Os lulus de Copacabana
Diário de Copa 9
Galeno Amorim
Copa que é Copa não vive só das glórias e conquistas nas quatro linhas. Tá certo que a magia do jogo e os feitos incríveis que saem da cabeça e dos pés – e, vez ou outra, dos dentes... – dos gênios da bola contam muito. Só que não é tudo. Principalmente quando se vê que, para cada peleja jogada em qualquer uma das nossas arenas, o velho e bom País do futebol protagoniza poucas e boas do lado de fora delas.
Copacabana mesmo já teve de tudo nesses dias de Mundial. Guerras de torcidas, bacanais da bola e bárbaras invasões de hermanos de quatro costados de Norte a Sul da latina América. Por terra, mar e ar. Já se falou e se escreveu muito sobre artistas, banhistas e até as noivas de Copacabana. Mas em tempos de reinado absoluto da bola, não se disse meia linha que fosse a respeito da gloriosa República dos Lulus de Copacabana.
Quem são eles? Trata-se de espécime tão onipresente quanto imprescindível no dia a dia do bairro. Como o são os vendedores da areia, os atletas de plantão, os pregadores das calçadas e os manifestantes das ruas, entre tantos outros tipos que habitam e batem ponto diário na orla mais falada do mundo. Nesses dias de jogões, Copacabana consolida sua fama e a adorável condição de maior canil a céu aberto do planeta.
Buldogues, Labradores, Pastores-alemão, Beagles, Chihuahuas, Pugs, Cokers Inglês, Pit bulls, Rottweillers, Dobermanns, Poodles. Pequinês, Shih-tzu, Maltês, São Bernardo, Lulu da Pomerânia, Toys... Eles estão todos aqui! O paraíso das cães na Terra é aqui!
Quem caminhasse nesta tarde pela orla de Copa, do Leme à Confeitaria Colombo, veria, enquanto argentinos e nigerianos se esfolavam no Sul, que os lulus estão mesmo na crista da onda, e roubam a cena. Eles estavam por todo o Calçadão e quase tão produzidos quanto Cristiano Ronaldo e a turma de estrelas fashion dos gramados. Uns de cachecol, outros de gravata borboleta e os grandalhões envergando jaquetões de crochê, naturalmente que nas cores verde e amarelo.
Ted, um Cocker americano, desfilava com as madeixas descoloridas à la Dani Alves. Nico, um Maltês desencanado, andava com sua dona a tiracolo com um look louro platinado inspirado em Neymar. O estilo moicano do nigeriano Emenike estava presente em mais de uma raça, para delírio dos estilistas dos pet shops do bairro.
Cachorrinhos e cachorrões – mas atenção: nunca pergunte em Copa quem são uns e quem são os outros – tricotam pra lá e pra cá, uns fazendo companhia pros outros. Entre o Posto 6 e o Lido, um só deles, Fredy – não confundir com o atacante bigodudo e, em tempos idos, artilheiro da seleção –, se deixou flagrar ladrando a plenos pulmões, enquanto uma ruidosa caravana de torcedores perdidos passava.
Lili, uma cadelinha pinscher, seguia, bela e fofa, protegida do sol de 29 graus, num carrinho de bebê empurrado pela dona. Coisa meiga. Não deu a menor bola quando cruzou, defronte ao canteiro de obras do Museu da Imagem e do Som, com Memel, pequinês de juba podada com um desenho em ziguezague, provavelmente feito pelo mesmo cabelereiro do CR7.
Assim como seus donos torcedores, cada um deles tem estilo e personalidade. Na Hora H, cada qual torce da sua maneira. Nério, por exemplo, um vira-lata estiloso que, em dias comuns, pode ser visto, nas primeiras horas de sol, circulando pelas ruas transversais da Avenida Nossa Senhora de Copacabana, costuma rosnar toda vez que a Argentina faz gol. Nesta tarde, voltou quase rouco do passeio diário.
Se chilenos, argentinos e colombianos ficaram com o lado chique da orla, aquela voltada pro mar, os lulus, mais modestos, se contentam com a calçada oposta, onde bate sombra. Era lá que estava Félix, um Dogue alemão,seguia, disciplinadamente, as instruções do seu treinador:
- Senta! Levanta! Deita!
Notando a pequena plateia que se formava ao redor, o coach sentiu firmeza. Ele abusou da sorte:
- Neymar! – comandou, voz empostada, para que não restasse dúvida sobre suas habilidades de instrutor, e o lulu, paciente, se ergueu, num pulo só.
- Messi! – tripudiou ele, e o lulu, obediente, dessa vez se esparramou pelo chão.
