Não chores por mim, Copacabana
Diário de Copa 17
Galeno Amorim
Riso nervoso, alegria amarela, friozinho na barriga. Os cinco rapazes argentinos que seguiam pelo Calçadão de Copacabana, hoje no meio do dia, pareciam mais a caminho do matadouro do que, propriamente, para torcer na Fan Fest por sua celeste a meio caminho do tri. Sem cantoria, sem provocação, sem soberba. Seguiam, como sugeria, em perfeito portunhol, o cartaz em cartolina erguido por um deles, para a decisão de suas vidas.
A ansiedade era visível no cenho franzido da torcedora de meia idade, blusa de listras azuis e brancas e guirlanda alviceleste para conter o cabelo escorrido. Mas o medo do que estava por vir tornava opacas as faces do rapaz de lenço esvoaçante na cabeça e lata de cerveja nacional numa das mãos.
No dia em que o clube dos tetras ganharia mais um membro, a tensão pairou o tempo todo nos ares de Copa. A dança das gaivotas que disputava cada pedaço do céu azul e branco da orla parecia um aviso. O garoto de cabelos cacheados até que tentou puxar versos de Brasil decime qué se siente, o hino de guerra deles. Mas não sentiu firmeza:
- No! Esta, no... – repreendeu o outro.
Por onde andariam os bravos irmãos argentinos?!
Alguns nacionais até que tentaram dar uma mão. Pai e filho a caminho do Forte de Copacabana exibiam, sem constrangimento, colares de pompom azul em torno de pescoços verde-amarelos. Não adiantou. Tampouco a solidariedade das duas brasileirinhas que, destoando do restante do grupo, berravam por Argentina, Argentina. Os hermanos pareciam adivinhar o que estava por vir.
O silêncio sepulcral se impunha na guerra silenciosa das cores que pulsava no último domingão de Copa no coração aflito de transeuntes que iam e vinham sem saber para onde, já que a multidão pronta para adentrar as tendas da Fifa era duas vezes e meia maior do que caberia ali.
Como é de praxe nessas horas, Copacabana não deixou a peteca sair. Fogos de artifício cruzaram os céus, a bateria da escola de samba arrepiou na avenida, o apitaço mandou às favas a agonia silenciosa. Casais multicoloridos se formavam e se desfaziam na mesma hora, pênaltis eram batidos no campo improvisado em pleno Calçadão e o samba comia solto no palco da bola.
Os hermanos, embora dominassem o cenário e o domingão de Copacabana, custaram a soltar a voz na arena das torcidas. Só que eram gritos temerários, muito mais de zoeira sobre canarinhos abatidos em voo do que propriamente contra prováveis algozes alemães.
Camisetas de matizes diversos aproveitaram o dia de sol para se despedir da Princesinha do Mar, por semanas a fio a capital da ONU de chuteiras. Estavam todos lá. Além de portenhos e alemães – estes, naturalmente reforçados por formidáveis hostes alemãs locais –, apareceram chilenos, colombianos, mexicanos, americanos e até australianos. Fizeram que foram, mas voltaram. Não se sabe se por comiseração ou simpatia, muitos deles envergavam a velha e surrada camisa verde-amarela.
Não era dia de Brasil. Mesmo assim, o grito da moça se perdia na multidão de Copacabana:
- Todo mundo tenta, só o Brasil é penta... – ela repetia, sem se importar se seu grito de guerra e dor era ouvido por alguém.
Porém, o grande espetáculo da Copa das Copas das torcidas de Copacabana se dava perto dali. Na Praça do Lido, onde se vende de tudo, inclusive ingressos para o Corcovado, trigêmeos jogavam, sossegadamente, sua bolinha de domingo. Um deles trazia, na boa, o 10 de Messi às costas. O outro estampava o 13 de Muller, enquanto o terceiro, igualmente desencanado, defendia o 10 de Neymar, numa reprodução perfeita do que se veria, mais tarde, nas arquibancadas do Maraca, do outro lado da cidade.
