Fechada pra balanço
Diário de Copa 12
No primeiro par de dias sem nem mesmo um joguinho de peteca pra matar o tempo, a impressão do desavisado que chegasse, esta manhã, em Copacabana era de que Copa do Mundo não há e que jamais existiu por essas plagas. Nenhuma palavra sobre mães de juízes ou o divã da Granja Comari. Nem mesmo a tradicional conversa fiada dos milhões de comentaristas e técnicos de futebol do Calçadão no pós peleja.
Sem bandeirolas, torcedores trôpegos ou cantos de guerra, até os estandartes nas cores dos países classificados para as Quartas-de-Final sumiram das janelas dos prédios.
Enfim, só uma manhã comum.
Como é próprio dos dias assim, barraqueiros, banhistas e desocupados em geral interrompiam atividades e suspendiam compromissos previamente agendados para aquela hora só para poder discutir, com a catigoria que o caso requer, o assunto. Ou a falta dele. Nessas horas, naturalmente, quanto maior a carga conspiratória, tanto melhor a tese. Uma coisa puxa a outra.
- Será que as pessoas desistiram da Copa?! – deu a deixa o treinador de frescobol, já desenvolvendo a própria teoria.
A mulher do cafezinho fingiu discordância:
- Hum... Sei, não.
Deu duas moedas de troco, coçou o nariz com o dedo indicador e fez a própria aposta:
- Isso é coisa daqueles uns do Não Vai Ter Copa...
Era mais simples. Copacabana só queria mesmo ter um dia normal. O que, convenhamos, já não é normal. Para tristeza de uns, que se mostravam sinceramente chateados, já que, como faziam questão de esclarecer, estavam se acostumando com a bagunça generalizada, achando inclusive graça da algaravia patrocinada pelos turistas da bola, sempre em bandos e costumes engraçados e uma alegria sem fim. Mas houve também quem aprovasse a mudança repentina, uma vez que, de com acordo com esses, ter um dia comum em Copa já é, por si só, algo absolutamente incomum.
Em dias assim, a Princesinha do Mar se deixa levar por uma adorável e preguiçosa rotina, que pode se materializar tanto na forma do casal que se esqueceu de voltar para casa e acordou abraçado na areia da praia quanto nas simpáticas senhorinhas que se exercitavam na sua aula de ginástica das quartas. Ou, ainda, na figura de atletas de meio expediente que pedalam, correm, caem na água e praticam fundamentos do futevôlei.
O entregador de coco grita alto para tentar, em vão, resgatar o balconista dorminhoco debruçado no quiosque do seu sono profundo. Caminhões cervejeiros realocam no fundo do freezer as garrafinhas nossas de cada dia, enquanto na barraca do Anderson Teleco & Tatá já se aceita reservas para a festa do réveillon, que está logo aí.
Assim é que é.
Copa não se emenda, filosofa o vovô com seus botões. Foi só Dona Fifa baixar a guarda, diz ele, para a orla bela e famosa por suas manguinhas de fora e tirar, por conta e risco, o dia de folga. Justo no auge de todo o rebuliço, meio que Quartas-de-Final dessa Copa paralela das torcidas, às turras, umas com as outras, em suas batalhas extra campais em busca pelos melhores decibéis, maior azaração e um lugar no lado esquerdo do peito da brava gente brasileira.
Mas nem tudo está perdido.
Com tantos jogões pela frente programados para uma sexta só, havia ao menos um lugar pra lá de movimentado neste dia chocho e sem bola. A pequena fila se formou logo que as portas se abriram, uma rua depois da Nossa Senhora de Copacabana, que é onde opera, há anos, uma das mais concorridas lavanderias do bairro. Eram pessoas comuns, aparentemente de carne e osso, só aguardando, pacientemente, a vez de se desvencilhar dos problemas do dia e da sacola de roupa suja, que não necessariamente se lava em casa. Quase todas as peças eram camisas, suadas, torcidas, sofridas... Umas azuis, outras vermelhas. Algumas brancas, várias laranjas e muitas amarelas.
Enquanto anotava, meticulosamente, cada peça, a moça do balcão ditava as regras da casa:
- O pagamento é adiantado; e tem buscar, impreterivelmente, até o meio dia de sexta-feira.
