sexta-feira, 5 de setembro de 2014

"ESCREVIA PARA NÃO FICAR DOIDO."

'Escrevia para não ficar doido', diz ex-morador de rua que virou escritor

UOL Educação - 21/08/2014


Sebastião Nicomedes de Oliveira, 45, diz já ter feito `de tudo um pouco nessa vida`. Já colheu algodão, foi cobrador de ônibus, trabalhou em restaurante, foi zelador de uma igreja, fabricou placas e letreiros. Mas, só durante o tempo em que morou na rua, ele descobriu um de seus maiores talentos: a escrita.

`Escrever era um desabafo na época.Tinha medo de enlouquecer de vez, escrevia para não ficar doido. Escrever me ajudou a enfrentar as dificuldades da rua e elas não foram poucas`, lembra.

`Eu sempre gostei de ler e costumo ler muito, sabe. Gosto de Machado de Assis, Graciliano Ramos`. Para aqueles que gostam de literatura e desejam escrever bem, Sebastião diz que o segredo é `ler de tudo. Ler jornais, revistas, livros e até gibis. E fazer rascunhos também. Faço isso o tempo todo.`

Vida na rua

O escritor foi parar nas ruas depois de um acidente grave de trabalho, em 2003. Enquanto instalava uma placa luminosa – na época ele era dono de uma empresa de comunicação visual –, caiu de um andaime a uma altura de cerca de seis metros. Além das fraturas e uma placa de platina no punho esquerdo, ele ainda enfrentou o sumiço da noiva e a descoberta de que seus companheiros de trabalho o haviam roubado.

Chamado de `poeta das ruas`, Sebastião já publicou um livro de poesias e crônicas, chamado `Cátia, Simone e Outras Marvadas` (2007), e escreveu a peça `Diário dum Carroceiro`, sobre a vida de um catador, que foi montada em 2006 e rodou algumas regiões do Brasil.

As duas obras foram escritas nos quatro anos em que Sebastião se dividia entre a rua, albergues e pensões da cidade de São Paulo. Para ele, as inspirações vieram de tudo que observava ao seu redor. `Catando latinha por aí acabei catando lápis e caneta e comecei a escrever. Acabou surgindo aí a ideia do `Diário dum Carroceiro`.`

O escritor nasceu em Assis (SP) e só cursou até a 8ª série do ensino fundamental. Diz não ter voltado aos estudos por achar `que não conseguia mais ficar parado na escola`. Apesar do afastamento dos bancos escolares, Sebastião faz questão de ressaltar que acredita no poder da educação.

Engajamento

Com a repercussão de seu trabalho e da experiência como morador de rua, o escritor conheceu e passou a integrar alguns movimentos sociais – como o dos catadores de materiais recicláveis e o de moradores de rua.

Atualmente, Sebastião fica dividido entre São Paulo – na pensão de um amigo – e Caraguatatuba, onde conseguiu comprar uma casa. Sua fonte de renda é o artesanato. Porém, não deixou o gosto pela escrita de lado. Ele pretende lançar um novo livro, assim que possível. Seu próximo título também retrata a vida na rua.

`Estou fabricando uns barquinhos de madeira e estou no propósito de vender 200 pra custear a publicação`, conta o ex-morador de rua que não tem editora em vista para seu livro.

Outro projeto que o escritor está envolvido é a organização de um festival de música para pessoas em situação de rua, em parceria com o Sindicato dos Músicos do Brasil. `O festival vai ser a oportunidade que muita gente sonhou. Um presente. O pessoal discute muita política, querem trabalho, querem moradia, mas eles [moradores de rua] também precisam de lazer e de cultura.`

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