Tipos do Brasil
Diário de Copa 8
Galeno Amorim
Em dias de jogos da seleção, eles reviram o guarda-roupa, pedem ajuda a vizinhos, reciclam trajes fora de uso e vão para as ruas. Nos instantes que antecedem os jogos do selecionado nacional, eles estão por toda parte. Podem ser vistos em esquinas, calçadas e bares da praia e das ruas e becos de Copacabana. Do seu modo e estilo, fazem a festa das cores e ritmos da pátria amada Brasil.
Essas personagens, que se amontam nos coletivos e trens do metrô já nas primeiras horas do dia, não perdem por nada um jogo do seu time. Antes e depois dos anos 1950, quando o escrete nacional abiscoitou seu primeiro título mundial, eles continuam sendo o que de melhor este País produz. É uma gente danada que pega no batente até pouco antes da peleja, não tem medo de empura-empurra na grande área e, sobretudo, não desiste nunca. Nem se o Fred der chutão pra fora dos três paus com o goleiro caído. Esses jamais deixam seu time na mão.
Os tipos do Brasil lograram uma façanha na segunda segundona da Copa. No dia em que a seleção do Felipão pulou para as Oitavas com o chocolate sobre os pobres camaroneses, eles foram à luta e resgataram a dignidade cívica e geopolítica de Copacabana, tomada em dias anteriores, como se sabe, por argentinos, chilenos, colombianos, alemães, americanos e até ingleses e espanhóis, já a caminho de casa. No meio feriadão de segunda, era a visão multicolorida do povo brasileiro que dominava o cenário.
Os tipos brazucas são variados. Diferem entre si. Vistos de perto, porém, não há como se enganar. Há, por exemplo, aquele tipão tradicional, que leva o pavilhão nacional pendurado nas costas, ou no entorno da cintura das moças, em forma de canga ou saída de banho. Grita o tempo todo, antes, durante e depois do jogo. "Sou brasileiro com muito orgulho, com muito amor ôôôôô" é sua cantoria predileta.
Há o tipo saudosista, que enverga na farda (atualmente mais conhecida como uniforme) craques como Garrincha, Didi e a turma antes de Pelé, Romário e Ronaldo.
Outra categoria que não falha nunca nos grandes acontecimentos futebolísticos da nação é a do Zé Mané. Esses são facilmente identificados pela bola verde e branca que costumam levar debaixo do braço como se fossem, eles próprios, entrar em campo. Também podem ser reconhecidos enquanto se divertem com uma língua de sogra nas cores da seleção ou qualquer outro apetrecho do gênero. Embora tidos como ingênuos, torcem e vibram como qualquer outro.
Um tipo mais recente é o coxinha. Ele se produz com requinte e sofisticação e sua preparação pré-jogo pode levar horas, retardando, muitas vezes, sua própria chegada à passarela. Favor não confundir com os do tipo Me Chama Que Eu Vou. Esses rapazes e moças, sempre, digamos, prontos pra matar, consideram que torcer pro seu time, além de uma obrigação, também é uma boa estratégia para atingir seus objetivos pós-jogo, e não necessariamente esportivos.
Afinal, turistas e locais dando sopa é o que não falta. E se cair dentro da área é pênalti. Mas isso pode, Arnaldo?!
Justiça seja feita: nem um nem outro jamais faltaram com lealdade ao galhardão nacional. Ao menos até o último apito do juiz, nos acréscimos. Depois... Quem saiu à chuva é pra se molhar – este é o seu lema.
Os mais animados e imprescindíveis são, de longe, os do tipo Alegrões. Embora não sejam em maior número, são eles os grandes responsáveis pelo show de bola, simpatia e o clima festeiro nas ruas de Copacabana, adjacências e das principais cidades brasileiras.
Uma fiel representante desse grupo podia ser vista, meia hora antes do jogo contra Camarões, saindo do Lido, orecanto dos artesãos de Copa, na direção da Fan Fest. Usava um chapéu que podia revelar tanto uma medusa verde-amarela quanto um Pierrô tupiniquim, e esbanjava confiança em Neymar & Cia. Nas duas faces, a tinta com as cores da bandeira. Atrás dela, um cordão inteiro de torcedores em busca de telão para ver o jogo.
Quando ela cruzou com o vovô de chapéu de pano e camisa de lantejoulas com as cores nacionais, nem foi preciso que se cumprimentassem. Um logo reconheceu no outro o seu igual. De mãos dadas com a esposa no meio da multidão que serpenteava pelo Calçadão de Copacabana, ele se limitou a sorrir e a dar uma piscadela. Seguiu adiante com seu dever a cumprir: contagiar milhares de torcedores ainda em busca de um hino de guerra pra cantar.
Outro tipo manjadamente alegrão a cruzar o caminho de ambos foi o tiozinho da bicicleta decorada em tons variados de verde-amarelo, dos raios das rodas ao bagageiro e espelhinhos retrovisores.
Tanto faz se em Copacabana, no Alzirão, em suas cidades de origem ou onde o destino os mandar: esses jamais vão deixar sua seleção na mão.