Herdeiros legítimos do planeta bola, cada qual gingava à sua maneira, chutava e corria pro abraço a cada vez que estufava redes imaginárias. Sem se importar com as diferenças e as escolhas de cada um. Com respeito, sem tripudiar um ao outro.
Talvez seja o sinal de que algo novo pode estar por vir por aí.
A ansiedade era visível no cenho franzido da torcedora de meia idade, blusa de listras azuis e brancas e guirlanda alviceleste para conter o cabelo escorrido. Mas o medo do que estava por vir tornava opacas as faces do rapaz de lenço esvoaçante na cabeça e lata de cerveja nacional numa das mãos.
No dia em que o clube dos tetras ganharia mais um membro, a tensão pairou o tempo todo nos ares de Copa. A dança das gaivotas que disputava cada pedaço do céu azul e branco da orla parecia um aviso. O garoto de cabelos cacheados até que tentou puxar versos de Brasil decime qué se siente, o hino de guerra deles. Mas não sentiu firmeza:
- No! Esta, no... – repreendeu o outro.
Por onde andariam os bravos irmãos argentinos?!
Alguns nacionais até que tentaram dar uma mão. Pai e filho a caminho do Forte de Copacabana exibiam, sem constrangimento, colares de pompom azul em torno de pescoços verde-amarelos. Não adiantou. Tampouco a solidariedade das duas brasileirinhas que, destoando do restante do grupo, berravam por Argentina, Argentina. Os hermanos pareciam adivinhar o que estava por vir.
O silêncio sepulcral se impunha na guerra silenciosa das cores que pulsava no último domingão de Copa no coração aflito de transeuntes que iam e vinham sem saber para onde, já que a multidão pronta para adentrar as tendas da Fifa era duas vezes e meia maior do que caberia ali.
Como é de praxe nessas horas, Copacabana não deixou a peteca sair. Fogos de artifício cruzaram os céus, a bateria da escola de samba arrepiou na avenida, o apitaço mandou às favas a agonia silenciosa. Casais multicoloridos se formavam e se desfaziam na mesma hora, pênaltis eram batidos no campo improvisado em pleno Calçadão e o samba comia solto no palco da bola.
Os hermanos, embora dominassem o cenário e o domingão de Copacabana, custaram a soltar a voz na arena das torcidas. Só que eram gritos temerários, muito mais de zoeira sobre canarinhos abatidos em voo do que propriamente contra prováveis algozes alemães.
Camisetas de matizes diversos aproveitaram o dia de sol para se despedir da Princesinha do Mar, por semanas a fio a capital da ONU de chuteiras. Estavam todos lá. Além de portenhos e alemães – estes, naturalmente reforçados por formidáveis hostes alemãs locais –, apareceram chilenos, colombianos, mexicanos, americanos e até australianos. Fizeram que foram, mas voltaram. Não se sabe se por comiseração ou simpatia, muitos deles envergavam a velha e surrada camisa verde-amarela.
Não era dia de Brasil. Mesmo assim, o grito da moça se perdia na multidão de Copacabana:
- Todo mundo tenta, só o Brasil é penta... – ela repetia, sem se importar se seu grito de guerra e dor era ouvido por alguém.
Porém, o grande espetáculo da Copa das Copas das torcidas de Copacabana se dava perto dali. Na Praça do Lido, onde se vende de tudo, inclusive ingressos para o Corcovado, trigêmeos jogavam, sossegadamente, sua bolinha de domingo. Um deles trazia, na boa, o 10 de Messi às costas. O outro estampava o 13 de Muller, enquanto o terceiro, igualmente desencanado, defendia o 10 de Neymar, numa reprodução perfeita do que se veria, mais tarde, nas arquibancadas do Maraca, do outro lado da cidade.
Herdeiros legítimos do planeta bola, cada qual gingava à sua maneira, chutava e corria pro abraço a cada vez que estufava redes imaginárias. Sem se importar com as diferenças e as escolhas de cada um. Com respeito, sem tripudiar um ao outro.
Talvez seja o sinal de que algo novo pode estar por vir por aí.
Isso#mudaojogo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário