segunda-feira, 21 de julho de 2014

O FALECIMENTO DE RUBEM ALVES DEIXA UMA LACUNA IMPREENCHÍVEL NA EDUCAÇÃO.

19/07/2014 14h58 - Atualizado em 19/07/2014

Escritor e educador Rubem Alves morre em Campinas aos 80 anos

Ele estava internado desde 10 de julho e teve falência múltipla de órgãos.
Mineiro, educador era um dos intelectuais mais respeitados do Brasil.

Do G1 Campinas e Região
Rubem Alves (Foto: Instituto Rubem Alves)Escritor Rubem Alves morre aos 80 anos em
Campinas (SP) (Foto: Instituto Rubem Alves)


















Oescritor Rubem Alves, de 80 anos, morreu no fim da manhã deste sábado (19) em decorrência de falência múltipla de órgãos, segundo o Centro Médico de Campinas (SP). O educador deu entrada no hospital com quadro de insuficiência respiratória devido a uma pneumonia e estava internado desde o dia 10 de julho na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). O óbito ocorreu às 11h50.

Na manhã deste sábado, o hospital havia enviado um boletim médico para informar que o paciente teve um agravamento da condição circulatória, e que caminhava para a falência múltipla de órgãos. Nos dias anteriores, Alves havia apresentado piora nas funções renais e pulmonar.

Velório
O corpo do escritor será velado na Câmara de Vereadores de Campinas. Inicialmente, a previsão era que a cerimônia iniciasse às 18h, mas, segundo Marcos Nooper Alves, filho do educador, houve atraso na liberação do corpo. Até as 21h20, o corpo não havia chegado.

"Sempre foi um pai maravilhoso, sempre esteve ao lado da família, foi preocupado com os filhos, com os netos. O legado que ele deixa é o legado da simplicidade. Ter mostrado que com as coisas simples, com o vento, as árvores, a gente pode ser muito feliz", disse o filho, de 52 anos.
Intelectual respeitado
Alves nasceu no dia 15 de setembro de 1933 em Boa Esperança, no Sul de Minas Gerais, e morava em Campinas há décadas. Um dos intelectuais mais respeitados do Brasil, Alves publicou diversos textos em jornais e revistas do país e atuou como cronista, pedagogo, poeta, filósofo, contador de histórias, ensaísta, teólogo, acadêmico, autor de livros infantis e até psicanalista, de acordo com sua página oficial na internet.
Rubem Alves  (Foto: Instituto Rubem Alves)Rubem Alves (Foto: Instituto Rubem Alves)
Educado em família protestante, estudou teologia no seminário Presbiteriano do Sul. Tornou-se pastor de uma comunidade presbiteriana no interior de Minas e casou com Lídia Nopper, com quem teve três filhos, Sérgio, Marcos e Raquel. O autor afirmava que descobriu que podia escrever para crianças ao inventar histórias para a filha.
Em 1963, viajou para Nova York para fazer uma pós-graduação. Retornou à paróquia em Lavras (MG), no período da ditadura militar, e foi listado entre pastores procurados pelos militares. Saiu com a família do Brasil e foi estudar em Princeton, também nos Estados Unidos, onde escreveu a tese de doutorado, que foi publicada em 1969 por uma editora católica com o título de 'A Theology of Human Hope' (Teologia da Esperança Humana).
Retornou ao Brasil em 1968 e demitiu-se da Igreja Presbiteriana. No ano seguinte foi indicado para uma vaga de professor de filosofia na Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Rio Claro (Fafi), atual Unesp, onde permaneceu até 1974.
No mesmo ano ingressou no Instituto de Filosofia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde fez a maior parte da sua carreira acadêmica até se aposentar no início da década de 1990. Em 1984 iniciou o curso para formação em psicanálise e teve uma clínica até 2004.
Escritor
O escritor dizia que com a literatura e a poesia começou a realizar seu sonho fracassado de ser músico. Citava como referências Nietzsche, T. S. Eliot, Kierkegaard, Camus, Lutero, Agostinho, Angelus Silésius, Guimarães Rosa, Saramago, Tao Te Ching, o livro de Eclesiastes, Bachelard, Octávio Paz, Borges, Barthes, Michael Ende, Fernando Pessoa, Adélia Prado e Manoel de Barros.
Entre as obras infantis dele estão "A volta do pássaro encantado" e "A pipa e a flor". Alves escreveu também sobre teologia, filosofia, educação, além de crônicas. É autor de "Tempus fugit", "O quarto do mistério", "A alegria de ensinar", "Por uma educação romântica" e "Filosofia da ciência", e diversos outros. Em 2009 ficou em 2º lugar do Prêmio Jabuti na categoria Contos e Crônicas, com o livro "Ostra Feliz Não Faz Pérola".
Educador
Sobre a paixão pela educação, escreveu: "Educar não é ensinar matemática, física, química, geografia, português. Essas coisas podem ser aprendidas nos livros e nos computadores. Dispensam a presença do educador. Educar é outra coisa. [...] A primeira tarefa da educação é ensinar a ver. [...] Quem vê bem nunca fica entediado com a vida. O educador aponta e sorri – e contempla os olhos do discípulo. Quando seus olhos sorriem, ele se sente feliz. Estão vendo a mesma coisa. Quando digo que minha paixão é a educação estou dizendo que desejo ter a alegria de ver os olhos dos meus discípulos, especialmente os olhos das crianças".
Escritor e educador Rubem Alves morre em Campinas aos 80 anos (Foto: Instituto Rubem Alves )Rubem Alves mantinha instituto em Campinas
(Foto: Instituto Rubem Alves)
Em entrevista à Globo News em agosto de 2012, Rubem Alves defendeu que a educação no Brasil deveria passar por mudanças. “Na educação a coisa mais deletéria na relação do professor com o aluno é dar a resposta. Ele tem que provocar a curiosidade e a pesquisa”, disse.
A prova do vestibular também foi alvo de críticas à época. “Se os reitores das universidades fizessem o vestibular, seriam reprovados, assim como os professores de cursinho. Então, por que os adolescentes têm que passar?”, indagou.
Morte e religião
Em um texto biográfico no site oficial, o educador escreveu trechos sobre a morte. "Eu achava que religião não era para garantir o céu, depois da morte, mas para tornar esse mundo melhor, enquanto estamos vivos."
Nota na íntegra do hospital
O intensivista e cardiologista do Hospital Centro Médico de Campinas, Roberto Munimis, acaba de informar a rápida evolução no quadro do paciente Rubem Alves, que veio a óbito por falência múltipla orgânica, às 11h50 do dia 19 de julho de 2014. Rubem Alves deu entrada no Centro Médico de Campinas no dia 10 de julho de 2014 e desde então está na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) por apresentar insuficiência respiratória devido a uma pneumonia.

