Aécio, bem orientado pelos marqueteiros e com a agilidade de quem bebe política desde a mamadeira, fez colocações previsíveis, num mix de estampa de Ronaldo Caiado com discurso de Fernando Collor.
Diante da falação empolada e inócua, Fernando Mitre, diretor de Jornalismo da Rede Bandeirantes, a certa altura desabafou:
“Nós já ouvimos muito, aqui mesmo no Roda Viva, promessas de mudanças, como essas, que nunca aconteceram. Na verdade continuamos esperando que os que se nutrem desse estado de coisas queiram mudá-lo, o que não vai acontecer...”.
Eis aí, para mim, a fala mais importante de toda a entrevista. Aécio, e todos os candidatos a cargos majoritários, são apenas “mais do mesmo”. Até porque não são eles, os majoritários, que efetivamente governam. Na verdade, são governados.
No sistema eleitoral brasileiro, cargos majoritários são os de Presidente da República, governadores de Estado e do Distrito Federal, além dos prefeitos. Na prática, o majoritário acaba por ser um manequim na grande vitrine, que nem sempre revela o que está guardado nos porões, onde ficam os chamados “partidos aliados”, as coligações que reúnem até duas dezenas de agremiações cujo único propósito é o “poder”.
Nada contra o Poder. A Política se nutre do Poder. É assim em toda parte. O eleito ganha o poder e, a partir daí, “pode” nomear sua equipe de trabalho, fazer as mudanças prometidas, definir orçamentos, investimentos, estabelecer prioridades. É esse o jogo na democracia representativa. Elegemos representantes que podem colocar esse poder a serviço dos que o elegeram. Na prática, nem sempre é isso o que acontece...
Na cultura do poder à moda Brasil, o eleito para o cargo majoritário, no executivo, tem que “negociar” o poder com os que foram eleitos para o legislativo, e é aí que o bicho pega. E, no Brasil, o exemplo mais bem acabado do bicho pegando chama-se PMDB. Há outros, mas o PMDB alcançou quase que a perfeição, no quesito achaque/extorsão. Qualquer que seja o majoritário de plantão, o PMDB se faz governista. E cobra o seu preço; ministérios, cargos, verbas... poder.
Assim, seja FHC, Lula, Dilma ou quem mais chegar, estarão lá os Calheiros, Barbalhos, Sarneys e outros, menos falados, conhecidos e cotados. Estou falando da presidência da república, mas o raciocínio vale para todos os outros cargos ditos majoritários. Pouco importa quem estará na vitrine federal, estadual ou municipal, o poder se resolve no porão. Então, se queremos, de verdade, mudar alguma coisa, é preciso mexer no porão.
Sendo assim, caro cidadão eleitor, querida cidadã eleitora, não embarque no discurso pré-fabricado por competentes marqueteiros. Relativize a importância dos manequins colocados na vitrine e concentre sua atenção na composição do porão, nos deputados, no senador, no vereador (nas eleições municipais) que vai eleger. Eles é que vão mandar no poder. É com eles que a vitrine vai ter que negociar. O presidente pode até imaginar que é dono do baralho, mas é o Barbalho que vai dar as cartas...
Mas, mesmo o porão, ainda não é o poder mais poderoso. O buraco é mais em cima...
Por trás (ou acima) de tudo está o dono da loja, que mora na cobertura. O chamado “Mercado” (bancos, empreiteiras, grandes empresas e entidades patronais e de classe), essa entidade sem rosto que financia campanhas, distribui propinas, compra espaços na tela, nas manchetes, nas capas das revistas, na Rede, fabrica e tritura biografias e candidatos.
Procure, portanto, saber quem apoia e financia o seu candidato ao porão, verifique sua história, sua trajetória, o que ele guarda (ou esconde) no topo da pirâmide que o quer eleger...
Eduardo Machado
05/06/2014
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