A senhorinha que viu a cena não achou muita graça. Mas quis saber se ele não usa focinheira no seu cão. O humor do técnico pareceu mudar um pouco. Ele deu de ombros:
- Se a Fifa que é a Fifa não põe focinheira nos seus jogadores, eu é que não vou por nos meus...
Mais não foi dito. Mais não precisou ser perguntado.
Copacabana mesmo já teve de tudo nesses dias de Mundial. Guerras de torcidas, bacanais da bola e bárbaras invasões de hermanos de quatro costados de Norte a Sul da latina América. Por terra, mar e ar. Já se falou e se escreveu muito sobre artistas, banhistas e até as noivas de Copacabana. Mas em tempos de reinado absoluto da bola, não se disse meia linha que fosse a respeito da gloriosa República dos Lulus de Copacabana.
Quem são eles? Trata-se de espécime tão onipresente quanto imprescindível no dia a dia do bairro. Como o são os vendedores da areia, os atletas de plantão, os pregadores das calçadas e os manifestantes das ruas, entre tantos outros tipos que habitam e batem ponto diário na orla mais falada do mundo. Nesses dias de jogões, Copacabana consolida sua fama e a adorável condição de maior canil a céu aberto do planeta.
Buldogues, Labradores, Pastores-alemão, Beagles, Chihuahuas, Pugs, Cokers Inglês, Pit bulls, Rottweillers, Dobermanns, Poodles. Pequinês, Shih-tzu, Maltês, São Bernardo, Lulu da Pomerânia, Toys... Eles estão todos aqui! O paraíso das cães na Terra é aqui!
Quem caminhasse nesta tarde pela orla de Copa, do Leme à Confeitaria Colombo, veria, enquanto argentinos e nigerianos se esfolavam no Sul, que os lulus estão mesmo na crista da onda, e roubam a cena. Eles estavam por todo o Calçadão e quase tão produzidos quanto Cristiano Ronaldo e a turma de estrelas fashion dos gramados. Uns de cachecol, outros de gravata borboleta e os grandalhões envergando jaquetões de crochê, naturalmente que nas cores verde e amarelo.
Ted, um Cocker americano, desfilava com as madeixas descoloridas à la Dani Alves. Nico, um Maltês desencanado, andava com sua dona a tiracolo com um look louro platinado inspirado em Neymar. O estilo moicano do nigeriano Emenike estava presente em mais de uma raça, para delírio dos estilistas dos pet shops do bairro.
Cachorrinhos e cachorrões – mas atenção: nunca pergunte em Copa quem são uns e quem são os outros – tricotam pra lá e pra cá, uns fazendo companhia pros outros. Entre o Posto 6 e o Lido, um só deles, Fredy – não confundir com o atacante bigodudo e, em tempos idos, artilheiro da seleção –, se deixou flagrar ladrando a plenos pulmões, enquanto uma ruidosa caravana de torcedores perdidos passava.
Lili, uma cadelinha pinscher, seguia, bela e fofa, protegida do sol de 29 graus, num carrinho de bebê empurrado pela dona. Coisa meiga. Não deu a menor bola quando cruzou, defronte ao canteiro de obras do Museu da Imagem e do Som, com Memel, pequinês de juba podada com um desenho em ziguezague, provavelmente feito pelo mesmo cabelereiro do CR7.
Assim como seus donos torcedores, cada um deles tem estilo e personalidade. Na Hora H, cada qual torce da sua maneira. Nério, por exemplo, um vira-lata estiloso que, em dias comuns, pode ser visto, nas primeiras horas de sol, circulando pelas ruas transversais da Avenida Nossa Senhora de Copacabana, costuma rosnar toda vez que a Argentina faz gol. Nesta tarde, voltou quase rouco do passeio diário.
Se chilenos, argentinos e colombianos ficaram com o lado chique da orla, aquela voltada pro mar, os lulus, mais modestos, se contentam com a calçada oposta, onde bate sombra. Era lá que estava Félix, um Dogue alemão,seguia, disciplinadamente, as instruções do seu treinador:
- Senta! Levanta! Deita!
Notando a pequena plateia que se formava ao redor, o coach sentiu firmeza. Ele abusou da sorte:
- Neymar! – comandou, voz empostada, para que não restasse dúvida sobre suas habilidades de instrutor, e o lulu, paciente, se ergueu, num pulo só.
- Messi! – tripudiou ele, e o lulu, obediente, dessa vez se esparramou pelo chão.
A senhorinha que viu a cena não achou muita graça. Mas quis saber se ele não usa focinheira no seu cão. O humor do técnico pareceu mudar um pouco. Ele deu de ombros:
- Se a Fifa que é a Fifa não põe focinheira nos seus jogadores, eu é que não vou por nos meus...
Mais não foi dito. Mais não precisou ser perguntado.
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