Após essa hora, como se sabe, é meio feriado na cidade. E depois, sabe-se lá como estará, mais tarde, o humor da distinta freguesia.
Sem bandeirolas, torcedores trôpegos ou cantos de guerra, até os estandartes nas cores dos países classificados para as Quartas-de-Final sumiram das janelas dos prédios.
Enfim, só uma manhã comum.
Como é próprio dos dias assim, barraqueiros, banhistas e desocupados em geral interrompiam atividades e suspendiam compromissos previamente agendados para aquela hora só para poder discutir, com a catigoria que o caso requer, o assunto. Ou a falta dele. Nessas horas, naturalmente, quanto maior a carga conspiratória, tanto melhor a tese. Uma coisa puxa a outra.
- Será que as pessoas desistiram da Copa?! – deu a deixa o treinador de frescobol, já desenvolvendo a própria teoria.
A mulher do cafezinho fingiu discordância:
- Hum... Sei, não.
Deu duas moedas de troco, coçou o nariz com o dedo indicador e fez a própria aposta:
- Isso é coisa daqueles uns do Não Vai Ter Copa...
Era mais simples. Copacabana só queria mesmo ter um dia normal. O que, convenhamos, já não é normal. Para tristeza de uns, que se mostravam sinceramente chateados, já que, como faziam questão de esclarecer, estavam se acostumando com a bagunça generalizada, achando inclusive graça da algaravia patrocinada pelos turistas da bola, sempre em bandos e costumes engraçados e uma alegria sem fim. Mas houve também quem aprovasse a mudança repentina, uma vez que, de com acordo com esses, ter um dia comum em Copa já é, por si só, algo absolutamente incomum.
Em dias assim, a Princesinha do Mar se deixa levar por uma adorável e preguiçosa rotina, que pode se materializar tanto na forma do casal que se esqueceu de voltar para casa e acordou abraçado na areia da praia quanto nas simpáticas senhorinhas que se exercitavam na sua aula de ginástica das quartas. Ou, ainda, na figura de atletas de meio expediente que pedalam, correm, caem na água e praticam fundamentos do futevôlei.
O entregador de coco grita alto para tentar, em vão, resgatar o balconista dorminhoco debruçado no quiosque do seu sono profundo. Caminhões cervejeiros realocam no fundo do freezer as garrafinhas nossas de cada dia, enquanto na barraca do Anderson Teleco & Tatá já se aceita reservas para a festa do réveillon, que está logo aí.
Assim é que é.
Copa não se emenda, filosofa o vovô com seus botões. Foi só Dona Fifa baixar a guarda, diz ele, para a orla bela e famosa por suas manguinhas de fora e tirar, por conta e risco, o dia de folga. Justo no auge de todo o rebuliço, meio que Quartas-de-Final dessa Copa paralela das torcidas, às turras, umas com as outras, em suas batalhas extra campais em busca pelos melhores decibéis, maior azaração e um lugar no lado esquerdo do peito da brava gente brasileira.
Mas nem tudo está perdido.
Com tantos jogões pela frente programados para uma sexta só, havia ao menos um lugar pra lá de movimentado neste dia chocho e sem bola. A pequena fila se formou logo que as portas se abriram, uma rua depois da Nossa Senhora de Copacabana, que é onde opera, há anos, uma das mais concorridas lavanderias do bairro. Eram pessoas comuns, aparentemente de carne e osso, só aguardando, pacientemente, a vez de se desvencilhar dos problemas do dia e da sacola de roupa suja, que não necessariamente se lava em casa. Quase todas as peças eram camisas, suadas, torcidas, sofridas... Umas azuis, outras vermelhas. Algumas brancas, várias laranjas e muitas amarelas.
Enquanto anotava, meticulosamente, cada peça, a moça do balcão ditava as regras da casa:
- O pagamento é adiantado; e tem buscar, impreterivelmente, até o meio dia de sexta-feira.
Após essa hora, como se sabe, é meio feriado na cidade. E depois, sabe-se lá como estará, mais tarde, o humor da distinta freguesia.
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