Alguns veículos de comunicação noticiaram sobre episódios
“diabólicos” ocorridos numa casa localizada na zona rural no interior do Rio
Grande do Sul. A filha mais velha do casal apresentou comportamento estranho. A
sua mãe informou que o “coisa-ruim” levou a filha para cima da casa e jogou-a
para baixo , destruindo parte do telhado da casa”. Disse ainda que “o satã
diariamente arremessa pedras no telhado, arrasta os móveis, quebra objetos, abre
e fecha as portas e janelas.
Convidado pela família, Nelson Júnior Paz, um benzedor da região, garante ter “exorcizado” a jovem. Explicou que “o “demônio” se afastava da menina quando chegava próximo da casa, por isso teve que afastar-se do local por uns instantes para que o “capeta” novamente tomasse conta do corpo da jovem e logo retornou para fazer o “exorcismo”. Nelson perguntou ao “satã” por que ele estava atormentando aquela menina, o “diabo “ dizia que queria a vida dela ou a propriedade de volta.” (1)
O jornal Correio Braziliense (2) publicou em 03 de julho de 2014 que o Vaticano reconheceu juridicamente a Associação Internacional de Exorcistas (AIE). A notícia foi espalhada pelo jornal L’Osservatore Romano, confirmando que a Congregação para o Clero aprovou os estatutos da associação através de um decreto. O ritual do “exorcismo” foi restaurado pelo papa João Paulo II, “quando a Igreja católica decidiu, depois de quase 400 anos, revisar o texto anterior de 1614 , devido às mudanças realizadas pelo Concílio Vaticano II (1962-1965) e aos avanços da ciência no campo da mente.(3)
Será que existem fundamentos coerentes a prática do exorcismo? Consta que no ritual da Igreja romana tão-somente os bispos podem autorizar um sacerdote a fazer “exorcismos”. Segundo relatos, no esconjuro, os “demos” respondem com mentiras às indagações do “exorcista” sobre a identidade e/ou os motivos da subjugação. Amparados no bramido beneditino “vade retro satanás!” os exorcistas exortam os espíritos satânicos a saírem do corpo dos possessos, valendo-se igualmente da invocação do nome de Deus, de Cristo e todos os anjos. Ao fim das extenuantes algazarras e invocações, sempre sob o arrimo da “reza brava”, o resultado poderá aparecer de forma ligeira , sem sustento duradouro.
Nos movimentos cristãos pentecostais e neopentecostal, bem como de renovação carismática, há muitas descrições de casos de “exorcismos”. A fórmula utilizada em tais segmentos baseia-se no emprego do jargão “em nome de Jesus” , além da imposição de mãos e ordenação verbal do “exorcista” sobre o “cão” e, num ou noutro caso, o “exorcizado” pode apresentar relativos indícios de “consciência”.
Narram os evangelistas Marcos e Lucas o seguinte: “um homem que estava na sinagoga possuído por um espírito maligno gritou: “Que temos nós contigo, Jesus Nazareno? Bem sei quem és, és o Santo de Deus! Jesus repreendeu-o, dizendo: Silencia-te sai desse homem. O espírito imundo, agitando-o violentamente e bradando em alta voz, saiu dele. As pessoas ficaram novamente espantadas e perguntaram umas às outras: Que é isto? Uma nova doutrina com autoridade! Ele manda aos próprios espíritos imundos, e eles lhe obedecem!(4)
Tanto aqui, como noutras narrativas correspondentes, constatamos que Jesus diante dos obsidiados penetrava mentalmente nas causas da sua inquietude e, usando de sua autoridade moral, libertava tanto os obsessores quanto os obsidiados, permitindo-lhes o despertar para a vida animada rumo à recuperação e à pacificação da própria consciência. Entretanto, Jesus não libertava os obsidiados sem lhes impor a intransferível necessidade de renovação íntima, nem expulsava os perseguidores inconscientes sem fornecer-lhes o endereço de Deus.
Os espíritas compreendem que os tais “demônios”, “capetas”, “coisa-ruim”, “lúcifer”, “diabo”, “satanás”, “satã”, “cão”, “demo”, “besta” etc. no senso comum, não são seres votados por Deus à prática do mal, e sim seres humanos desencarnados que se desequilibraram em atitudes infelizes perante a vida. “Na raiz do problema encontramos a necessidade de considerar os chamados “espíritos das trevas” [demônios] por irmãos verdadeiros, requisitando compreensão e auxílio, a fim de se remanejarem do desajuste para o reequilíbrio neles mesmos.”(5)
Arriscam alguns teólogos que os “demônios” são mais conhecidos como anjos “caídos do paraíso”. O “anjo caído” mais famoso é o próprio lúcifer. Bem distante do sentido teológico que se confere ao “exorcismo”, o espírita oferece nos centros espíritas a assistência espiritual através da desobsessão para tratamento dos doentes “subjugados” .
