Leitura: um hábito saudável que deve ser estimulado
A leitura melhora a autoestima, incrementa a concentração, melhora a escrita. Há milhares de títulos para todos os gostos, não há mais desculpa para não gostar de ler.
Por Ana Kessler 19/ago 23:03
“Sempre imaginei que o paraíso fosse uma espécie de livraria”, disse Jorge Luis Borges. Concordo com o poeta argentino. Se eu pudesse escolher um lugar para passar a eternidade, seria um jardim cercado de flores, aquele solzinho matinal e, nas árvores, feito frutos maduros, livros ao apanhar da mão. Sem agrotóxicos, é claro. Livros orgânicos.
Aqui em casa é assim, todas as peças têm livros e revistas, tal e qual bombonieres que oferecemos às visitas. Gostamos especialmente de ler à noite, juntas, antes de dormir. Ana Bia com os livros dela, eu com os meus, às vezes eu com os dela. Ler, para nós, é como degustar uma iguaria. Infelizmente, há dias corridos onde não conseguimos desacelerar e as obrigações só freiam no último minuto. Atropelamos a hora de dormir e, deste acidente, somos vítimas. Ficamos as duas olhando da estante para o relógio. Resignadas, apagamos a luz. É tarde demais.
Ler estimula a memória e a atenção, alivia o estresse, aumenta o conhecimento e a capacidade analítica, expande o vocabulário (e os horizontes), incrementa a eloquência e a articulação de pensamentos, melhora a autoestima, a concentração e a habilidade de escrita e eu poderia continuar aqui a lista enorme de benefícios, mas não quero tornar maçante a leitura. Ler, antes de tudo, tem que ser um prazer. Um prazer que deve ser estimulado desde cedo, diga-se.
Nos anos 80, houve um massacre. Matou-se nas crianças e adolescentes o gosto pelas letras. Pelo menos essa é a sensação que tenho ao olhar pra trás e lembrar a minha época de escola, quando era obrigada a me debruçar em livros chatíssimos de literatura brasileira e a escrever longas resenhas sem a menor inspiração. Não fossem os títulos que minha mãe comprava no antigo Círculo do Livro, espécie de clube de assinantes que vendia livros por catálogo e entregava em casa, minha carreira como leitora teria tido um fim trágico.
Eram tempos outros. Empurravam goela abaixo enredos que não tinham nada a ver com a realidade em que vivíamos, com histórias toscas, linguajares difíceis. Só vim a gostar dos clássicos muitos anos depois, já adulta, quando reli Machado de Assis, Euclides da Cunha, Graciliano Ramos, José de Alencar, Joaquim Manuel de Macedo e tantos outro que passei a admirar. Aos 12 anos, me eram totalmente incompreensíveis.
Hoje mudou. As escolas estão cada vez mais abertas a títulos contemporâneos e também autores estrangeiros, há milhares de opções, não há mais desculpa para não gostar de ler. Este semestre, a Bia está estudando o gênero cordel. Está maravilhada. Só quer saber de criar versos. Pede sugestões de rima, inventamos cada pérola, nos matamos de rir. Para melhorar o panorama, há uma feira de livros acontecendo no colégio. A menina está em êxtase.
Ontem assistiu a uma palestra de um autor de cordel, pediu um autógrafo, mas não levou. Na saída da aula, esta tarde, adivinha? “Mãe, mãe, olha o que eu consegui!”, correu na minha direção com o papelzinho abanando no ar. “Viva a turma da Isabel / Que adora o bom cordel / Turma 46 / Esse verso é para vocês” (César Obeid). E me deu de presente de aniversário. Há presente melhor do que um filho gostar de ler?
Deixo abaixo sugestões de livros que estão fazendo sucesso aqui em casa:
Magrilim e Jezebel em: O Rei do Abecê (Fábio Sombra, Ed. Lê) – O rei Magrilim e a rainha Jezebel estão retornando ao castelo depois da lua de mel. Almoçando em uma hospedaria, os dois são surpreendidos por um misterioso mensageiro que traz um bilhete de um rei vizinho grosseirão, que os desafia para um duelo de versos e repente. Se vencerem, o prêmio é o castelo do sujeito. Se perderem, viram escravos do malvado por dez anos. Será que eles topam? Só tenho uma coisa a dizer, o livro é incrível e os versos arrasam. Diversão garantida!
Diário de uma garota nada popular (Rachel Renée Russell, Ed. Verus) – Uma garota comum, Nikki, de 14 anos, ganha uma bolsa de estudos e muda de escola. A partir daí, passa a escrever (e a ilustrar também com desenhos) suas angústias e aventuras, as novas amizades e inimizades, os bullyins que sofre, a relação com os pais, a paixão pelo bonitão do colégio. São 5 volumes, um deles é um diário para ser escrito por quem está lendo. Muito legal!
Era uma vez um padre e um rei... (Mariza Baur, Ed. Marcavisual) – A relação cheia de amor e admiração de um menino e seu avô contador de histórias é o pano de fundo de um enredo misterioso onde transitam as lendas gaúchas e o desaparecimento de um barco que compreende o que as pessoas falam, construído pelo bisavô e um amigo índio. Há, também, um glossário para a criançada desvendar termos gaudérios. Você sabe o que é um calça-curta? E sabia que no Rio Grande do Sul, brigadeiro se chama negrinho? Descubra outras curiosidades! As ilustrações são de Aline Daka.
Coleção Imigrantes do Brasil (Panda Books) – São vários livros que resgatam as origens e a cultura dos povos que ajudaram a construir a história do povo brasileiro. Ana Bia trouxe da biblioteca o “Meu avô alemão” (Martin Wille), pois está numas de desvendar o passado (e os costumes) da nossa família Kessler, mas a coleção contempla os povos africano, árabe, chinês, espanhol, grego, italiano, japonês e português.
E você, que livro infantil recomenda? Deixe seu comentário.
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