segunda-feira, 14 de julho de 2014

A DÚVIDA DE SANTO AGOSTINHO.

Opinião em Tópicos : a dúvida de Santo Agostinho



A dúvida de Agostinho

Religião é certeza. Filosofia é dúvida. Fico, às vezes, a pensar na angústia de um Santo Agostinho, tão devotado à fé e, ao mesmo tempo, tão envolvido pela reflexão filosófica. Cristão convertido, devia obediência a Paulo que pregava a certeza de uma vida única, depois da qual viria o juízo. Mas, platônico, e conhecedor das ideias sobre a preexistência da alma, legadas por Orígenes, Plotino e outros neoplatônicos, “Padres da Igreja”, o bispo de Hipona, em suas “Confissões”, rogava a Deus: “Dizei se minha infância sucedeu a outra idade já morta, ou se tal idade foi a que levei no seio de minha mãe?”. E, angustiado, insistia: “E antes desse tempo, que era eu, meu Deus? Existi, porventura, em qualquer parte, ou era por acaso alguém?”.
Era o conflito entre a prisão da fé e os apelos libertários da filosofia.

A rebeldia de Bruno

Imagine-se um frade da ordem dos dominicanos, congregação religiosa que exige de seus membros, além dos votos de pobreza e de castidade, o da obediência. Era o Século XVI, e a Igreja vivia o período da Contrarreforma, buscando manter, a qualquer custo, seu poder sobre a sociedade europeia. Que chance poderia ter Giordano Bruno, conservando-se cristão, de sustentar coisas como pluralidade de mundos habitados e pluralidade de existências corporais do espírito? Mesmo abandonando o hábito, para se tornar, primeiramente, calvinista e, finalmente, livre-pensador, foi perseguido e processado pelo tribunal da Inquisição. Eram graves demais suas “heresias”, e, entre elas, particularmente perniciosa aquela que apregoava a “transmigração das almas”. O ex-frade, então excomungado, sustentou firmemente suas ideias, até ser calado pela infame execução, na fogueira, em praça pública, no Campo dei Fiori, em Roma, naquele 17 de fevereiro de 1600.

A certeza de Ford

Homem prático, inteligente, empreendedor, Henry Ford se tornaria um dos sujeitos mais ricos do mundo, desde que construiu seu primeiro automóvel. Mesmo com poder e dinheiro, segundo revelou, em 1929, em entrevista a um jornal americano, sentia-se, desde jovem, “aturdido”, diante de perguntas que fazia a si próprio, do tipo: “Para que estamos aqui?”. Sem resposta a essa indagação “a vida era vazia, inútil”. Foi quando, com a leitura de livro ofertado por um amigo, teve contato com as ideias reencanacionistas: “Isto mudou toda a minha vida”, declarou, que passou “do vazio e da inutilidade para uma existência de propósito e significação”. E acrescentou o grande industrial estadunidense: “Acredito que estamos aqui, e agora, e tornaremos a voltar. Disso eu tenho certeza”.

A coragem de Stevenson

Da Antiguidade aos dias de hoje, escritores, homens de ciência, poetas e filósofos aceitam a tese da existência do espírito e sua evolução através das vidas sucessivas. Hoje, não são poucos os intelectuais com essa íntima convicção. Mas, se veem frente a um impasse: a ciência acadêmica adotou paradigma materialista, reducionista. Ideias como imortalidade do espírito e reencarnação foram empurradas para o domínio da crença. Um professor universitário, um cientista, pode ter a fé que desejar. Mas, para estar inserido no “status quo” vigente, não deve “misturar” a “crença” com seu magistério ou atuação científica. Por sorte, há exceções. O psiquiatra Ian Stevenson (1917/2007), professor da Universidade de Virginia, defendeu a hipótese da reencarnação e pesquisou faticamente sua ocorrência, deixando bem documentados os resultados na obra “Vinte Casos Sugestivos de Reencarnação”. Entretanto, esta frase dita por ele permite avaliar a coragem que precisou ter para realizar seu trabalho: “Se os hereges pudessem ser queimados vivos, nos dias de hoje, os cientistas – sucessores dos teólogos que queimavam qualquer um que negasse a existência das almas, no Séc.XVI – hoje queimariam aqueles que afirmam que elas existem”.

(Coluna publicada nas edições de julho dos jornais "Opinião" do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, e "Abertura" do Instituto Cultural Kardecista de Santos)

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