Considerando a subjugação como os casos mais graves de obsessão, sabemos que as fórmulas de “exorcismo”, ritualizado pelos religiosos não têm qualquer eficácia sobre os espíritos malignos. Os Benfeitores afiançam que “os obsessores riem [caçoam] e se embirram, quando veem alguém tomar isso [exorcismo] a sério.(6) Em razão disso, Allan Kardec assevera que “não há nem palavras sacramentais, nem formas cabalísticas, nem “exorcismos” que tenham a menor influência; quanto mais são maus, mais se riem do terror que inspiram, e da importância que se dá à sua presença; divertem-se em se ouvir chamar diabos e demônios, por isso se dão seriamente os nomes de Asmodée, Astaroth, Lúcifer e outras qualificações infernais aumentando as malícias, ao passo que se retiram quando veem que perdem seu tempo com pessoas que não são seus patetas, e que se limitam a chamar, sobre eles, a misericórdia divina.”(7)
Se o célebre “exorcismo”, aplicado consoante os rituais das igrejas não funciona , como tratar o processo de subjugação espiritual? Como proferi acima a maioria dos Centros Espíritas dispõe de trabalhos de desobsessão. Embora saibamos que a tarefa de tratamento espiritual não é simples , pois muitas vezes obsedado e obsessor comungam um mesmo estado mental, dificultando a identificação de quem é vítima de quem.
Há trabalhos de “desobsessão”, conforme garantem os incautos , que são mais “fortes” e “imediatos”, contudo infelizmente nesses estranhíssimos “tratamentos espirituais” são fixados apenas um imperativo urgente, o afastamento rápido do obsessor. Mas será que esse instantâneo banimento espiritual é possível? Ora, “como rebentar, de um instante para outro, algemas [mentais] seculares forjadas nos compromissos recíprocos da vida em comum?”(8)
Portanto, são inteiramente inúteis as fórmulas e rituais exteriores para “exorcismos”, o que importa é a autoridade moral do doutrinador. Nesse sentido, a técnica da conversação [doutrinação] com os perseguidores do além estabelece uma das grandes contribuições do Espiritismo para a melhora das relações entre encarnados e desencarnados. Em face disso as reuniões de desobsessão bem orientadas são de grandiosa força revolucionária, por disseminar nas suas sessões o convite amorável do Mestre sobre o amor e o perdão.
Nos ambientes onde não haja trabalhos específicos de desobsessão, será que pode alguém por si mesmo “afastar” os Espíritos perversos e libertar-se da dominação deles? Obviamente que sim. “Sempre é possível, a quem quer que seja, subtrair-se a um jugo [subjugação], desde que com vontade firme o queira.”(9)Nesse caso através da prece como meio eficiente para a cura da obsessão, Porém, “não basta que alguém murmure algumas palavras, para que obtenha o que deseja. Deus assiste os que obram , não os que se limitam a pedir. É, pois, indispensável que o obsidiado faça, por sua parte, o que se torne necessário para destruir em si mesmo a causa da atração dos maus Espíritos.”(10)
Convidado pela família, Nelson Júnior Paz, um benzedor da região, garante ter “exorcizado” a jovem. Explicou que “o “demônio” se afastava da menina quando chegava próximo da casa, por isso teve que afastar-se do local por uns instantes para que o “capeta” novamente tomasse conta do corpo da jovem e logo retornou para fazer o “exorcismo”. Nelson perguntou ao “satã” por que ele estava atormentando aquela menina, o “diabo “ dizia que queria a vida dela ou a propriedade de volta.” (1)
O jornal Correio Braziliense (2) publicou em 03 de julho de 2014 que o Vaticano reconheceu juridicamente a Associação Internacional de Exorcistas (AIE). A notícia foi espalhada pelo jornal L’Osservatore Romano, confirmando que a Congregação para o Clero aprovou os estatutos da associação através de um decreto. O ritual do “exorcismo” foi restaurado pelo papa João Paulo II, “quando a Igreja católica decidiu, depois de quase 400 anos, revisar o texto anterior de 1614 , devido às mudanças realizadas pelo Concílio Vaticano II (1962-1965) e aos avanços da ciência no campo da mente.(3)
Será que existem fundamentos coerentes a prática do exorcismo? Consta que no ritual da Igreja romana tão-somente os bispos podem autorizar um sacerdote a fazer “exorcismos”. Segundo relatos, no esconjuro, os “demos” respondem com mentiras às indagações do “exorcista” sobre a identidade e/ou os motivos da subjugação. Amparados no bramido beneditino “vade retro satanás!” os exorcistas exortam os espíritos satânicos a saírem do corpo dos possessos, valendo-se igualmente da invocação do nome de Deus, de Cristo e todos os anjos. Ao fim das extenuantes algazarras e invocações, sempre sob o arrimo da “reza brava”, o resultado poderá aparecer de forma ligeira , sem sustento duradouro.
Nos movimentos cristãos pentecostais e neopentecostal, bem como de renovação carismática, há muitas descrições de casos de “exorcismos”. A fórmula utilizada em tais segmentos baseia-se no emprego do jargão “em nome de Jesus” , além da imposição de mãos e ordenação verbal do “exorcista” sobre o “cão” e, num ou noutro caso, o “exorcizado” pode apresentar relativos indícios de “consciência”.
Narram os evangelistas Marcos e Lucas o seguinte: “um homem que estava na sinagoga possuído por um espírito maligno gritou: “Que temos nós contigo, Jesus Nazareno? Bem sei quem és, és o Santo de Deus! Jesus repreendeu-o, dizendo: Silencia-te sai desse homem. O espírito imundo, agitando-o violentamente e bradando em alta voz, saiu dele. As pessoas ficaram novamente espantadas e perguntaram umas às outras: Que é isto? Uma nova doutrina com autoridade! Ele manda aos próprios espíritos imundos, e eles lhe obedecem!(4)
Tanto aqui, como noutras narrativas correspondentes, constatamos que Jesus diante dos obsidiados penetrava mentalmente nas causas da sua inquietude e, usando de sua autoridade moral, libertava tanto os obsessores quanto os obsidiados, permitindo-lhes o despertar para a vida animada rumo à recuperação e à pacificação da própria consciência. Entretanto, Jesus não libertava os obsidiados sem lhes impor a intransferível necessidade de renovação íntima, nem expulsava os perseguidores inconscientes sem fornecer-lhes o endereço de Deus.
Os espíritas compreendem que os tais “demônios”, “capetas”, “coisa-ruim”, “lúcifer”, “diabo”, “satanás”, “satã”, “cão”, “demo”, “besta” etc. no senso comum, não são seres votados por Deus à prática do mal, e sim seres humanos desencarnados que se desequilibraram em atitudes infelizes perante a vida. “Na raiz do problema encontramos a necessidade de considerar os chamados “espíritos das trevas” [demônios] por irmãos verdadeiros, requisitando compreensão e auxílio, a fim de se remanejarem do desajuste para o reequilíbrio neles mesmos.”(5)
Arriscam alguns teólogos que os “demônios” são mais conhecidos como anjos “caídos do paraíso”. O “anjo caído” mais famoso é o próprio lúcifer. Bem distante do sentido teológico que se confere ao “exorcismo”, o espírita oferece nos centros espíritas a assistência espiritual através da desobsessão para tratamento dos doentes “subjugados” .
Considerando a subjugação como os casos mais graves de obsessão, sabemos que as fórmulas de “exorcismo”, ritualizado pelos religiosos não têm qualquer eficácia sobre os espíritos malignos. Os Benfeitores afiançam que “os obsessores riem [caçoam] e se embirram, quando veem alguém tomar isso [exorcismo] a sério.(6) Em razão disso, Allan Kardec assevera que “não há nem palavras sacramentais, nem formas cabalísticas, nem “exorcismos” que tenham a menor influência; quanto mais são maus, mais se riem do terror que inspiram, e da importância que se dá à sua presença; divertem-se em se ouvir chamar diabos e demônios, por isso se dão seriamente os nomes de Asmodée, Astaroth, Lúcifer e outras qualificações infernais aumentando as malícias, ao passo que se retiram quando veem que perdem seu tempo com pessoas que não são seus patetas, e que se limitam a chamar, sobre eles, a misericórdia divina.”(7)
Se o célebre “exorcismo”, aplicado consoante os rituais das igrejas não funciona , como tratar o processo de subjugação espiritual? Como proferi acima a maioria dos Centros Espíritas dispõe de trabalhos de desobsessão. Embora saibamos que a tarefa de tratamento espiritual não é simples , pois muitas vezes obsedado e obsessor comungam um mesmo estado mental, dificultando a identificação de quem é vítima de quem.
