A
"medicalização" interesseira da vida
Ray
Moynihan, Alain Wasmes
A
flexibilização da regulação da publicidade no final dos anos 1990, nos Estados
Unidos, traduziu-se em um avanço sem precedentes do marketing farmacêutico
dirigido a "toda e qualquer pessoa do mundo". O público foi submetido, a partir
de então, a uma média de dez ou mais mensagens publicitárias por dia. O lobby
farmacêutico gostaria de impor o mesmo tipo de desregulamentação em outros
lugares.
Há mais de trinta anos, um livre pensador de nome
Ivan Illich* deu o sinal de alerta, afirmando que a expansão do
establishment médico estava prestes a "medicalizar" a própria
vida, minando a capacidade das pessoas enfrentarem a realidade do sofrimento e
da morte, e transformando um enorme número de cidadãos comuns em doentes. Ele
criticava o sistema médico, "que pretende ter autoridade sobre as pessoas que
ainda não estão doentes, sobre as pessoas de quem não se pode racionalmente
esperar a cura, sobre as pessoas para quem os remédios receitados pelos médicos
se revelam no mínimo tão eficazes quanto os oferecidos pelos tios e tias [2]
".
Mais
recentemente, Lynn Payer, uma redatora médica, descreveu um processo que
denominou "a venda de doenças": ou seja, o modo como os médicos e as empresas
farmacêuticas ampliam sem necessidade as definições das doenças, de modo a
receber mais pacientes e comercializar mais medicamentos [3]. Esses textos
tornaram-se cada vez mais pertinentes, à medida que aumenta o rugido do
marketing e que se consolidam as garras das multinacionais sobre o sistema de
saúde.
Nenhum comentário:
Postar um comentário