A LÍNGUA
MÃE
Manoel de Barros
Não sinto o mesmo gosto nas palavras:
oiseau e pássaro.
Embora elas tenham o mesmo sentido.
Será pelo gosto que vem de mãe? De língua
mãe?
Seria porque eu não tenha amor pela língua de
Flaubert?
Mas eu tenho.
(Faço este registro porque tenho a estupefação
de não sentir com a mesma riqueza as palavras oiseau e
pássaro)
Penso que seja porque a palavra pássaro em mim
repercute a infância
E
oiseau não repercute.
Penso que a palavra pássaro carrega até hoje nela o
menino que ia de tarde
Para debaixo das árvores a ouvir os
pássaros.
Nas folhas daquelas árvores não tinha
oiseaux
Só tinha pássaros.
É
o que me ocorre sobre língua mãe.
BARROS, Maanoel.
O fazedor de amanhecer. São Paulo: Salamandra, 2001. (s.p.).
http://livroletrarteemminas.blogspot.com.br/2012/11/normal-0-21-false-false-false-pt-br-x.html
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