Galeno Amorim fala sobre sua saída da Fundação Biblioteca Nacional
Jornal A Cidade, Ribeirão Preto/SP - 06/04/13Desde o dia 27 de março, o ribeirão-pretano Galeno Amorim não é mais presidente da Fundação Biblioteca Nacional. Exonerado pela ministra da Cultura, Marta Suplicy, após uma gestão de dois anos e dois meses, ele fala nesta entrevista sobre seu trabalho à frente da FBN e responde às críticas que teriam motivado sua demissão.
Galeno começou a se destacar na carreira política quando foi secretário de Cultura no governo do ex-prefeito petista Antônio Palocci.
Jornalista, escritor e militante da causa do livro e da leitura, é autor de 16 títulos. Um deles é “Retratos da Leitura no Brasil”, do qual foi organizador. Confira a conversa a seguir.
A Cidade - Qual foi o motivo de sua saída da Fundação Biblioteca Nacional?
Galeno Amorim - Cumpri um ciclo na Fundação. Fui convidado pela ministra Ana de Hollanda e era natural, com a chegada de uma nova ministra e a consequente reorganização da equipe, que ocorressem mudanças em cargos chaves. A saída deveria, inclusive, ter ocorrido antes, mas acertamos de permanecer um tempo mais para concluir o projeto BN+200, que entreguei à ministra no meu último dia e será o momento mais importante da história da BN desde a construção do seu prédio sede. Saio com a consciência de dever cumprido.
Como você avalia seu trabalho nestes dois anos e dois meses de gestão?
Foi amplamente positiva, dentro de um quadro de grandes desafios e dificuldades. Criei na FBN o Centro Internacional do Livro, que implantou um bem sucedido programa de internacionalização da literatura brasileira. Demos também um passo importante para a criação de uma instituição exclusiva para gerir as políticas do livro. O Circuito Nacional de Feiras de Livro, com a Caravana de Escritores, que implantamos, terá, em 2013, mais de 200 feiras e festivais no País. Passamos a atender duas mil bibliotecas com o Programa de Acervos. E passamos a abrir a Biblioteca Nacional nos finais de semana e feriados, aumentando o número de visitantes para 700 mil por ano.
Os críticos apontaram algumas questões que teriam motivado sua saída: entre elas o acúmulo de funções da FBN e problemas estruturais na própria biblioteca e em seu acervo.
Houve, evidentemente, mais trabalho, o que não foi ruim e deu boa visibilidade à instituição. Procurei compensar o trabalho extra ampliando a equipe, descentralizando a execução de projetos e, sobretudo, aumentando minha própria carga de trabalho, de não menos de 12 horas diárias. A questão é que havia e há um acúmulo de problemas crônicos, já que a última grande reforma foi na década de 1980. Já no primeiro ano, fiz um amplo diagnóstico dos problemas e passei a criar formas de viabilizar um grande investimento, o que costuma levar tempo.
Com a sua saída, acredita que Ribeirão Preto perde cada vez mais espaço no governo de Dilma Roussef?
De forma nenhuma. O governo Dilma, assim como fez Lula, tem investido muito em Ribeirão. Embora tenha iniciado minha trajetória em Ribeirão, que é a minha cidade e da qual me orgulho muito, na verdade fui para o governo em função como gestor e especialista na questão do livro e leitura.
Acredita que o Governo Federal tem hoje uma política eficiente de incentivo à leitura?
O grande mérito do Governo Federal, mas também governos estaduais e municipais, nesta década, é que está criando e fortalecendo seus programas de incentivo à leitura como uma política de Estado. O Plano Nacional do Livro e Leitura, que eu criei, é o primeiro em 500 anos de história. Agora, por exemplo, o Ministério da Cultura tem, concentrados quase todos na FBN, mais de 40 ações na área. Isso é dez vezes mais do que uma década atrás.
Como atrair o jovem para a leitura em tempos de internet, tablets e Iphones?
Internet, tablets e outras parafernálias tecnológicas podem ajudar a atrair mais gente para a leitura. Tanto faz ler, por exemplo, “Dom Casmurro” no livro impresso em papel, no digital, no áudio ou em braile. O importante é a apropriação desse conteúdo.
Com sua saída da FBN você volta para Ribeirão Preto?
Estou morando no Rio, mas mantenho meu apartamento no centro de Ribeirão. Adoro a cidade, que foi onde eu nasci e estão meus amigos e familiares. Antes da Biblioteca Nacional, mantinha minha vida profissional em São Paulo e passava quase todo o tempo em agendas pelos Estados ou fora do País. Farei a mesma coisa agora, com palestras, consultorias, projetos e, sobretudo, minha militância em favor dos livros e da leitura. E estou doido para voltar a escrever meus livros.
Como está o projeto da biblioteca-parque no antigo prédio da Cianê em Ribeirão?
Deixei o projeto muito bem encaminhado junto ao Ministério da Cultura e é fundamental uma ação de governo para sua concretização, já que o período eleitoral interrompeu, por lei, o processo. Ribeirão é a única grande cidade paulista que não possui uma grande biblioteca municipal. Estando fora do governo, estarei a postos para continuar ajudando, agora como cidadão e militante da causa.
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