É por eles, e por ela própria, que a mulher sessentona de lábios carnudos vermelhos, bata amarela desbotada, brincos verdes e tiara com as cores da seleção na cabeça, última moda em Copa, faz o apelo dramático:
- Ganha a Copa pra mim, Brasil!
Esses brasileiros merecem uma Copa. E bem mais.
Essas personagens, que se amontam nos coletivos e trens do metrô já nas primeiras horas do dia, não perdem por nada um jogo do seu time. Antes e depois dos anos 1950, quando o escrete nacional abiscoitou seu primeiro título mundial, eles continuam sendo o que de melhor este País produz. É uma gente danada que pega no batente até pouco antes da peleja, não tem medo de empura-empurra na grande área e, sobretudo, não desiste nunca. Nem se o Fred der chutão pra fora dos três paus com o goleiro caído. Esses jamais deixam seu time na mão.
Os tipos do Brasil lograram uma façanha na segunda segundona da Copa. No dia em que a seleção do Felipão pulou para as Oitavas com o chocolate sobre os pobres camaroneses, eles foram à luta e resgataram a dignidade cívica e geopolítica de Copacabana, tomada em dias anteriores, como se sabe, por argentinos, chilenos, colombianos, alemães, americanos e até ingleses e espanhóis, já a caminho de casa. No meio feriadão de segunda, era a visão multicolorida do povo brasileiro que dominava o cenário.
Os tipos brazucas são variados. Diferem entre si. Vistos de perto, porém, não há como se enganar. Há, por exemplo, aquele tipão tradicional, que leva o pavilhão nacional pendurado nas costas, ou no entorno da cintura das moças, em forma de canga ou saída de banho. Grita o tempo todo, antes, durante e depois do jogo. "Sou brasileiro com muito orgulho, com muito amor ôôôôô" é sua cantoria predileta.
Há o tipo saudosista, que enverga na farda (atualmente mais conhecida como uniforme) craques como Garrincha, Didi e a turma antes de Pelé, Romário e Ronaldo.
Outra categoria que não falha nunca nos grandes acontecimentos futebolísticos da nação é a do Zé Mané. Esses são facilmente identificados pela bola verde e branca que costumam levar debaixo do braço como se fossem, eles próprios, entrar em campo. Também podem ser reconhecidos enquanto se divertem com uma língua de sogra nas cores da seleção ou qualquer outro apetrecho do gênero. Embora tidos como ingênuos, torcem e vibram como qualquer outro.
Um tipo mais recente é o coxinha. Ele se produz com requinte e sofisticação e sua preparação pré-jogo pode levar horas, retardando, muitas vezes, sua própria chegada à passarela. Favor não confundir com os do tipo Me Chama Que Eu Vou. Esses rapazes e moças, sempre, digamos, prontos pra matar, consideram que torcer pro seu time, além de uma obrigação, também é uma boa estratégia para atingir seus objetivos pós-jogo, e não necessariamente esportivos.
Afinal, turistas e locais dando sopa é o que não falta. E se cair dentro da área é pênalti. Mas isso pode, Arnaldo?!
Justiça seja feita: nem um nem outro jamais faltaram com lealdade ao galhardão nacional. Ao menos até o último apito do juiz, nos acréscimos. Depois... Quem saiu à chuva é pra se molhar – este é o seu lema.
Os mais animados e imprescindíveis são, de longe, os do tipo Alegrões. Embora não sejam em maior número, são eles os grandes responsáveis pelo show de bola, simpatia e o clima festeiro nas ruas de Copacabana, adjacências e das principais cidades brasileiras.
Uma fiel representante desse grupo podia ser vista, meia hora antes do jogo contra Camarões, saindo do Lido, orecanto dos artesãos de Copa, na direção da Fan Fest. Usava um chapéu que podia revelar tanto uma medusa verde-amarela quanto um Pierrô tupiniquim, e esbanjava confiança em Neymar & Cia. Nas duas faces, a tinta com as cores da bandeira. Atrás dela, um cordão inteiro de torcedores em busca de telão para ver o jogo.
Quando ela cruzou com o vovô de chapéu de pano e camisa de lantejoulas com as cores nacionais, nem foi preciso que se cumprimentassem. Um logo reconheceu no outro o seu igual. De mãos dadas com a esposa no meio da multidão que serpenteava pelo Calçadão de Copacabana, ele se limitou a sorrir e a dar uma piscadela. Seguiu adiante com seu dever a cumprir: contagiar milhares de torcedores ainda em busca de um hino de guerra pra cantar.
Outro tipo manjadamente alegrão a cruzar o caminho de ambos foi o tiozinho da bicicleta decorada em tons variados de verde-amarelo, dos raios das rodas ao bagageiro e espelhinhos retrovisores.
Tanto faz se em Copacabana, no Alzirão, em suas cidades de origem ou onde o destino os mandar: esses jamais vão deixar sua seleção na mão.
É por eles, e por ela própria, que a mulher sessentona de lábios carnudos vermelhos, bata amarela desbotada, brincos verdes e tiara com as cores da seleção na cabeça, última moda em Copa, faz o apelo dramático:
- Ganha a Copa pra mim, Brasil!
Esses brasileiros merecem uma Copa. E bem mais.
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