender,
encontrar um significado e chegar a um acordo.
V)
Debate: Defender nossas
próprias suposições como verdades; Diálogo: Revelar nossas pressuposições
para reavaliação.
VI)
Debate: Ver os dois lados
de um problema; Diálogo: Ver todos os lados de um problema.
VII)
Debate: Defender seu
próprio ponto de vista contra o dos outros; Diálogo: Admitir que o
pensamento dos outros pode melhorar o seu próprio.
VIII)
Debate: Procurar falhas e
pontos fracos na posição dos outros; Diálogo: Procurar pontos fortes e
relevância na posição dos outros.
IX)
Debate: Por criar um
vencedor e um perdedor, desencoraja diálogos futuros; Diálogo: Mantém o
tópico aberto mesmo após o encerramento formal do diálogo.
X) Debate:
Buscar uma
conclusão ou um voto que ratifique sua posição; Diálogo:Descobrir novas
opções, não buscar chegar ao fechamento.
Em meu livro O
Poder do Diálogo, Editora Planeta, este tema é -merecidamente -
aprofundado.
CURRÍCULO
DO PROF. ALKÍNDAR:
Criador da metodologia para implantar a “VISÃO SISTÊMICA”, o
“DIÁLOGO” e o “CONSENSO, Alkíndar de Oliveira
é autor de vários livros, sendo o último “O PODER
DO DIÁLOGO, Como se tornar um grande líder”, Editora Planeta.
Escritor,Palestrante,
Consultor de Empresas e Professor de Liderança, Oratória,
Ambiente Organizacional, Visão Sistêmica, Comunicação Interna e outros temas de
interesse das empresas. Radicado em São Paulo-SP, profere palestras e
ministra - em todo o Brasil - treinamentos comportamentais para líderes.
Suas teses e
artigos estão expostos em veículos de comunicação como as revistas Você
S/A e Bons Fluidos, da Editora Abril; revista
Pequenas Empresas Grandes Negócios, Editora Globo; revista
“Venda Mais”, Editora Quantum; e os jornais Valor
Econômico, O Estado de São Paulo e Jornal do
Brasil.
Texto acima recebido via lista de E-mail dos Românticos
Conspiradores (http://romanticos-conspiradores.ning.com/). Em resposta à solicitação de indicação de textos sobre a
importância da realização de assembléias como forma de gerir as regras na escola
ou na sociedade.
Esta foi umas das questões 'pendentes de aprofundamento' no
encontro da Rede Nacional de Educação Democrática, realizado na última
sexta-feira, 14 de março, na Faculdade de Educação da USP (mais informações: http://portaldoeducador.org/encontro-da-rede-nacional-de-educacao-democratica-na-fe-usp/).
Foi uma experiência gratificante ouvir relatos das experiências e sofrimentos de
vários professores que estão vivendo o desafio de cultivar Uma Outra
Educação.
Sobre
Assembléias e Democracia Escolar ver
também:
ARAÚJO,
Ulisses F. Assembléia Escolar: um caminho para a solução de conflitos.
São Paulo: Moderna, 2004.
PUIG, Josep
M. As Assembléias de Sala de Aula ou como Fazer Coisas com Palavras. In: ARGÜIS,
Ricardo e outros. Tutoria: com a Palavra, o Aluno. Porto Alegre: Artmed,
2002.
Luciene R. P. Tognetta e Telma P. Vinha, Quando a escola é
Democrática: uma olhar sobre a prática das regras e assembléias na escola.
Mercado de Letras, Campinas, 2008.
Singer, Helena República de Crianças - sobre experiências
escolares de resistência, Mercado de Letras, 2010
Claudio Estevam
Próspero
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