Um comentário:

  1. Amigos,
    Wittgenstein dizia que o que se não pode dizer deve calar-se. E eu não sei explicar a tristeza que me assalta ao saber que o Brasil perdeu um dos seus maiores educadores.
    Era eu o privilegiado diretor da Escola da Ponte, quando da visita do Rubem Alves. Não sei se é por acasos que há acasos, mas a sua visita coincidiu com um momento de viragem no projeto e em mim. Estou grato ao Rubem pela oportunidade que me abriu de conhecer a educação que se faz no Brasil e me possibilitar o enfrentamento de novos desafios. Quase quinze anos decorridos sobre a visita à escola, é maior a minha admiração pela obra e vida do meu amigo Rubem. A sua vida foi coerente com o que escreveu, e a sua obra – extensa, diversificada e pautada por uma complexa simplicidade – suscita-me múltiplas leituras. A sua visão sobre o Brasil das escolas instiga-me a penetrar mais fundo em contraditórias realidades, observadas por um desarmado olhar europeu, que se surpreende perante o ostracismo a que alguns pedagogos brasileiros são remetidos.
    O meu mestre Rubem conduziu-me à descoberta de Anísio Teixeira, que, nos anos 30, defendia a necessidade de mudar a escola, para que esta se tornasse um instrumento de mudança social; ao encontrar Lauro Lima, que, na década de 60, fez a reinterpretação brasileira do pensamento de Piaget; a recuperar contributos de Paulo Freire, sobre cuja integração na ortodoxa universidade o Rubem escreveu um “não-parecer”...
    Durante o período negro dos governos militares, o Rubem e outros brilhantes pensadores exilaram-se, muitos projetos pereceram. Mas uma nova geração de educadores emerge, uma ruptura paradigmática se anuncia, que não prescinde do patrimônio que o Rubem e outros pedagogos nos legaram
    Há seres inspirados, que vivem “na contramão da História”, aprendendo a surfar o dilúvio de lixo cultural em que a sociedade e a Escola se afundaram. Poderemos incluir o Rubem no rol desses “românticos-conspiradores”. O próprio Rubem me confirmou a existência desses seres (que o Brecht diria serem indispensáveis), numa carta, de que ouso transcrever um pequeno excerto: “o bom é sentir que a "pia conspiratio" é muito maior do que se imagina. Há milhares de irmãos e irmãs desconhecidos sonhando o mesmo sonho...”
    Nas minhas deambulações pelo Brasil das escolas, verifiquei que Rubem Alves é inspiração para muitos anônimos educadores, que não desistem do sonho das suas vidas e tecem uma rede de fraternidade, fonte de esperança, num Brasil condenado a acreditar que, pela Educação, há-de chegar ao exercício de uma cidadania plena.
    Não faço elogios fúnebres. Peço que sejamos dignos da sua memória.
    Recebei o meu fraterno abraço.
    José


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