Há trabalhos de “desobsessão”, conforme garantem os incautos , que são mais “fortes” e “imediatos”, contudo infelizmente nesses estranhíssimos “tratamentos espirituais” são fixados apenas um imperativo urgente, o afastamento rápido do obsessor. Mas será que esse instantâneo banimento espiritual é possível? Ora, “como rebentar, de um instante para outro, algemas [mentais] seculares forjadas nos compromissos recíprocos da vida em comum?”(8)
Portanto, são inteiramente inúteis as fórmulas e rituais exteriores para “exorcismos”, o que importa é a autoridade moral do doutrinador. Nesse sentido, a técnica da conversação [doutrinação] com os perseguidores do além estabelece uma das grandes contribuições do Espiritismo para a melhora das relações entre encarnados e desencarnados. Em face disso as reuniões de desobsessão bem orientadas são de grandiosa força revolucionária, por disseminar nas suas sessões o convite amorável do Mestre sobre o amor e o perdão.
Nos ambientes onde não haja trabalhos específicos de desobsessão, será que pode alguém por si mesmo “afastar” os Espíritos perversos e libertar-se da dominação deles? Obviamente que sim. “Sempre é possível, a quem quer que seja, subtrair-se a um jugo [subjugação], desde que com vontade firme o queira.”(9)Nesse caso através da prece como meio eficiente para a cura da obsessão, Porém, “não basta que alguém murmure algumas palavras, para que obtenha o que deseja. Deus assiste os que obram , não os que se limitam a pedir. É, pois, indispensável que o obsidiado faça, por sua parte, o que se torne necessário para destruir em si mesmo a causa da atração dos maus Espíritos.”(10)
Jorge Hessen
Referências bibliográficas:
(1)Disponível em
http://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2014/06/casa-e-demolida-apos-exorcismo-e-fenomenos-incomuns-no-rs.html
acesso 17/07/2014
(2)Disponível em http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/mundo/2014/07/03/interna_mundo,435782/vaticano-reconhece-juridicamente-associacao-internacional-de-exorcistas.shtml acesso 17/07/2014
(3)Disponível em http://g1.globo.com/mundo/noticia/2014/07/japonesa-morre-apos-beber-muita-agua-em-ritual-de-exorcismo.html acesso 18/07/2014
(4)Marcos 1:21-28 e Lucas 4:31-371 .
(5)Xavier Francisco Cândido. Caminhos de Volta, ditado por espíritos diversos, SP: edição GEEM, 1980
(6)Kardec, Allan. Livros dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed. FEB , 2001, questão 477.
(7)Kardec, Allan. Revista Espírita de maio de 1860, DF: Ed. Edicel, 2001
(8)XAVIER, F. C. Missionários da Luz, pelo Espírito André Luiz. 8. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1970.
(9)Kardec, Allan. Livros dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed. FEB , 2001, questão 475.
(10)Kardec, Allan. Livros dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed. FEB , 2001, questão 479
(2)Disponível em http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/mundo/2014/07/03/interna_mundo,435782/vaticano-reconhece-juridicamente-associacao-internacional-de-exorcistas.shtml acesso 17/07/2014
(3)Disponível em http://g1.globo.com/mundo/noticia/2014/07/japonesa-morre-apos-beber-muita-agua-em-ritual-de-exorcismo.html acesso 18/07/2014
(4)Marcos 1:21-28 e Lucas 4:31-371 .
(5)Xavier Francisco Cândido. Caminhos de Volta, ditado por espíritos diversos, SP: edição GEEM, 1980
(6)Kardec, Allan. Livros dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed. FEB , 2001, questão 477.
(7)Kardec, Allan. Revista Espírita de maio de 1860, DF: Ed. Edicel, 2001
(8)XAVIER, F. C. Missionários da Luz, pelo Espírito André Luiz. 8. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1970.
(9)Kardec, Allan. Livros dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed. FEB , 2001, questão 475.
(10)Kardec, Allan. Livros dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed. FEB , 2001, questão 479
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