06/09/2014
às
6:37
Petrolão
– A lista de Paulo Roberto: esquema corrupto lotado na Petrobras distribuiu
propina durante os governos Lula e Dilma; compra de Pasadena foi fraudulenta;
Lula sabia de tudo. Eduardo Campos era um dos beneficiários. E Dilma? Pois
é…
Entre
2004 e 2012, Paulo Roberto Costa foi diretor de Abastecimento e Refino da
Petrobras. Ocupou, portanto, esse cargo, em sete dos oito anos do governo Lula e
em quase dois do governo Dilma. Ao longo desse tempo, comandou o que pode ser
chamado de “Petrolão” — ou o mensalão da Petrobras. As empreiteiras que faziam
negócio com a estatal pagavam propina ao esquema e o dinheiro era repassado a
políticos. A quais? Paulo Roberto já entregou à Polícia Federal e ao Ministério
Público, num acordo de delação premiada, os nomes de três governadores, de um
ministro de estado, de um ex-ministro, de seis senadores, de 25 deputados e de
um secretário de finanças de um partido. Segundo o engenheiro, Lula sempre soube
de tudo. E, até onde se pode perceber por seu depoimento, talvez a presidente
Dilma — que era a chefona da área de energia do governo Lula e presidente do
Conselho da Petrobras — não vivesse na ignorância. Paulo Roberto diz que a
compra da refinaria de Pasadena foi, sim, fraudulenta e serviu para alimentar o
esquema.
Paulo
Roberto começou a prestar seu depoimento no dia 29 de agosto. Já gravou 42 horas
de conversa. E, tudo indica, está apenas no começo. O Ministério Público Federal
e o STF acompanham a operação, já que a denúncia envolve uma penca de
autoridades com direito a foro especial. O esquema que ele denuncia é
gigantesco. Ainda voltaremos muitas vezes a esse tema. Mas notem como é ridícula
toda aquela conversa sobre financiamento público de campanha. Ainda que isso
existisse, o mecanismo não serviria para impedir que máquinas criminosas se
instalassem em estatais. Se o Brasil quer acabar com boa parte da roubalheira,
deve começar privatizando as empresas públicas. Quais? Todas!
VEJA
teve acesso a parte do depoimento de Paulo Roberto e traz reportagens exclusivas
na edição desta semana, com a lista dos nomes citados por Paulo Roberto. Entre
eles, estão cabeças coroadas da política brasileira, como o ex-governador de
Pernambuco Eduardo Campos, que morreu numa acidente aéreo no dia 13 de agosto, a
governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB), e Sérgio Cabral, ex-governador
do Rio (PMDB). Paulo Roberto acusa ainda Edison Lobão, atual ministro das Minas
e Energia, e atinge o coração do Congresso: estão em sua lista os presidente da
Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), e do Senado, Renan Calheiros
(PMDB-AL).
PT,
PMDB e PP seriam os três beneficiários do esquema, que teria também como
contemplados os senadores Ciro Nogueira (PP-PI) e Romero Jucá (PMDB-RR), e os
deputados petistas João Pizzolatti (SC) e Candido Vaccarezza (SP), que já havia
aparecido como um dos políticos envolvidos com o doleiro Alberto Youssef, que
era quem viabilizava as operações de distribuição de dinheiro. Mas há muitos
outros, como vocês poderão constatar nas reportagens de VEJA, como Mário
Negromonte, ex-ministro das Cidades, do PP da Bahia.
Lula
e Dilma não quiseram se pronunciar a respeito. Os demais negam envolvimento com
Paulo Roberto. Alves, o presidente da Câmara, chega a dizer ao repudiar a
acusação: “A Petrobras é petista”. Que o PT estivesse no centro do esquema, isso
parece inegável. Um dos nomes da lista feita pelo engenheiro é João Vaccari
Neto, o homem que cuida do dinheiro do PT. É secretário de Finanças do partido.
Ele é, vejam a ironia da coisa, o substituto de Delúbio Soares. Não é a primeira
fez que seu nome frequenta o rol de envolvidos em escândalos.
Paulo
Roberto tem noção da gravidade de suas acusações. Tanto é que, quando ainda
hesitava em fazer a delação premiada, cravou a frase: “Se eu falar, não vai ter
eleição”.
E
por que falou? A interlocutores, ele diz que não quer acabar como Marcos
Valério, que ficará por muitos anos na cadeia, enquanto os chefões políticos do
mensalão já se preparam para viver dias felizes fora do xadrez. O homem também
está muito magoado com a presidente Dilma. Até agora, ele não fez nenhuma
acusação direta à candidata do PT à reeleição — Lula não escapou —, mas deixa
claro que ela foi, sim, politicamente beneficiada pelo propinoduto, que mantinha
feliz a base aliada.
Qual
vai ser o desdobramento político disso? Vamos ver. Uma coisa é certa: as
revelações de Paulo Roberto atingem em cheio as duas candidatas que lideram a
disputa pela Presidência da República: Dilma, por razões óbvias, e Marina, por
razões menos óbvias, mas ainda assim evidentes. Ela é a atual candidata do PSB à
Presidência. Confirmadas as acusações de Paulo Roberto, é de se supor que o
esquema ajudou a financiar as ambições políticas de Campos, de que ela se tornou
a herdeira.
A
situação de Dilma, obviamente, é mais grave: afinal, ela era a czarina do setor
energético, ao qual pertence a Petrobras. Presidia também o seu conselho. Deu um
empregão para Nestor Cerveró, o homem que ajudou a viabilizar a compra de
Pasadena, que Paulo Roberto agora diz ter sido fraudulenta. O chefão das
finanças de seu partido é um dos implicados no esquema.
Paulo
Roberto ainda está preso. Ele se comprometeu a abrir mão dos bens que acumulou
em razão do esquema fraudulento e a pagar uma multa. As pessoas que atuam na
investigação têm agora de confrontar suas informações com outras provas
colhidas, com o objetivo de verificar se suas informações são procedentes. Se
forem e se ele realmente ajudar a desbaratar um esquema de falcatruas
bilionárias, pode ser até ganhar a liberdade.
A
República treme.
Por
Reinaldo Azevedo
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